13 DE AGOSTO – DIA DE SÃO JOÃO BERCHMANS
Êmulo de São Luiz Gonzaga, noviço jesuíta de uma pureza angélica, obtinha a força para preservá-la em sua devoção à Virgem das Virgens, cuja Conceição Imaculada fez voto de defender.
A vida de São João Berchmans foi de tanta regularidade no cumprimento dos deveres e tão constante no progresso da virtude, que se tem a impressão de que não pagou ônus ao pecado original. Seus biógrafos são unânimes em afirmar que ele “soube converter o comum em extraordinário, e o vulgar em heroico com base num constante esforço interior”,(1) na procura de fazer sempre o que fosse da maior glória a Deus.
“Cheio de graça e de uma beleza angélica”
São João Berchmans nasceu em Diest, no Brabante belga, a 13 de março de 1599, primogênito de cinco filhos. Seus pais foram João Carlos Berchmans, curtidor e sapateiro, e Isabel Vanden Hove, que puseram grande empenho em educar os filhos nas virtudes cristãs, sobretudo o primogênito, que dava mostras das melhores qualidades.
De João Berchmans dizem os biógrafos: “Cheio de graça e de uma beleza angélica […] a gravidade de seu porte inspirava já o respeito. Ao vê-lo, não se podia deixar de pensar no divino Menino de Nazaré, que sua mãe ensinava a conhecer e imitar”.(2) “Ele era naturalmente bondoso, gentil e afetuoso para com os pais, favorito entre os companheiros de folguedo, bravo e acessível, atraente no modo de ser, e com uma brilhante e alegre disposição”.(3)
Aos sete anos de idade, João começou seus estudos primários. Mas antes de se dirigir à escola, ia muito cedo à igreja local, onde ajudava três missas“para que o bom Deus me concedesse a graça de aprender e de reter melhor minhas lições”.(4)
Quando ele tinha nove anos, uma longa e dolorosa doença prostrou sua mãe no leito. Todos os dias, voltando da escola, ia fazer-lhe companhia, para consolá-la e animá-la a pensar na recompensa que teria no Céu por seus sofrimentos bem aceitos.
Aos 16 anos, por causa da extrema pobreza dos pais, ele foi tirado da escola, para aprender algum ofício e ajudar a família. João então prostrou-se aos pés do pai e suplicou-lhe que não o impedisse de seguir a carreira sacerdotal, pois se contentaria apenas com pão e água. Comovido, o pai o colocou como criado de um virtuoso cônego de Malines, que coincidentemente procurava um clérigo pobre disposto a servir-lhe de criado, podendo continuar a frequentar, como externo, o seminário.
Bebeu com o leite materno a devoção mariana
Em 1615 os jesuítas fundaram um colégio em Malines, no qual João foi admitido. Era ainda o grande tempo da Companhia de Jesus. Logo os professores viram o tesouro que receberam.
Mas eles tinham dificuldade em descrever em João, “essa mescla incomparável de inocência, recolhimento, ardor no estudo e amabilidade cheia de encanto que lhe conquistou, desde os primeiros dias, o coração e o respeito de todos seus novos condiscípulos”.(5)
Tendo conhecimento da vida santa do então beato Luiz Gonzaga, João se propôs a tomá-lo como modelo. Ambicionava também seguir os passos do Pe. Pedro Canísio (beatificado em 1864 e canonizado em 1925), que arrancara ao protestantismo grande parte da Alemanha com suas pregações e trabalhos apostólicos.
Pode-se dizer que João Berchmans bebeu a devoção a Nossa Senhora no leite materno. Desde a idade de sete anos, ele rezava diariamente o rosário e ia em peregrinação a um seu santuário a uma légua de distância. Crescendo, “não poupava nada para fazer com que todas suas palavras e todos seus atos fossem verdadeiramente dignos, por sua perfeição, de serem agradáveis à Rainha dos Anjos”.(6)
No colégio dos jesuítas ele ingressou na Congregação Mariana e, para melhor servir a Nossa Senhora, no início de cada mês procurava seu diretor pedindo-lhe para indicar a virtude que deveria praticar e o defeito que deveria combater especialmente em honra d’Ela. Foi aí que passou também a rezar diariamente o Ofício Parvo.
Estudo de filosofia no Colégio Romano
A leitura dos feitos de São Francisco Xavier no Extremo Oriente, a vida de Santo Edmundo Campion em meio às torturas e o patíbulo, na Inglaterra, e os atos heroicos de São José de Anchieta no Brasil, inflamavam o seu zelo. Ele se propunha a imitar seus feitos, principalmente prestando assistência aos soldados católicos nos campos de batalha e nos hospitais, bem como procurando converter os heréticos.
No dia 24 de setembro de 1616, festa de Nossa Senhora das Mercês, João Berchmans entrou no noviciado da Companhia de Jesus em Malines. Dois anos mais tarde, fez os votos religiosos e partiu para a Cidade Eterna a fim de estudar filosofia no Colégio Romano.
Um dos seus professores declarou que “era tão grande seu ardor e sua aplicação, que creio que era impossível suplantá-lo nesse ponto. E eu mesmo não conheci alguém que pudesse, a meu juízo, comparar-se a ele. […] ‘O saber de um religioso da Companhia não deveria ser, dizia-me ele, o suficientemente vasto para suprir a metade de um mundo?’ Mas, ao mesmo tempo, eu admirava nele um candor e uma docilidade incomparáveis a prestar as contas mais fiéis de tudo que fazia ou se propunha a fazer nesse gênero, prestes a deixar, ao primeiro sinal, tudo o que não tivesse sido aprovado por aqueles que para ele ocupavam o lugar de Deus”.(7) A isso acrescentava: “Vim à religião não para estar ocioso, mas para trabalhar. Os hereges põem tanto cuidado em impugnar a Cristo, e eu serei remisso em defendê-lo? Os seculares estudam com tanto trabalho e atenção por prêmios inúteis e vãos da honra humana, e hei de ser menos desejoso da glória divina do que eles em seu próprio louvor?”.(8)
Por causa de sua delicada saúde, foi-lhe dado o ofício de preparar os lampiões destinados ao serviço da comunidade no Colégio Romano. A isso ele se entregava com fervor, pois tinha sido a mesma ocupação conferida a São Luiz Gonzaga. Entretanto, nas férias, sua ocupação preferida consistia em ir a algum hospital servir os enfermos com as doenças mais repugnantes à natureza.
Na sua pureza, obediência e admirável caridade, João Berchmans assemelhava-se a muitos religiosos, mas suplantava-os em seu imenso amor às regras de sua Ordem. Com efeito, o Papa Júlio III e alguns de seus sucessores afirmaram que “as Constituições da Companhia de Jesus levam aqueles que as observam com exatidão ao mais alto grau de santidade”. Daí o empenho de João Berchmans, que afirmava: “Se eu não me torno santo enquanto sou jovem, eu nunca o serei”.(9)
Voto de defender a Imaculada Conceição
A Imaculada Conceição da Virgem Santíssima era uma verdade conhecida e propagada, mas ainda não havia sido definida como dogma. E João Berchmans, que crescia a cada dia na devoção à Santíssima Mãe de Deus, “obrigou-se, diante do Santíssimo Sacramento, a defender a sua Puríssima Conceição mediante cédula assinada por ele, que assim dizia: ‘Eu, João Berchmans, indigníssimo filho da Companhia de Jesus, prometo a Vós, Senhora, e a vosso benditíssimo Filho presente no Santíssimo Sacramento, que confessarei sempre e defenderei vossa Imaculada Conceição, a não ser que a Igreja defina o contrário’”.(10) Transcorreram mais de 200 anos para que essa tão fundamental e consoladora verdade fosse declarada dogma de fé.
Contrariando as mais caras esperanças de seus mestres pelo seu futuro, João Berchmans contraiu uma grave doença pulmonar que abreviaria seus dias. Um dos médicos mais hábeis de Roma, chamado para examiná-lo, afirmou: “Essa doença é toda divina! Nossos remédios nada podem contra ela”. Quando foi comunicado ao doente seu gravíssimo estado, ele disse ao irmão que lhe dava a notícia: “Ah, meu caro irmão! Regozijai-vos então comigo, pois eis bem aí a melhor notícia e a mais doce consolação que vos era possível me dar”.(11)
Deitado no chão e revestido do hábito
São João Berchmans pediu para receber o viático deitado no chão, revestido do hábito jesuíta. Fez então sua profissão de fé, dizendo que morria como verdadeiro filho da Companhia de Jesus e da bem-aventurada Virgem Maria.
Aos que iam a seu quarto recomendar-se às suas orações, “a todos, sem exceção, o bem-aventurado, sempre sorrindo, recomendava instantemente três coisas: uma ternura filial pela Santíssima Virgem Maria, um grande amor à oração, e a mais inalterável fidelidade a todas as regras da Companhia. Depois juntava, em algumas palavras, alguns conselhos particulares, segundo o estado de alma de cada um, fazendo bem ver, segundo o depoimento expresso de muitos, que ele lia claramente o fundo de suas almas”.(12)
Em seus últimos momentos o demônio tentou-o mais rudemente. João Berchmans repetiu então cerca de quarenta vezes o grito: “Retira-te Satanás, eu não te temo”. E pediu então “suas armas”: o crucifixo, o terço e as regras da Companhia: “Com eles eu morro sem pena”. Assim, no dia 13 de agosto de 1621, aos 22 anos de idade, esse valente soldado de Jesus Cristo e de sua Santa Mãe entregou sua alma ao Criador.
Tão logo seu corpo foi levado à igreja, a devoção popular começou a honrá-lo como santo. A Bélgica rivalizava com Roma para honrar a sua memória, e a Alemanha o invocava com mais entusiasmo do que a Itália. Entretanto, seu processo de canonização infelizmente foi suspenso, devido à supressão da Companhia de Jesus. Sua beatificação só se deu em 15 de maio de 1865, pelo bem-aventurado Pio IX. Vinte e três anos depois, em 15 de janeiro de 1888, Leão XIII o canonizou. Padroeiro secundário da juventude com São Luiz Gonzaga, sua festividade é celebrada no dia 26 de novembro*.
* De acordo com nossas pesquisas, inclusive junto ao site Vatican News (cf. https://www.vaticannews.va/pt/santo-do-dia/08/13/s–joao-berchmans–jesuita.html ), sua festa é celebrada no dia de hoje.
__________Plinio Maria Solimeo
ORAÇÃO A SÃO JOÃO BERCHMANS
Ó Deus, que conduzistes o vosso confessor São João a uma admirável santidade pela perfeita observância da regularidade religiosa e inocência de vida, concedei-nos pelos seus merecimentos e intercessão a graça de observarmos fielmente as vossas leis e adquirirmos a pureza da alma e do corpo. Assim seja.
_______Notas (da fonte):
1. Pe. José Leite, S.J., Santos de Cada Dia, Editorial A. O., Braga, 1987, tomo III, p. 355.
2. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo IX, p. 513.
3. H. Demain, St. John Berchmans, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition.
4. Bollandistes, p. 513.
5. Id. p. 514.
6. Id. p. 515.
7. Id. p. 520.
8. Pe. Juan Croisset, S.J., Año Cristiano, Saturnino Calleja, Madri, 1901, tomo III, p. 476.
9. H. Demain, The Catholic Encyclopedia.
10. Croisset, p. 475.
11. Bollandistes, p. 528.
12. Id. ib.
(Fontes: 1. texto: revista Catolicismo – Novembro de 2014, obtida no site Catolicismo.com.br – Alguns destaques acrescido; 2. oração: livro As Mais Belas Orações de Santo Afonso, Coordenadas pelo Pe. Saint-Omer, Redentorista e traduzidas para o português por D. Joaquim Silvério de Sousa, Editora Vozes/1961, “Devoção aos Santos”, pp. 522-523 – Texto revisto e atualizado)