15 DE AGOSTO – FESTA DA ASSUNÇÃO DE MARIA AO CÉU EM CORPO E ALMA

15 DE AGOSTO – FESTA DA ASSUNÇÃO DE MARIA AO CÉU EM CORPO E ALMA

(Leituras da Missa – Epístola: Eclesiástico 24, 11-13 e 15-20; Evangelho: Lucas 10, 38-42 – Rito Tradicional)

A VIRGEM GLORIOSA

No dia da gloriosa assunção de Maria, a Igreja faz recitar o Evangelho de Marta e Maria, que parece não ter relação com o mistério da festa.

Desenganemo-nos. Marta e Madalena são duas irmãs, duas santas, cujas vidas simbolizam a lida da terra e a contemplação do céu.

Marta é o símbolo da atividade terrestre.

Maria Madalena é o símbolo da contemplação celeste.

O Salvador não censura Marta pela atividade; mas diz que a parte escolhida por Madalena é a melhor.

A vida é de trabalho, é de luta: é uma necessidade.

O céu é a possessão de Deus: é a recompensa; ora, a recompensa vale mais do que o trabalho: o céu vale mais do que a terra.

No dia da sua assunção, Maria Santíssima toma posse de seu trono na glória. É a melhor parte que não lhe será tirada, como é tirada aos homens a parte da vida terrena.

Meditemos hoje sobre esta sublime prerrogativa da Mãe de Jesus, considerando.

I – O fato histórico da Assunção.

II – Os pormenores deste fato.

I – O FATO HISTÓRICO

A assunção é a festa que nos lembra Maria Santíssima levada para o céu, em corpo e alma.

A diferença entre a ascensão e a assunção como o termo exprime, é que Jesus Cristo subiu ao céu pelo seu próprio poder, e que Maria foi levada ao céu pelo poder divino.

Esta verdade não é dogma de fé, estando apenas implicitamente contida no Evangelho porém está explicitamente na tradição e sempre foi reconhecida pela autoridade da Igreja(*).

Eis, em resumo, o que dizem os Santos e os Doutores da primitiva Igreja a este respeito:

Na ocasião de Pentecostes, Maria Santíssima tinha mais ou menos 47 anos de idade.

Permaneceu ainda 25 anos na terra, para formar e educar, por assim dizer, a Igreja nascente, como outrora ela dirigira a infância do Filho de Deus.

Terminou a sua carreira mortal na idade de 72 anos.

A Sua morte foi suave, como o tinha sido a sua vida: Ela vivera de amor; devia morrer de amor.

Os Apóstolos que ainda não haviam sofrido o martírio foram, salvo S. Tomé, milagrosamente transportados das diversas partes do mundo, onde estavam pregando o Evangelho, para assistirem à morte da Mãe de Jesus, e serem testemunhas da sua ressurreição.

Aí estavam S. Pedro e S. João com os outros Apóstolos e diversos discípulos entre os quais Dionísio Areopagita, São Timóteo e o Bem-aventurado Hieroteu.

Maria Santíssima os abençoou uma última vez, consolando-os, e recebeu das mãos de São Pedro o adorável Sacramento da Eucaristia, que até este dia, havia recebido diariamente das mãos de São João.

Depois, sem moléstia, sem sofrimento, sem agonia, entregou sua alma, toda abrasada de amor, nas mãos de seu Criador e Filho.

Nesta ocasião, diversos ressuscitaram; cegos, paralíticos, enfermos de toda espécie, foram repentinamente curados ao contato do corpo de Maria.

Os Apóstolos sepultaram o corpo com uma veneração de filhos amorosos, envolvendo-o em alvas mortalhas; uma multidão de fiéis seguiram-nos, quando foram depositar no túmulo as relíquias preciosas da Mãe de Deus.

Fecharam-no com uma grande pedra em forma de porta como era costume naquele tempo.

Três dias depois chegou o Apóstolo S. Tomé, vindo das índias, onde estava pregando o Evangelho, e que a Providência parece ter afastado, para melhor manifestar a glória de Maria, como outrora o havia afastado da reunião dos Apóstolos, quando Jesus lhes aparecera no Cenáculo, a fim de manifestar sua ressurreição.

Tomé pediu com instância permissão para poder contemplar uma última vez, o semblante augusto da Mãe de Deus.

São Pedro, São João e outros Apóstolos sentiram-se felizes em acederem a este desejo, que também era o seu.

Quebraram os selos da pedra. Abriram o sepulcro, mas oh! prodígio no lugar onde tinham sido depositados por eles mesmos, os despojos mortais de Maria Santíssima, não o encontraram senão as mortalhas, cuidadosamente dobradas.

Um perfume de uma suavidade celestial exalava-se do túmulo.

Como seu Filho, e pela virtude d’Ele, a Virgem ressuscitara no terceiro dia.

Nada é mais autêntico do que estas antigas tradições da Igreja sobre o mistério da ressurreição da Mãe de Jesus.

Encontram-se estas narrações nos escritos dos Santos Padres e Doutores da Igreja dos primeiros séculos, e são relatados no Concílio geral de Calcedônia, em 451.

II – PORMENORES DO FATO

Há 4 partes a lembrar na festa da Assunção:

  • A morte de Maria Santíssima.

  • A sua ressurreição.

  • A sua Assunção ao Céu.

  • A sua coroação na glória.

Indiquemos uns pormenores destas quatro partes.

A morte.

A morte é o castigo do pecado: stipendia peccati mors, diz o Apóstolo (Rom. VI, 23).

Ora, Maria havia sido preservada de todo pecado. Logo, não devia morrer.

O raciocínio é exato, porém, uma distinção se impõe.

Pode-se considerar a morte do homem sob um duplo aspecto:

a) Como consequência natural da constituição de seu corpo, composto de elementos desagregáveis.

b) Como consequência do pecado original.

Se Adão não tivesse pecado, o homem, por um privilégio especial teria tido uma vida perpétua, pois o fruto da árvore da vida teria impedido a desagregação de seus elementos componentes.

Adão, pecando, tal privilégio lhe foi retirado.

Maria, não obstante a sua Imaculada Conceição, não tinha mais o fruto da árvore da vida, e como tal, ficou sujeita à morte.

Acredita-se, entretanto, que, por um privilégio particular, Deus lhe havia dado o poder de não morrer, se assim o preferisse.

Era privilégio, não era um direito; e Maria não quis fazer uso dele, para melhor assemelhar-se a seu divino Filho.

Quis morrer e morrer de amor.

O amor tem uma tríplice influência em nossa morte.

Todos os homens devem morrer no amor, isto é, na graça divina, do contrário não há salvação.

Outros morrem por amor, são os heróis, os mártires.

Maria morreu de amor; isto é, o amor foi a causa da sua morte.

Como Mãe dos homens, Maria morreu no amor.

Como Rainha dos Mártires, morreu por amor.

Como Mãe de Deus, devia morrer de amor.

* * *

A RESSURREIÇÃO

Não existem provas sensíveis, explícitas, desta ressurreição, porém há muitas provas implícitas de autoridade.

Os Apóstolos ao abrirem o túmulo intacto, onde eles mesmos haviam depositado o corpo da Virgem Santa, não encontrando mais. Concluíram pela sua ressurreição, e isto por muitas razões.

Não era preciso ver Maria ressuscitada e glorificada, para crer na realidade do fato.

A desaparição do corpo – as circunstâncias celestes da sua morte – a sua dignidade de Mãe de Deus – a sua santidade – sua união com o Redentor – a sua Imaculada Conceição, tudo isto constitui uma prova irrefutável da sua ressurreição.

Há, sobretudo, seis argumentos com que os teólogos provam a ressurreição de Maria:

O pecado e a morte são a s duas portas da vida atual.

Ora, Maria entrou na vida sem passar pela porta do pecado. Logo, devia sair dela sem passar pela porta da morte.

A morte deve ser o eco da vida.

O que Deus faz nascer incorruptível. deve permanecer incorruptível;

Ora. Maria nasceu incorruptível. Logo, devia permanecê-lo após a morte.

O princípio de incorruptibilidade não pode estar sujeito à corruptibilidade, diz São Bernardo. Ora, Maria é o princípio da incorruptibilidade do corpo de Jesus. Logo, ela mesma devia ficar incorruptível.

Jesus Cristo devia fazer para sua Mãe o que nós faríamos para a nossa se o pudéssemos. Ora, qual de nós deixaria sua genitora entregue ao túmulo? Logo. Jesus Cristo devia ressuscitar sua Mãe.

A graça. o amor e a glória são correlativos. Ora, a graça e o amor o foram durante a vida em Jesus e Maria.

Logo, a glória devia sê-lo na morte.

Ora, Maria foi igual na vida. Logo devia sê-lo na morte.

A ASSUNÇÃO

O corpo da Virgem Santíssima após a sua ressurreição, não ficou na terra.

A Assunção é como a consequência da Encarnação do Verbo.

A Virgem Imaculada recebeu outrora a Jesus em seio virginal – é justo que Jesus receba agora a sua Mãe no seio de sua glória.

Na terra, Jesus e Maria ficaram sempre unidos, corpo e alma. Durante nove meses de uma união física, o resto da vida de modo místico e agora no céu, de modo glorioso.

A COROAÇÃO

Deus devia coroar na glória aquela que já coroara na terra, e devia conservá-la perto de si no céu, como a conservara perto de si na terra.

O Padre Eterno coroou a sua Filha amada.

O Filho coroou a sua Mãe querida.

O Espírito Santo coroou a sua esposa predileta.

Tríplice coroação que devia corresponder às três prerrogativas de Maria:

A dignidade de Mãe de Deus.

As graças recebidas durante a vida.

Aos méritos acumulados pelas suas virtudes.

III – CONCLUSÃO

Eis o que significa a solenidade da Assunção de Maria Santíssima.

Maria Santíssima morreu, é um fato, porém não é um efeito. Ela morreu de amor pelo seu Filho querido, como Este havia morrido de amor pelos homens.

Ela ressuscitou porque o seu corpo imaculado não podia ser tocado. menos ainda ser destruído pela corrupção do túmulo.

Subiu ao céu, porque sendo a Rainha do céu e da terra, devia tornar posse de seu trono glorioso, em corpo e alma.

Foi coroada pela Santíssima Trindade com um coroa de glória que significa a plenitude da glória, pois, a plenitude de graças e a plenitude de méritos exigem a plenitude da glória.

Oh! Neste dia levantemos os olhos para a Virgem Santa; ela é grande, é Mãe e Deus.

Ela é também terna, é nossa Mãe.

Nós também teremos que morrer.

Ressuscitaremos no último dia.

Possamos, como Maria, subir ao céu.

Possamos um dia contemplar sua glória e receber das mãos de seu Jesus a coroa dos predestinados.

Para isto: amemos Maria.

Consagremos-nos a Maria.

Imitemos a Maria.

(*) Quando vivia o autor (Pe. Júlio Maria), ainda não havia sido proclamado Dogma. Somente a 1.º de novembro do ano Santo de 1950, S.S. o Papa Pio XII, assistido pelo Espírito Santo, proclamou o Dogma da Assunção. ( Nota da Redação)

(Fonte: in O Evangelho das Festas Litúrgicas e dos Santos Mais Populares, Pe. Júlio Maria Lombaerde, Editora O Lutador, 2ª edição/1952, 49ª Instrução, pp. 278-284 – Texto revisto e atualizado)

Sou Todo Teu Maria: “Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo.” (São Luis Maria de Montfort)