2 DE FEVEREIRO – FESTA DA APRESENTAÇÃO DO SENHOR E DA PURIFICAÇÃO DE MARIA
OS DOIS MISTÉRIOS
Meditando bem o Evangelho desta festa, encontramos nele a expressão nítida de três grandes mistérios, que se unem num único, que a Igreja chama a “apresentação de Jesus no templo”, mas que no fundo inclui tudo o que há de mais tocante e sublime na religião.
De fato, temos diante de nós: um Homem-Deus oferecido a Deus; o Soberano Sacerdote da nova aliança num estado de vítima; o Redentor do mundo resgatado; uma virgem purificada; e enfim: uma mãe imolando o seu filho. Quantos prodígios na ordem da graça!
Entre estes grandes mistérios, escolhamos os dois primeiros para meditá-los. Estes dois mistérios são:
I – A apresentação de Jesus no templo
II – A purificação da Mãe de Jesus
1 – A APRESENTAÇÃO DE JESUS
Nada mais simples, em aparência, do que a narração do Evangelho, mas, nada mais sublime na realidade: Maria indo ao templo para ser purificada e oferecer a Deus o seu Filho querido.
A narração evangélica é de uma simplicidade encantadora.
Para compreendê-la bem, é mister lembrar aqui duas leis dadas outrora por Deus a Moisés, e que São Lucas menciona.
A primeira é a do Levítico: “A mulher que der à luz um filho, abster-se-á de aparecer no templo, por 40 dias.
No quadragésimo dia, apresentará ao sacrifício um cordeiro de um ano e uma rola, como oferta pelo pecado. Se não puder ser um cordeiro, oferecerá duas rolas. O sacrificador orará por ela, e assim ficará purificada” (Levítico XII).
A segunda lei é a do Êxodo, que diz: “Os primogênitos lhe devem ser consagrados, e resgatados com 5 ciclos de prata” (Êxodo XIII).
Conhecendo estas duas leis compreende-se a narração evangélica. Limita-se a patentear que Maria se submeteu à purificação, e que Jesus, por Maria, sujeitou-se à apresentação, como sendo a coisa mais natural e comum. De fato, nada há mais natural. Porém, é ordinário do mesmo modo, como Maria deu à luz o seu filho Jesus, o envolveu de paninhos e o deitou no presépio.
Tanto no fato, como no modo de contá-lo, é a continuação dos acontecimentos ordinários da vida humana, em Jesus e Maria.
Querendo, entretanto, que estes mesmos acontecimentos, tão comuns, se tornem mais extraordinários possível, basta considerar que este menino, que se faz apresentar e resgatar pela sua Mãe é o Filho de Deus, o Santo dos santos, o Redentor do mundo; e que esta mãe, que se faz purificar, é a Virgem das virgens, a Rainha dos anjos, a Mãe de Deus.
As duas leis citadas diziam respeito a todas as mães, menos à Mãe de Deus, e a todos os primogênitos, menos ao Menino-Deus.
Evidentemente, aquela que do Espírito Santo concebera e dera à luz o Santo dos Santos, não tinha que purificar-se de mancha nenhuma; e aquele que nascera para remir o mundo, não tinha precisão de resgate.
2 – PURIFICAÇÃO DE MARIA
Que prodígio de discrição, de submissão e de humildade se nos apresenta na pessoa da Mãe de Jesus.
Após todas as honras que recebera do Anjo, de Isabel, dos pastores e dos Magos, após o hino cantado por ela mesma, das suas grandezas; da vista profética das homenagens que havia de receber através dos séculos, ela, a mulher bendita entre todas as mulheres, submete-se à humilhação comum das outras mulheres! É simplesmente espantoso!
Por que não rediz ela nesse momento que Deus fez nela grandes coisas; que era Bem-aventurada; bendita como era bendito o fruto de seu seio? Porque Maria não exclama que veio trazer ao mundo a purificação, longe de procurá-la? Que veio apresentar o resgate do mundo, longe de resgatar o seu filho?
Ao primeiro aspecto parece que o seu silêncio prejudica a divindade de Jesus Cristo; pois fazendo-o passar como filho do homem, ela parece desmentir tantos milagres e profecias, que o proclamaram o Filho de Deus! Assim teria raciocinado qualquer outra criatura, que não fosse Maria, mas aqui tudo é divino. E o que é divino é sempre simples e sem ostentação.
Nada, pois, devemos esperar de Maria senão um proceder simples, como convém a sua humildade, em tudo o que diz respeito a ela mesma.
Numa união maravilhosa com o espírito de humildade e de sacrifício de seu divino Filho, ela esconde todas as suas grandezas, encobre toda a sua glória, para rebaixar-se e sujeitar-se às mais humilhantes prescrições!
Ela, que outrora, como simples menina, desconhecida por si mesma, como o era pelo mundo, ciosa de conservar o seu voto de castidade, havia tido a audácia de discutir com o Arcanjo, que lhe anunciara sua elevação à dignidade de Mãe de Deus, dizendo que não conhecia varão – virum non cognosco! (Lucas 1, 3-4 ) esta mesma virgem feita Mãe de Deus, da altura da divina maternidade, como da altura desta virgindade, desce, abaixa-se até parecer perante os homens, despojada desta dupla glória.
Oh! sim, é uma virtude quase incompreensível! É a glória das glórias: a da humildade.
Neste simples ato vulgar, comum, aos olhos do mundo, Maria eleva-se a uma altura, que desconcerta o espírito humano. Recolhamos apenas este contraste singular: Maria professa a virgindade ao ponto de sacrificar-lhe a honra e tornar-se Mãe de Deus; pratica a humildade a ponto de sacrificar-lhe a honra desta mesma virgindade. Deste modo, a Virgem Santa sai desta purificação, de que não precisava, mais pura, mais virgem, mais digna Mãe de Deus, porque praticou o que a humildade tem de mais elevado e de mais profundo.
3 – CONCLUSÃO
Procuremos entrar nas disposições de Maria Santíssima neste duplo mistério da festa: a apresentação de Jesus e a sua própria purificação.
Vendo nela obediência tão exata a uma lei, que não lhe dizia respeito, aprendamos deste sublime modelo, a obedecer pontualmente a todas as práticas, que nos são prescritas pela lei divina, eclesiástica ou deveres de estado. Não podemos subtrair-nos sem pecado. A lei é feita para todos.
As prerrogativas da dignidade, da posição, do nascimento, não dão o direito de dispensar-se dela.
Qual criatura foi maior e mais elevada do que Maria? Entretanto ela obedece a uma lei, que não a obrigava. E nós pobres pecadores, queríamos dispensar-nos de leis feitas para nós, necessárias à nossa salvação. Como Jesus, ofereçamo-nos a Deus, pelas mãos de Maria, para cumprir a sua vontade!
(Fonte: in, O Evangelho das Festas Litúrgicas e Dos Santos Mais Populares, Pe. Júlio Maria Lombaerd, Editora O Lutador, 2ª edição/1952 20ª Instrução, pp. 96-99 – Texto revisto e atualizado)