Devoção Mariana
24 DE SETEMBRO – FESTA DE NOSSA SENHORA DAS MERCÊS
24 DE SETEMBRO – FESTA DE NOSSA SENHORA DAS MERCÊS
Nossa Senhora das Mercês
Um mundo conturbado e ventos de mudança revelam na Igreja a mercê de Maria.
Dia 24 de Setembro é comemorado o dia de Nossa Senhora das Mercês. Esta é uma das designações atribuídas à Virgem Maria.
Nossa Senhora das Mercês é uma das devoções marianas mais antigas da história da Igreja. É possível que muitos que veneram Maria com este título desconheçam sua origem e seu significado. O título surgiu na Espanha em 1218, quando São Pedro Nolasco, sonhou com a Virgem Maria. No sonho, ela pediu para que eles fundassem uma Ordem Religiosa que tivesse como objetivo libertar os cristãos escravizados pelos muçulmanos. A recém criada Ordem passou a se chamar Ordem dos Mercedários em homenagem a Nossa Senhora das Mercês, também chamada de Santa Maria das Mercês. Este nome equivale à misericórdia de Deus e de Maria na situação de catividade no mundo.
Assim, MERCÊS não é apenas um nome. É uma espiritualidade. Uma mística que ilumina o grandioso e mais belo projeto da Redenção do Homem.
Entremos agora no túnel do tempo. Ao sairmos do outro lado, há quase 800 anos, vamos encontrar um mundo conturbado por lutas de religiosismos agressivos e vingativos: cristãos de um lado, muçulmanos, do outro; o avanço islâmico por uma parte, as famosas cruzadas por outra, com muitos massacres num campo e noutro, muita animosidade e a mensagem evangélica do amor e do perdão ficando cada vez mais distanciada de todos.
De repente, desencadeiam-se ventos de mudança e o Espírito de Deus sopra de novo na sua Igreja, inspirando a atitude da misericórdia, do perdão, do indulto, da MERCÊ de Deus em favor dos seus eleitos, criaturas preciosas que custaram o sangue do seu Cristo.
Surgem então movimentos religiosos que procuram traduzir, na prática, esta Mercê de Deus. Santo Domingos e seu grupo tentam a conquista dos inimigos pela Palavra, em vez da espada; São Francisco e seus companheiros se propõem à entrega de serviços e bens, o despojamento, no lugar da busca louca do dinheiro, tanto por parte do mercantilismo muçulmano, como da burguesia cristã. São Pedro Nolasco com os seus se lançam ao empreendimento mais desafiador, que é enfrentar a astúcia do esquema comercial islâmico, arriscando a própria vida para libertar massas de pessoas caídas na situação de mercadoria humana, forma hedionda de catividade que humilhava, torturava e forçava, na marra, os seguidores de Jesus Cristo a abjurarem da sua crença. O cativeiro era, como haveria de ser sempre, um inferno humano.
Essas três frentes marcaram época e redescobriram para a Igreja sua vocação cristã de caridade e de perdão.
Esta terceira linha de frente coube, como se disse, a um jovem comerciante de Barcelona, chamado Pedro Nolasco. Na qualidade de COMERCIANTE, sabia como lidar com o assunto da compra e venda de MERCADORIAS; o que custava cada produto. Quando percebeu que o mundo da catividade se tornara um espaço de exploração do ser humano, até à mais abominável degradação, Nolasco se sensibilizou com o drama. Jovem cristão e religioso entendia que o HOMEM é uma pérola sagrada da criação, que vale o amor criador de Deus e o amor apaixonado do seu Cristo. Era preciso investir tudo no cativo. Até a vida. E criou na Igreja um movimento religioso com o significativo nome de Ordem de Santa Maria das Mercês da Redenção dos cativos.
Nolasco mexeu no nervo central da teologia bíblica vétero e neo-testamentária: “Escutei o clamor do meu povo e desci para libertá-lo.”(Ex 3,7-8); “O Espírito do Senhor me consagrou; para anunciar a Boa Nova aos pobres; para proclamar a libertação aos presos; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graças do Senhor”. (Lc 4,18-19).
Ele foi fundo na compreensão do homem, vítima de catividade. O homem vale muito. Vale o amor de Deus e a paixão do seu Ungido. Tanto assim que Cristo veio para readquiri-lo. O termo eclesial é REDImi-lo: de REDIMERE= recomprar. Redenção significa recompra, reaquisição, possuir de novo. Jesus é o REDENTOR. “Recordai-vos deste povo que outrora adquiristes, desta porção que remistes para ser vossa herança”. (SI 73..)
E o importante é que, para esta empreitada de redenção dos cativos aparece a própria Mãe de Deus. No dia 10 de agosto de 1218, quando Nolasco orava e buscava saída para o problema, é ela quem vem com a proposta da parte de Deus.
Trata-se de uma das mais antigas aparições de Maria na História da Igreja. Ela é, portanto, a inspiradora da obra da redenção do cativo. É a mensageira, o canal da graça, do favor, do benefício de Deus. Ela vem em seu nome como misericórdia, benignidade e indulgência. É a MERCÊ de Deus em favor dos filhos mais sofridos.
Maria está assim na origem mesmo deste movimento de caridade. E este seu desejo de Mãe é pra valer. Ela vem como chanceler de Deus, para autorizar o mais grandioso negócio, o da compra da liberdade do cativo: REDIMIR: Readquiri-lo de volta, restituir-lhe a dignidade, sua liberdade. Encarnando esta vontade de Deus, Maria é constituída Mercê de Deus em favor do cativo.
Ela se apresenta de vez como luz esplendente que brilha nos porões da treva humana; presença que infunde esperança; aurora rutilante que prenuncia vida nova; força de ressurreição que chama à vida os cativos da morte.
Não podia ser diferente. Afinal ela é Mãe e sabe o quanto custa a vida de cada filho. Ela está interessada em que nenhum se extravie. Que cada um seja respeitado e querido. “Que todos participem da liberdade e da glória dos filhos de Deus” (Rom, 8, 21).
Pedro Nolasco foi genial para entender, humilde para obedecer, corajoso para empreender, desapegado para lançar-se, por inteiro, a esta obra de mercê, para a qual entendeu que convinha apostar tudo: a inteligência, o prestígio, a vontade, tempo, dinheiro, joias, projetos, a própria vida.
______Frei Herculano Negreiros
Oração a Nossa Senhora das MercêsMãe querida das Mercês, com a simples confiança de filhos, recorremos a Ti. Vimos aos Teus pés de Rainha e Mãe de misericórdia, suplicando o Teu poderoso auxílio. O nosso mundo vive aprisionado em tantas formas de escravidão e opressão. Nosso tempo não é menos atribulado que aquele em que Tu, compadecida da Terra, inspiraste a fundação de uma ordem religiosa, destinada à redenção dos cativos cristãos. Novas formas de escravidão social, política ou psicológica que derivam, em última instância, da corrupção do pecado, surgem a cada dia. Aqui nos tens, ó Mãe das Mercês, lutando para livrar-nos de tantas cadeias e opressões do nosso mundo. Ajuda-nos com a Tua misericórdia para que possamos recuperar a feliz liberdade dos filhos de Deus. Amém.
(Fonte: in Revista Mercê, Setembro/2016, n. 33, Ano 12, Revista Trimestral da Família Mercedária no Brasil, pp. 10-13 – Texto revisto e alguns destaques acrescidos)