27 DE SETEMBRO – DIA DE SÃO VICENTE DE PAULO
1. (São Vicente) Nasceu a 24 de abril de 1581, na pequena aldeia de pouy, perto de Dax, ao pé dos Pirineus na França. Seu pai chamava-se João de Paulo sua mãe Bertranda de Moras. Cultivavam uma pequena propriedade de que tiravam a subsistência para a família, composta de seis filhos. A Vicente que era o terceiro filho, coube, como aos outros irmãos, o trabalho do campo, principalmente o pastoreio dos rebanhos paternos.(p.11).
2. Aos 23 de setembro de 1600, em Chateaul’Evêche, recebeu a ordenação sacerdotal… os assistentes, admirados e comovidos ante tanta piedade, dirão: Que padre santo! Como celebra bem a Santa Missa… Em 1605, Vicente foi a Marselha para receber um pequeno legado de uma pessoa piedosa. Voltando por mar para Tolosa, foi o navio surpreendido por uma esquadrilha de piratas que cruzavam o Golfo de Leão… Lá, com a corda ao pescoço, foram expostos na feira para ser vendidos. “Os compradores, diz o santo, nos revistaram como a cavalos e bois, fazendo-nos abrir a boca para ver nossos dentes, sondando nossas feridas, fazendo-nos andar..levantar pesos para verem nossas forças…”. Vicente foi vendido a um pescador, depois a um médico e, afinal, a um renegado francês que o levou para o interior, onde tinha uma lavoura, lugar extremamente deserto e quente. Lá cavava a terra com uma corrente aos pés. “Uma… curiosa, diz o Santo, de saber o modo de viver dos cristãos, apesar de muçulmana, frequentemente ia me visitar na terra em que eu trabalhava…” ante as razões daquela mulher e ajudado pela graça de Deus, abriu os olhos o marido e tão comovido ficou que, no dia seguinte, disse a Vicente que, para voltar à França e a Deus só lhe faltava a ocasião favorável. Esta se lhe apresentou após dez longos meses de espera. Em junho de 1607 se meteram, só os dois, em um frágil batel, e com ventos que sopravam rumo à França, deixando a terra da infidelidade e da escravidão, passaram felizmente ao Mediterrâneo. A 28 de junho aportaram à cidade de Águas Mortas, na foz do Ródano. Quando pôde pisar o solo de sua pátria, Vicente levantou os braços ao céu e entoou o “Te Deum laudamus”.(p.16-p.19)
3. Consta, porém, que, pelos fins de 1609, já estava em Paris, como capelão da Rainha Margarida, esposa repudiada de Henrique IV, a qual, depois de uma vida leviana, tinha se convertido sinceramente, dando provas de uma grande piedade e de uma caridade sem limites para com os pobres… Foi naquele tempo, enquanto capelão da rainha Margarida, que Vicente teve de passar por duas provações terríveis. Quem é destinado a grandes obras tem de passar por grandes tribulações, como já disse. Implorar a Deus, disse um santo religioso, é uma excelente obra de religião; trabalhar por Deus é uma obra ainda mais excelente; mas sofrer por Deus é, segundo São João Crisóstomo, uma obra mais gloriosa do que ressuscitar mortos.(p.20-21)
4. Vicente tinha por penitente um célebre eclesiástico que outrora tinha defendido o catolicismo contra os ataques dos hereges, com um sucesso extraordinário. Por isso, talvez para manter a humildade, Deus permitiu que o demônio o tentasse, de modo terrível, contra a fé. Sofria tão grandes tentações de blasfemar contra Jesus Cristo e pensamentos de desespero… Chegou a tal ponto a perturbação que era incapaz de celebrar a Santa Missa e de rezar o Ofício Divino. Vendo seu penitente nesse estado deplorável e receando que cedesse às sugestões do inimigo da salvação, tomou nosso Santo uma resolução generosa e extraordinária. Pediu a Deus que a terrível provação do outro passasse para ele. O Senhor aceitou a oferta heroica. O eclesiástico viu-se de repente livre da tentação e Vicente, ao mesmo tempo, alvejado pelos mais furiosos ataques do inferno. Foi uma luta horrível que durou quatro anos. Cansado, esgotado de tamanha batalha, opondo repetidos atos de fé, orações, mortificações, recorreu a um piedoso estratagema. Escreveu sua profissão de fé, o Credo, como um protesto contra os pensamentos de infidelidade, e a trouxe constantemente sobre o coração, tendo convencionado com Nosso Senhor que, cada vez que levasse a mão ao peito, seria com a intenção de renovar o seu protesto de fidelidade. Um dia em que a tentação lhe causava tormentos mais violentos do que de costume, sentiu-se a tomar a resolução irrevogável de consagrar toda a sua vida ao serviço dos aflitos. Logo a tentação desapareceu, as trevas se dissiparam e deram lugar a uma luz abundante. (p.22-23)
5. Acusado injustamente “No bairro de S. Germano, talvez por economia, tomara Vicente por aposento a mesma casa… de um velho conhecido… o juiz de Sore. Esse guardava seu rico dinheiro num armário cuja chave trazia sempre consigo… Pois, um dia, o doutor, antes de sair, esqueceu-se de tirar a chave do cofre. Nesse ínterim veio o criado do farmacêutico trazer um remédio a Vicente, que então estava doente de cama, e oferecendo-se-lhe ocasião de ir buscar no armário um copo, levado pela cobiça, meteu o dinheiro na algibeira. Voltando o cavalheiro à casa e não achando o dinheiro, reclamou-o de Vicente, como se este lhe tivesse roubado. Respondeu este que nem o tirara, nem o vira tirar. Furioso, o homem acusa o santo desse furto e o cobre de injúrias tão descomedidas que o servo de Deus para evitar maior barulho, mudou de aposento e de casa. Não cessou, porém, a perseguição do juiz; antes cada vez crescia mais, porque publicamente lhe chamava de ladrão, até na presença de pessoas de qualidade, como o Cardeal de Bérulle e outras pessoas. Vicente, humilde e inocente, sem culpar a outrem nem desculpar-se a si mesmo, somente disse: “Deus sabe a verdade“. Deus, porém, acode aos inocentes que nele põem confiança, como acudiu a José e à casta Suzana… o criado da Farmácia, responsável pelo roubo, ao ver-se preso em Bordéus por outros delitos, atormentado pelos remorsos da consciência, mandou chamar à cadeia o tal juiz, pois o conhecia, e confessou que fora ele que furtara o dinheiro. Ficou atônito o juiz com esta notícia e, cheio de espanto por ter injuriado a Vicente, escreveu-lhe relatando o fato e dizendo-lhe que, se quisesse, iria a Paris e prostrado a seus pés, lhe pediria perdão. (p.23-24)
6. O resto do seu tempo é repartido entre o confessionário, o catecismo, a oração e o estudo… Muitas famílias inteiras, que estavam infeccionadas de calvinismo, por sua diligência se reconciliaram com a Igreja e vários membros delas acabaram abraçando a vida religiosa. (p.27).
7. Trata-se de aproximar o rico do pobre, de se procurarem, de se julgarem lealmente, sem injusta severidade nem falsa complacência. Trata-se, afinal, de trazê-los a uma estima e amizade recíprocas… O pobre e o rico não têm igual necessidade um do outro? Para isso, para os aproximar, é preciso estabelecer uma obra fixa. Chamar-se-á “Confraria de Caridade”. Nela o rico e o pobre aprenderão seus deveres, o papel, o proveito social da caridade… Mandou, pois, Vicente, chamar as senhoras De Chassaigne e De Brie: suas duas convertidas, e lhe expôs suas ideias: constituir uma associação com outras senhoras, com o fim de angariar e regularizar os socorros a serem distribuídos a todos os pobres doentes da localidade. (p.31)
O famoso pequeno método de S. Vicente
Em que consiste? Em usar, na pregação, uma linguagem capaz de ser compreendida pelo último dos ouvintes, linguagem adaptada ao seu modo de viver, com exemplos tirados de sua profissão, de seus trabalhos diários como fazia Jesus Cristo. Em dividir o sermão em três pontos bem definidos. No primeiro, mostram-se os motivos de praticar tal virtude ou de evitar tal mal; no segundo, explica-se em que consiste esta virtude ou este mal; e no terceiro, indicam-se os meios de adquirir a virtude ou evitar o mal. Tais os três pontos principais que o missionário deve desenvolver simplesmente, com o próprio coração nas mãos…(p.39-40)
Lazaristas
Vicente viu seus filhos multiplicarem-se a ponto de o pobre “Asilo dos Bons Meninos” não poder mais os abrigar. Deus, porém, providenciou a tempo. Adriano Bom, Prior de S. Lázaro ofereceu ao santo a casa e as terras do seu priorado, conhecido pelo nome de S. Lázaro, antigo hospital de leprosos e vasta construção onde permaneceram até o fim do século XVIII. Daí vem o costume de se chamarem “Lazaristas” os padres congregados de S.Vicente. (p.42)
Luísa de Marillac
Viúva aos trinta e quatro anos, de Antônio Legras, secretário da rainha Maria de Médicis, Luísa… sentia uma inclinação irresistível de consagrar-se aos pobres e doentes… Vicente lembrou-se então de que, nas missões, tinha encontrado frequentemente moças piedosas, honestas, sem inclinação para o casamento nem recursos para poderem entrar na vida religiosa, mas dispostas a se dar a Deus, para o serviço dos pobres. Sucedeu que, logo nas primeiras missões, algumas se ofereceram voluntariamente. Vicente as confiou a Luísa para esta instruí-las. A primeira foi Margarida Nazeau, pobre camponesa que, pastoreando ovelhas, tinha aprendido a ler e escrever sozinha, e depois tinha se feito professora particular das meninas pobres… Foi a primeira “Filha de Caridade e Serva dos Pobres Doentes”. E este é o nome oficial das filhas de S. Vicente. (p.46)
Filhas de Caridade
“As Filhas de Caridade precisam de mais virtudes do que as religiosas mais austeras. Não há comunidade de senhoras que tenha mais encargos: primeiro, trabalhar na sua própria santificação, como as Carmelitas; segundo, como as Religiosas Hospitaleiras, tratar os doentes; em terceiro lugar instruir as meninas pobres, como as Ursulinas.” (p.49)
“Se o mundo soubesse da suavidade e das vantagens da vida religiosa, ficaria vazio;” (p.48).
Visita aos presos
Com uma dedicação sem limites visitava-os, levava-lhes alimento, remédios, prodigalizava-lhes consolações e exortações em nome d’Aquele que também foi condenado por amor dos pecadores. Não raro lhes beijava até as algemas. (p.59)
Se ofereceu para ficar preso no lugar do condenado
Encontrou um condenado mais infeliz do que culpado, que já caía em desespero, porque sua ausência reduzira a mulher e os filhos à última miséria. Se alguém o substituísse, podia ser posto em liberdade. Vicente não hesita em tomar-lhe as algemas e o lugar no banco dos remadores. Mas, sendo bem descoberta a substituição, bem depressa também o santo deixou a cidade para evitar o triunfo que semelhante ação lhe teria preparado. (p.61-62)
Caridade
“Quando os pintores querem representar a caridade, diz o primeiro biógrafo de Vicente, pintam-na geralmente com crianças nos braços. Assim deveriam pintar Vicente de Paulo.”(p.64)
Limpeza
Não só manda enterrar os mortos cujos cadáveres ficavam às vezes sem sepultura, dias e mais dias nas cidades e pelos campos despovoados, mas também suscita, em toda parte, “companhias aéreas” que não são outra coisa senão sociedade de limpeza pública, para purificar o ar e o solo, das imundices que os infeccionavam.
São Vicente de Paulo e São Francisco de Sales
Em 1619, S. Francisco de Sales veio a Paris. Logo que os dois santos se encontraram… Diz Abelly que Vicente ficou encantado pela expressão de pureza angélica e de sentimento cristão de Francisco e que, depois de o ter visto, declarou que lhe parecia ter visto o Filho de Deus conversando com os homens. Por sua vez, Francisco publicou que não tinha encontrado sacerdote tão caridoso, tão prudente e dotado de tamanho talento para dirigir as almas no caminho da mais alta perfeição como Vicente de Paulo. (p.81)
Confiança na Providência Divina
Quando faziam ver ao servo de Deus que a comunidade gemia sob o peso de tantos gastos, respondia, sorrindo, que a Providência haveria de prover as suas necessidades e que eles deviam julgar-se felizes por serem instrumentos de Deus para operar tão grandes frutos de misericórdia.(p.83-84)
Combate à heresia
Um dia um Abade sustentou, diante de Vicente, um dos erros de Calvino, condenado pelo Concílio de Trento. O santo disse…”Como quer que acredite antes num doutor particular, como é o senhor, sujeito ao erro, do que em toda a Igreja, que é a coluna da verdade?” Ao que Saint Cyran replicou: O senhor é um ignorante que não merece estar a frente de sua comunidade. – O Senhor tem razão, disse Vicente; sou realmente um ignorante, mais ignorante do que julgais.”(p.88)
Fundação de obras sociais
Falta-me espaço e tempo para enumerar todas as obras fundadas, organizadas, dirigidas por Vicente. Capelania da Corte… paroquiato… magistério dos pobres… fundação das Senhoras de Caridade… dos hospitais para os doentes… de asilos para os velhos… de refúgios para as mulheres decaídas e para as donzelas em perigo… da casa para os expostos… conselhos de consciência… reforma do clero… retiros eclesiásticos… fundação dos seminários… socorro às províncias associadas… missões aos camponeses… os leprosos… os loucos… os refugiados de guerra… os mendigos… os condenados… a direção de muitas comunidades…(p.91)
Humildade
“Quanto mais humilde for alguém, tanto mais caridoso será para com o próximo.”(p.95)
“Se nos livrarmos do amor próprio um quarto de hora antes de morrer, podemos dar graças a Deus.”(p.95)
Enfermidades
As graves e contínuas enfermidades que sofreu quase toda a vida bem podiam dispensar as terríveis penitências voluntárias que tanto infligiu ao seu pobre corpo. Mas longe disso, considerava suas moléstias como favores especiais e por tais estimava…”Peço-vos a graça de conhecer o precioso tesouro, que está encoberto nas enfermidades. Estas purificam a alma, e servem de meio eficaz para adquirir as virtudes àqueles que não as têm, e abrem ao enfermo bem largo caminho para praticar a Fé, a Esperança, a conformidade com a divina vontade, e todas as mais virtudes. Devemos, pois, nos persuadir que elas não são males para fugir-se senão meios proporcionados para santificar nossas almas; e que querer lançá-los fora, quando Deus no-los manda não é outra coisa senão apartarmo-nos do nosso bem.” (p.104-105)
Morte
Foi na segunda-feira, 27 de setembro, às quatro e meia da manhã que Deus o atraiu a si no momento em que seus filhos espirituais, reunidos na igreja, começavam a oração… Morreu aos 84 anos de idade e 60 de sacerdócio. (p.108-109)
Depois de, a 14 de julho de 1729, ter Bento XIII pronunciado o Decreto da beatificação, já a 16 de junho de 1737, Clemente XII expedia a bula de canonização de Vicente de Paulo… O corpo de S. Vicente, revestido dos paramentos sacerdotais, repousa num grande relicário de prata e cristal, acima do altar-mor da Casa Mãe dos Padres da Congregação da Missão, em Paris, rua de Seires, 95. (p.111)
☞ NOTA (nossa): Em 1885, o Papa Leão XIII o declarou “Patrono das Obras de Caridade da Igreja Católica”.
(Fonte: Biografia de São Vicente de Paulo por Guilherme Vaeessen, C.M., “Mensageiro da Fé”, via Biografia dos Santos – Texto revisto e atualizado, com destaques acrescentados)