CatolicismoRito Tradicional

3 DE JANEIRO – FESTA DO SANTÍSSIMO NOME DE JESUS

Celebra-se entre a Festa da Circuncisão e a Epifania.

3 DE JANEIRO – FESTA DO SANTÍSSIMO NOME DE JESUS

Para a celebração desta festa foi escolhido, em princípio, o Segundo Domingo depois da Epifania, que recorda o banquete das bodas de Caná. É precisamente o dia das bodas, quando o nome do Esposo passa a ser propriedade da Esposa; esse nome significará que daí em diante é seu. Querendo honrar a Igreja com um culto especial um nome tão precioso, uniu sua recordação a das bodas divinas. Hoje, une a celebração deste augusto Nome, o aniversário do dia em que ele foi imposto, oito dias depois do Nascimento.

O Antigo Testamento havia cercado o Nome de Deus de um profundo terror; este nome era então tão terrível como santo, e nem todos os filhos de Israel tinham a honra de pronunciá-lo. Ainda não havia aparecido Deus na terra e que falasse com os homens; não havia se feito homem, unindo-se à nossa débil natureza; não podíamos, pois, dar-lhe esse nome amoroso e terno que a Esposa dá ao Esposo. Porém, quando chegou a plenitude dos tempos, quando o mistério do amor estava próximo a aparecer, o nome de Jesus desce primeiramente do céu, como uma antecipação da presença do Senhor que haveria de levá-lo. O Arcanjo disse a Maria: “Lhe porás o nome de Jesus”; agora em diante, Jesus quer dizer Salvador. Que doce será este nome para o mundo perdido! E como só esse Nome unirá o céu à terra! Há algum mais amável e mais poderoso? Se, ao pronunciar-se esse Nome divino deve dobrar-se todo joelho no céu, na terra e nos infernos, haverá algum coração que não se comova de amor ao ouvi-lo? Mas, deixemos que nos descreva São Bernardo o poder e a doçura desse bendito Nome. Eis como se expressa a este propósito em seu Sermão décimo quinto sobre o Cântico dos Cânticos.

“O Nome do Esposo é luz, alimento, remédio. Ilumina, quando se pronuncia; alimenta, quando nele se pensa, e quando, na tribulação, se lhe invoca, proporciona lenitivo e unção. Detenhamo-nos, portanto, em cada uma destas qualidades. Como pensais que pode derramar-se por todo o mundo essa tão grande e súbita luz da fé, senão for pela pregação do Nome de Jesus? Não nos chamou Deus à sua admirável luz, por meio da tocha de seu bendito Nome? Ao ser iluminados por ela, e vendo nesta luz outra luz, ouvimos a São Paulo que acertadamente nos diz: “… éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor”. Porém, o Nome de Jesus não é só luz, é também alimento. Não vos sentis reconfortados ao recordar esse doce Nome? Há algo no mundo que nutra tanto o espírito de quem nele medita? Que há assim mesmo como ele que restaure a frouxidão dos sentidos, que dê fortaleza às virtudes, faça florescer os bons costumes e mantenha os puros e castos afetos? Todo alimento da alma é árido se não está encharcado neste azeite, e insípido, se não está temperado com este sal.

Quando me escreveis, vosso relato não tem para mim nenhum sabor se não leio ali o nome de Jesus. Quando comigo falais ou discutis, a conversa não tem para mim interesse algum se nela não ouço ressoar o nome de Jesus. Jesus é mel para minha boca, melodia para meu ouvido, júbilo para meu coração; e além de tudo isto, um benéfico remédio. Alguém está triste? Venha Jesus ao seu coração, sai daí para a tua boca, e em seguida se dissipará qualquer nuvem, e voltará a serenidade, na presença desse divino Nome que é verdadeira luz. Alguém caiu em pecado, ou corre desesperado ao abismo da morte? Que invoque o Nome de Jesus e começará de novo a respirar e a viver. Quem, na presença desse nome, permaneceu com o coração endurecido, sob o descuido da preguiça, o rancor ou a languidez do incômodo? Quem, porventura, tendo visto secar a fonte das lágrimas, não as sentiu correr repentinamente mais abundante e suave, quando invocou o nome de Jesus? Que homem há que, temeroso e diante do maior receio de perigo, haja invocado esse Nome não tenha sentido imediatamente nascer em si a confiança e dissipar-se o medo? Quem é, lhes pergunto, aquele que sacudido e agitado pelas dúvidas, não viu brilhar a certeza, tão logo tenha invocado esse Nome luminoso? Quem é que, tendo dado ouvido à desconfiança no tempo da adversidade, não recobrou o valor quando chamou em seu socorro esse Nome poderoso? Efetivamente, todas essas são enfermidades da alma, e ele é a cura.

Assim é, e posso provar com estas palavras: Invoca-me, disse o Senhor, no dia da tribulação, e te livrarei dela, e tu me honrarás. Nada detém tanto o ímpeto da ira, nem acalma tanto o inchaço do orgulho. Nada cura tão radicalmente as feridas da tristeza, reprime os excessos, extingue as chamas das paixões, apaga a sede da avareza, e afugenta a podridão dos apetites desonestos. Com efeito, quando pronuncio o nome de Jesus, apresenta-se a mim um homem manso e humilde de coração, benigno, sóbrio, casto, misericordioso, numa palavra, um homem radiante de pureza e santidade, o qual é ao mesmo tempo Deus omnipotente que me corrige com seus exemplos, e me fortalece com sua ajuda. Tudo isto aparece a meu coração quando ouço o Nome de Jesus. Desta maneira, se lhe considero como homem a ser imitado, se lhe considero como Deus Todo-poderoso, uma ajuda segura, sirvo-me dos referidos exemplos como de ervas medicinais, e de sua ajuda como de um instrumento para triturá-las, elaborando com elas uma mistura que nenhum médico saberia confeccionar.

Oh! alma minha, tens um maravilhoso antídoto encerrado neste Nome de Jesus, como num vaso! Jesus, é certamente um Nome salutar e um remédio que nunca resultará ineficaz a nenhuma doença. Tende-o sempre em vosso seio, sempre à mão, de tal modo que todos os vossos atos sejam sempre dirigidos a Jesus.”

Tal é, portanto, a virtude e a doçura do Santíssimo Nome de Jesus, nome que foi imposto ao Emanuel no dia de sua Circuncisão; porém, como o dia da Oitava do Natal já é consagrado à celebração da Maternidade divina, e o mistério do Nome do Cordeiro exigia para si uma festividade própria, a Igreja instituiu a festa de hoje. Seu primeiro precursor foi São Bernardino de Sena, no século XV, quem instituiu e propagou o costume de representar, rodeado de raios, o Santo Nome de Jesus, reduzido a suas três primeiras letras IHS, reunidas em forma de monograma. Esta devoção se espalhou rapidamente pela Itália, favorecida pelo ilustre São João de Capistrano, da Ordem Franciscana, a mesma de São Bernardino de Sena. A Santa Sé aprovou solenemente esta devoção ao Nome do Salvador, e nos primeiros anos do século XVI, Clemente VII, cedendo aos rogos de muitos, concedeu a toda a Ordem de São Francisco o privilégio de celebrar uma festa especial em honra do Santíssimo Nome de Jesus. Posteriormente estendeu Roma este privilégio a distintas Igrejas, e chegou o momento no qual foi incluída no calendário universal. Isso ocorreu em 1721, a pedido de Carlos VI Imperador da Alemanha; o Papa Inocêncio XIII determinou que a festa do Santíssimo Nome de Jesus fosse celebrada em toda a Igreja, fixando-a, inicialmente, no Segundo Domingo depois de Epifania.

_________Dom Prosper Guéranger, OSB, El Año Liturgico, Tomo I, pp. 362-367 (tradução e adaptação do espanhol para o português do Brasil é nossa)

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