Jesus Cristo, Sabedoria Eterna e EncarnadaRito Tradicional
FESTA DA ASCENSÃO DO SENHOR
FESTA DA ASCENSÃO DO SENHOR
O TRIUNFO DE JESUS CRISTO
Havia 40 dias que Jesus Cristo ressuscitara dos mortos. Aproxima-se o tempo em que devia deixar esta terra.
Os Apóstolos, avisados pelo divino Mestre, voltaram para Jerusalém, onde se reuniram no Cenáculo. Uma última vez Jesus sentou-se à mesa consagrada pelo banquete eucarístico, e comendo, com eles, ordenou-lhes que não se afastassem da cidade, mas aí esperassem as promessas do Pai, as quais, disse Ele, ouvistes por minha boca, pois João batizou na água, mas em breves dias vós sereis batizados no Espírito Santo. Depois das últimas recomendações, destinadas a preparar os Apóstolos à recepção do Espírito Santo, predizendo-lhes a grande missão, que ia transmitir-lhes: pregar o Evangelho no mundo inteiro, Jesus deu por terminada esta última reunião íntima para voltar a seu Pai celeste.
Contemplemos esta cena sublime:
I – Em sua preparação.
II – Em sua realização.
I – A PREPARAÇÃO
Jesus levantou-se, dirigindo-se para o monte das Oliveiras. Cento e vinte pessoas acompanharam o divino triunfador. O cortejo seguiu pelo vale de Josafá. Jesus avançava majestosamente no meio de seus Apóstolos, ao mesmo tempo alegres e tristes, ao pensar que o bom Mestre os ia deixar. Atravessou Jesus a torrente do Cedron, onde os seus inimigos lhe haviam dado a beber água lodosa, depois, deixando à esquerda o horto de Getsêmani, teatro da sua agonia, subiu pelo monte das Oliveiras. Tendo chegado ao cimo, lançou um derradeiro olhar àquela pátria terrestre, onde tinha passado 33 anos. O seu olhar, divinamente iluminado, percorre um por um, os lugares que se estendem a seus pés. Ao longe, Ele divisa Belém a Galiléia.
Defronte, estende-se a cidade de Jerusalém, que acaba de crucificá-lo, depois de o ter carregado em triunfo. Aqui está o templo, onde espalhou os seus ensinamentos, desde a idade de onze anos. As ruas da cidade, onde falou ao povo, onde foi aclamado onde realizou tantos milagres. O cenáculo, onde deu uma prova infinita de seu amor, na instituição da Eucaristia. O Jardim das Oliveiras, onde agonizou. O Pretório, o Ecce Homo!
Enfim, o Calvário, onde deixou, com a vida terrestre, o sulco imenso e eterno de seu amor.
Em pé sobre a montanha santa, contemplemos a sua atitude calma e sublime.
O seu semblante está comovido pelas lembranças do passado, pela visão do futuro, pelas ternuras presentes, na hora da despedida, pois exprime tudo isso e reflete todo o seu Coração e toda a sua alma.
E aí, a seus pés, a seu lado, estão os discípulos, os seus Apóstolos, Pedro, João, a sua Mãe querida, toda radiante pelo triunfo de seu Jesus, mas toda comovida pela próxima separação. Jesus dirige-se, uma última vez, para a sua Mãe, trocam um último olhar Jesus! Minha Mãe! Adeus, até em breve! E fitou os Apóstolos. Eis todos os olhares fixados sobre Jesus, e doces como a aurora, suaves como a brisa matinal, caíram dos lábios de Jesus estas palavras sublimes, as últimas, que devia pronunciar neste mundo:
Ide por todo o mundo pregar o Evangelho a toda criatura. O que crer e for batizado será salvo: o que, porém, não crer, será condenado (Marcos XVI, 15).
Prostremo-nos em espírito, em adoração, aos pés do divino Mestre, e beijemos, pela última vez, estes pés sagrados, antes que deixem a terra, elevando-se para o céu.
II – A REALIZAÇÃO
Todos os olhos estavam cravados no divino Salvador, contemplando sua fisionomia toda celestial, e o seu olhar cheio de ternura, que passeava pelos assistentes, como para dirigir a cada um o derradeiro adeus. Depois levantou as mãos para dar a todos uma bênção suprema, e enquanto os abençoava, prostrados a seus pés, de repente, o seu corpo glorioso, posto em movimento por um ato de seu divino poder, se elevou acima da terra e tomou majestosamente o voo para os céus. Mudos de surpresa e admiração, os Apóstolos e discípulos seguiram-no, longo tempo, com a vista, até que enfim, uma nuvem o envolveu e subtraiu aos seus olhos. E como não cessavam de fixar o ponto, onde o tinham visto desaparecer, apresentaram-se a eles dois anjos vestidos de branco, dizendo:
Homens da Galiléia, por que permaneceis assim olhando para o céu? Esse Jesus que, separando-se de vós, foi arrebatado ao céu, virá do mesmo modo que o vistes ir para o céu. (At. I, 2).
E Jesus continuava a subir para o trono de seu Pai. Imediatamente se viu rodeado de inúmeras legiões de almas que, retiradas no limbo desde séculos, estavam esperando que o novo Adão lhes abrisse as portas do céu. À frente daqueles fiéis da antiga aliança, marcharam os dois exilados do Eden, que não tinham cessado de esperar a salvação pelo Redentor prometido à sua raça, aos Patriarcas, Abraão, lsaac e Jacó, Moisés e os profetas. A seguir iam as gerações santas, de almas retas, e que, de coração, tinham esperado Aquele que devia vir. E Jesus ia subindo subindo, até chegar às portas do Paraíso celestial.
Davi cantou, poeticamente, esta chegada do Salvador. Os anjos ouviram, de repente, o hino triunfal das almas que acompanhavam o Filho de Deus e que cantavam:
Príncipes, abri as vossas portas; abri-vos ó portas eternas e entrará o Rei da glória!
– Quem é este Rei da glória? perguntaram os anjos.
É o Senhor, é o Deus forte e poderoso, é o Deus invencível, responderam os santos. Abri-vos, portas eternas, é Ele, é o Deus das virtudes. (Salmo). E o profeta real nos mostra a recepção do Filho do Eterno, quando este se apresentou diante do trono de seu Pai.
Jeová disse ao meu Senhor: Senta-te a minha direita, pois te gerei antes da aurora; senta-te a minha direita e os teus inimigos sejam o escabelo de teus pés. Terás na mão, o cetro do poder e estabelecerás o teu império sobre Sião. (Salmo) Eu dei-te em herança, continua o Eterno, todas as nações da terra; eu estenderei o teu império aos confins do mundo; e aos teus inimigos, parti-los-ei como quem quebra um vaso de barro. Compreendei, ó reis; ó povos da terra, aprendei. (Salmo).
III – CONCLUSÃO
Desde a Ascensão até ao Juízo final, a história dos séculos não será mais que a representação dramática desta profecia. A Igreja, o reino de Jesus, não cessará de se dilatar e enviar eleitos para o céu, ao passo que os anticristãos irão uns após outros juntar-se com o seu despótico amo, do fundo dos infernos. Daí a conclusão a tirar da festa da Ascensão gloriosa do nosso divino Salvador: esta conclusão deve ser: as aspirações ao céu, para irmos com Ele, gozar da felicidade eterna. Onde está o nosso tesouro, lá deve estar o nosso coração, disse o Mestre (Mateus VI, 21). O nosso coração deve estar no céu com Jesus Cristo, Ele deve ser o nosso fim último; ora, todos os seres têm uma tendência natural para o seu fim; devemos ter, pois, uma tendência natural para o céu . Em outros termos, devemos dar a nossa vida uma direção para o céu; o gosto é o sentimento próprio do cristão.
Como fazer isto?
Pelo desapego, das coisas do mundo. Como a terra me parece triste quando contemplo o céu, dizia Santa Inês. Pela oração, o que pedirdes a meu Pai, em meu nome, Ele vo-lo dará. A ausência deste gosto é natural num incrédulo. Um homem sem esperança é um homem sem felicidade. Por isso disse o Apóstolo: Procurai, apreciai as coisas do céu e não as da terra. (Col. III, 1).
Para mim o Cristo é a vida; e a morte é lucro. (Fl. I, 21).
(Fonte: in, O Evangelho das Festas Litúrgicas e Dos Santos Mais Populares, Pe. Júlio Maria Lombaerd, Editora O Lutador, 2ª edição/1952 37ª Instrução, pp. 204-208 – Texto revisto e atualizado e destaques acrescidos)