Catolicismo
FESTA DE PENTECOSTES
FESTA DE PENTECOSTES
A OBRA DO ESPÍRITO SANTO
Antes de subir ao céu, Jesus Cristo havia recomendado aos seus Apóstolos que se recolhessem ao Cenáculo, e esperassem aí a vinda do Espírito Santo.
Eu mandarei sobre vós o Espírito Santo prometido por meu Pai: entretanto, permanecereis na cidade, até que sejas revestidos da virtude do alto. (Lucas 24, 49). João, na verdade, batizou em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo, daqui a poucos dias. (At. 1, 5 ).
Em obediência a estas recomendações do divino Mestre, os Apóstolos permaneceram, pois, no Cenáculo, e puseram-se a orar com Maria, Mãe de Jesus, com os discípulos e as santas mulheres, à espera do Espírito Santo, que desceu sobre eles no dia de hoje, nove dias depois da Ascensão.
Contemplemos esta cena gloriosa e expressiva, recolhendo os ensinamentos, que dela emanam:
I – A descida do Espírito Santo.
II – Os efeitos produzidos sobre os Apóstolos.
I – A DESCIDA DO ESPÍRITO SANTO
Recolhidos no Cenáculo por ordem do Salvador, Pedro e seus companheiros meditavam as últimas palavras do Mestre.
Eles, pobres iletrados, ignorantes, a pregarem o Evangelho a toda criatura! Eles, desprezados pelos judeus, a apresentarem à adoração do mundo, aquela Cruz sobre a qual o seu Mestre acabava de expirar! Não era isso tentar o impossível?
Assim eles pensariam, porém não o pensaram, porque tinham confiança nas palavras de Jesus Cristo, e no Espírito Santo, que devia ensinar-lhes todas as coisas.
No nono dia, pelas 8 horas da manhã, de súbito produziu-se um rumor de vento violento, que, com grande ruído, encheu toda a sala onde estavam sentados, enquanto apareceram línguas de fogo, semelhantes a chamas ardentes, formando um globo escandecente, que foi colocar-se acima da cabeça da Mãe de Jesus.
Aí se dividiu em línguas, indo pousar sobre cada um dos Apóstolos.
Sob aquele emblema de fogo, vinha o Espírito Santo comunicar-lhes todos os dons do céu, a inteligência para interpretarem as Escrituras, a força para arrostarem com os seus inimigos, e o dom das línguas para ensinarem a todos os povos.
Transformados num instante, com aquela efusão miraculosa da graça, começaram logo os Apóstolos a formularem, em diversas línguas, os pensamentos, que o Espírito Santo lhes ditava.
Em breve se viram rodeados pela multidão, que os escutava muda de pasmo.
Como é isso?! exclamaram, não são esses homens galileus? Como é que nós os ouvimos todos falar a língua da nossa terra?
Há entre nós, Partos, Medos, Elamitas, Judeus, Capadócios, Mesopotâmicos, Asiáticos, Egípcios, Romanos, Celtas e Árabes, e todos nós ouvimos celebrar em nossas línguas as maravilhas de Deus!
Ninguém podia explicar este mistério, quando alguns judeus inimigos disseram: “Nada de prodigioso em tudo isto; são uns homens em estado de embriaguez, que se agitam fora de si pelo efeito do vinho”.
Deste primeiro insulto tomou Pedro ocasião para instruir a turba.
“Homens da Judéia, bradou ele, e vós todos forasteiros vindos a Jerusalém, não estão ébrios estes homens, mas inspirados por Deus.”
E Pedro começa a fazer a exposição da vida, paixão e morte do Filho de Deus, com tanto ardor, tanta ciência sobrenatural, que, neste dia mesmo, três mil homens creram em Jesus Cristo e receberam o Batismo.
Estava, com isto, fundada a Igreja de Jerusalém, e milhares de vozes iam anunciar a todas as nações o nome de Jesus.
Alguns dias depois, Pedro e João, indo ao templo, curaram, milagrosamente, um coxo, que estava à porta; pedindo esmolas.
Segue outro sermão de S. Pedro, mais penetrante ainda que o precedente, ocasionando a conversão de mais de cinco mil homens.
Tanto êxito devia, necessariamente, excitar entre os chefes dos judeus, o seu ódio um instante adormecido.
Eis Pedro e João citados perante o tribunal de Caifás, onde defenderam com altivez a sua fé em Jesus Cristo.
À proibição, que os chefes lhes fizeram de falar do nome de Cristo, os Apóstolos responderam: Não podemos calar-nos sobre o que vimos e ouvimos!
E continuaram a pregação, sem fazer caso da proibição e das ameaças do Sinédrio, querendo, como dizia Pedro: primeiro obedecer a Deus que aos homens.
II – A OBRA DO ESPÍRITO SANTO
Assistimos aqui a uma mudança total dos Apóstolos.
Antes, eram homens ignorantes, vacilantes, medrosos, e de repente transformados em homens instruídos, corajosos, mostrando a seu divino Mestre desaparecido, um amor e uma dedicação, que não souberam mostrar-lhe durante a vida.
A obra do Espírito Santo, na alma dos Apóstolos, foi de transformação, que se operou ao mesmo tempo:
no espírito,
na vontade,
no coração deles.
O espírito precisa de verdade;
A vontade precisa de coragem;
O coração precisa de amor.
São estes três dons, que aparecem, de modo particular, na obra do Espírito Santo.
* * *
Ele os enche de verdade.
Jesus Cristo, que se dizia, com razão, a verdade, havia começado esta obra, porém, como Ele o disse, havia muitas outras verdades, que eles deviam conhecer, mas de que não eram ainda capazes naquela hora. (Jo. 16, 12)
E ajunta: Quando vier, porém, Aquele Espírito de verdade, vos ensinará toda a verdade, porque ele não ensinará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido me glorificará , porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará. (lb. 13).
Jesus lhes havia ensinado as verdades, que comportavam a sua disposição, a sua capacidade, as suas necessidades, mas reservou a coroação da sua obra para o Espírito Santo.
Eis porque os Apóstolos, pela vinda do Espírito Santo, compreenderam melhor o que Jesus lhes ensinara, adquiriram as novas ciências, que exigiam a sua nova situação de Doutores e propagandistas da Igreja.
* * *
A 2ª transformação foi a da sua vontade.
Até aí esta vontade era lânguida, sem resistência, nem firmeza.
Pedro sabia dar o seu brado de energia, porém, na primeira ocasião do perigo, a sua vontade vacilava, e transformava-se numa fraqueza que ia até a covardia.
Conhecemos por demais a fraqueza dos Apóstolos. Estavam repletos de boa vontade e de sinceridade, porém todos eram vacilantes, medrosos, sem energia.
O propter metum judoeorum (Jo. 7, 13) estava-lhes sempre diante dos olhos.
Depois de Pentecostes nada mais deste medo existe. Pregam em toda parte, e aos chefes dos judeus, que pretendem amedrontá-los com ameaças e castigos, respondem sem hesitar: Não podemos calar-nos!
E não se calam: falam diante dos príncipes, dos reis, governadores e diante do Sinédrio, com altivez inspirada e, cousa admirável: alegraram-se de poder sofrer afrontas pelo nome de Jesus.
Gaudentes quoniam digni habiti sunt pro nomine Jesu contumeliam pati. (At. 5, 41).
* * *
A 3ª. transformação é a do amor.
Amavam o divino Mestre, não havia mais dúvida quanto egoísmo neste!
Mas eis que o Espírito Santo, sob a forma de línguas de fogo, sopra sobre eles, e ei-los, de coração ardente, de palavra inflamada, a pregarem em toda parte o amor de seu divino Mestre.
Jesus havia dito: Vim trazer o fogo do amor à terra e que quero eu, se não que ele se acenda? (Lc. 12, 49).
O divino Mestre depositara no coração dos Apóstolos este fogo divino, e o Espírito Santo, soprando sobre eles, produziu estas chamas ardentes que devem abrasar o mundo inteiro.
Tal é a obra divina do Espírito Santo:
Produziu, no espírito dos Apóstolos, centelhas de verdade.
Fortificou a sua vontade, dando-lhe uma força divina.
Acendeu nos corações deles o fogo do divino amor.
III – CONCLUSÃO
Oh! como precisamos da festa de Pentecostes, para que estas mesmas transformações se operem em nós. Somos tão vacilantes no espírito, como o somos na vontade e no amor.
Precisamos de convicção religiosa, de luz para o espírito, para compreendermos melhor a grandeza, a beleza e a necessidade das verdades religiosas.
Precisamos de firmeza para a nossa vontade enfraquecida pelo ambiente mundano em que vivemos. Pobre vontade, joguete das ocasiões, dos perigos, das ideias mundanas; ela quer reagir e agir, mas sente-se paralisada pelo peso das tentações, do mundo, da carne e do demônio.
Precisamos de amor, deste amor nobre, puro, que não procura, egoisticamente, o gozo no amor, o gozo dos sentidos e da carne, mas agradar a quem ama.
Amar é dar… e não gozar! Gozar é o egoísmo.
Dar é esquecer-se de si mesmo, para agradar a quem ama.
Oh! imploremos ao Espírito Santo, que desça sobre nós, como desceu sobre os Apóstolos e opere em nós as mesmas transformações.
Notemos que tal graça foi concedida aos Apóstolos, enquanto perseveravam na oração, juntos com a Mãe de Jesus;
(Fonte: in, O Evangelho das Festas Litúrgicas e Dos Santos Mais Populares, Pe. Júlio Maria Lombaerd, Editora O Lutador, 2ª edição/1952 38ª Instrução, pp. 210-215 – Texto revisto e atualizado e destaques acrescidos)