Reinado do Coração de Jesus
PRIMÓRDIOS DA DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
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PRIMÓRDIOS DA DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
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O SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS NA ÉPOCA DOS GRANDES CONTEMPLATIVOS DOS SÉCULOS XI E XII
O mistério da Paixão de Jesus Cristo foi objeto das profundas e suaves meditações destas almas enamoradas de Deus; e deste mistério um fato é que principalmente as atraia: a chaga do costado. Entraram nesta chaga e, aí amorosamente recolhidas, estudaram-na e descobriram o tesouro que ela escondia, o Coração de Jesus. Os Santos Padres tinham descoberto nela a fonte da vida da Igreja e das almas; estas almas contemplativas deram o nome desta fonte divina e chamaram-na: o Coração de Jesus.
SANTO ANSELMO (1033 – 1 109) é o primeiro dentre essas almas. Depois de haver contemplado a flagelação de Jesus, Jesus crucificado entre os ladrões, e depois de morto, transpassado pela lança, exclama: «Jesus é doce na abertura do seu lado, porque aquela abertura revela-nos as riquezas da sua bondade, isto é, o amor do seu Coração por nós».
S. BERNARDO (1091 – 1153) considerado com razão como dos mais ternos devotos do Sagrado Coração, fala deste Coração no seu discurso nº 61 , no qual comenta as palavras dos cantares: a minha pomba nas aberturas da pedra. «Outro, diz ele, pelas aberturas da pedra, entende as chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo, e com razão: porque Jesus Cristo é a pedra… E onde senão nas chagas do Salvador poderão gozar tranquilidade segura o fraco e o enfermo?… O que poderei ver nestas chagas, senão a misericórdia do Senhor? O ferro traspassou sua alma e chegou a seu Coração, para que saiba compadecer-se das nossas enfermidades. As chagas do corpo nos manifestam o segredo do Coração, nos descobrem o grande mistério do amor».
Entre as obras do Santo Doutor, existe uma composição em versos, na qual ele considera e saúda com terno afeto a chaga do costado, o peito e o Coração de Jesus. A composição não é de S. Bernardo: remonta ao século XIII e pode considerar-se como um conjunto das devotas considerações, que alimentavam a piedade da idade média com referência a este precioso assunto.
Reproduzimos algumas estrofes.
À FERIDA DO COSTADO
Te saúdo ó costado do Salvador
Onde mel dulcíssimo se esconde,
Onde amor ardentíssimo se mostra
Onde uma fonte de sangue brota
Que lava a mancha dos corações.
Te saúdo ó mansa abertura
Da qual rebenta água límpida
Porta aberta e profunda
Mais vermelha do que a rosa
Remédio Salutar.
AO PEITO
Te saúdo Deus, salvação minha
Jesus doce amor meu
Te saúdo peito venerando
Ao qual me encosto com temor
Asilo da caridade
Jesus doce, é bom Pastor
Filho de Deus e de Maria
Na abundante fonte do teu Coração
Lava ó Pai amoroso
A sordície das minhas iniquidades.
AO CORAÇÃO
Salve ó Coração do Rei Supremo.
Te saúdo com o coração cheio de alegria
Apertar-te a meu peito é a minha felicidade
É este meu grande desejo
Infundi-me coragem para que te fale
Clamo a ti com a viva voz do coração
Porque te amo ó coração doce:
Inclina-te ao meu coração
De maneira que possa unir-me a ti
Devoto, coração a Coração
Dá-me a graça que meu coração ao teu seja unido
E contigo Jesus seja ferido;
Porque o coração será semelhante ao coração
Se meu coração for transpassado
Pelas setas dos ultrajes.
GUILHERME, abade cisterciense de Thierry, amigo de S. Bernardo, morto mais ou menos em 1150, na sua Meditação VI, diz assim: «As inefáveis riquezas da vossa glória, Ó Senhor, ficaram desconhecidas no céu misterioso do vosso ser, até a hora em que aberto o costado do vosso Filho, Nosso Senhor e Redentor, dele brotaram os Sacramentos de nossa redenção. E pela porta aberta não só introduzimos o nosso dedo e a nossa mão como S. Tomé; mas entramos com todo nosso corpo e chegamos até o vosso Coração, ó Jesus, segura morada da misericórdia».
Na meditação VIII falando do ósculo misterioso que Nosso Senhor dá às almas, exclama: «Senhor, e para onde atraís aqueles que estreitais em vossos braços senão para vosso Coração? O vosso Coração é o doce maná da Divindade… felizes os que por ele atraídos… afortunados os que defendeis neste misterioso refúgio, no meio do vosso Coração».
O BEATO GUERRICO abade cisterciense d’lgny, discípulo de S. Bernardo, morto em 1160, no seu discurso quarto do Domingo de Ramos, assim dizia : «Bendito seja aquele que, para permitir que me refugiasse na fenda da pedra, quis que fossem transpassados suas mãos, os seus pés e o seu costado: e abriu-se a si mesmo todo inteiro, para que eu penetrasse no lugar do tabernáculo admirável. Verdadeiramente piedoso e misericordioso abriu seu costado, a fim de que te vivificasse o sangue da chaga e o calor do corpo te reanimasse e pudesse, seguindo esta estrada, desafogar os sentimentos do seu Coração. Aí te esconderás sem medo, até que seja passada a iniquidade; aí não sofrerás frio porque nas entranhas de Jesus Cristo a caridade nunca se resfria».
GILBERTO DE HOLLAND (Inglaterra) cisterciense, morto em 1173 exprime nestes termos o seu terno amor ao Sagrado Coração de Jesus: «A ferida do Coração é a expressão da veemência do amor. Ó Coração cheio de doçura, que se deixa comover pelo nosso amor e para pedir-nos o nosso em troca do seu amor… Uma mulher toca a extremidade das suas vestes, e Ele sente sair de si uma virtude, quanto mais não sentirá quando a graça sai da sua pessoa Divina, quando o seu Coração é não somente levemente tocado, mas é ferido? Esta ferida não é sem uma significação; devemos considerá-la como o centro dos nossos desejos. E não é isto admirável, ó irmãos? E não reconheceis que é feliz a alma que fere e entra com seus devotos afetos no Coração mesmo de Jesus Cristo? Grande e violenta é a força do amor, que, semelhante a uma flecha, transpassa o Coração de Nosso Senhor».
RICARDO DE SÃO VICTOR. cônego regular (✞ 1173) em seu tratado de Emmanuele (L. II, cap. 24), escreve: «Fixemos nossa atenção sobre o Coração de Jesus Cristo e havemos de nos persuadir que não há nada de mais doce e mais misericordioso… Nenhum coração exultou com tanta plenitude de alegria como este Coração. Considera atentamente, e depois dize-me, se podes, a doçura deste Coração, que não se diminuiu nem com os sofrimentos da Paixão. Infinitamente mais perfeito do que qualquer outro, o Divino Emanuel teve um Coração de carne, capaz de compadecer-se de nossas misérias».
EGHEBERTO DE SCHONAU, que primeiro foi cônego e depois beneditino no mosteiro de S. Floriano na Diocese de Treveris (1185) contemplando a agonia de Jesus no horto diz: «O suor, que escorria por terra do vosso santíssimo corpo, durante vossa oração, indicava, ó Jesus, as agonias do vosso Coração. E nos garante que tornastes sobre vós nossas misérias e com vivos sentimento de dor percorrestes o caminho do sofrimento».
PEDRO DE BLOIS, Arcebispo perto de Londres (✞ 1200) em um discurso disse: «O ferro transpassou sua alma e aproximou-se do seu Coração, para que víssemos no seu Coração desvendados os arcanos misteriosos do seu Coração mesmo. O Profeta lsaias, que pôde percebê-los pela abertura das chagas, exclama maravilhado: «e quem poderá conhecer os sentimentos do Senhor? A lança me descobriu o segredo».
No fim do século XII, encontramos todos os elementos da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Da chaga do costado passou-se a do Coração, e do amor que fere o Coração, passou-se ao Coração que ama e pede em troca do seu amor o nosso amor.
(Fonte: livro, em formato PDF, EU REINAREI A Devoção ao Sagrado Coração de Jesus no seu desenvolvimento histórico, Pe. Fernando Piazza dos Menores dos Enfermos, tradução do Dr. Alberto Saladino Figueira de Aguiar, Escolas Profissionais do Lyceu Sagrado Coração de Jesus, São Paulo/1932, Cap. V – Os Grandes Contemplativos dos Séculos XI e XII, pp. 68-73, obtido do blog Alexandria Católica – Texto revisto e atualizado e alguns destaques acrescidos)