A Missa à distância e a Comunhão espiritual: para quando não for possível comungar sacramentalmente
Missa à distância
Temos hoje uma multidão de fiéis católicos que desejam assistir à santa Missa, como sempre fizeram, mas agora não podem. Muitos se escandalizam pela interrupção das celebrações, alguns não se conformam, consideram uma falta de fé da parte do clero. Pode-se discutir quanto a essas questões, mas a verdade é que objetivamente não há o que se fazer quanto a essa situação. Há uma multidão de católicos privados da santa Missa. Ponto.
Esta é uma situação inédita para todos nós, que faz lembrar as palavras do Profeta: “Buscai ao SENHOR enquanto se pode encontrar, invocai-o enquanto está perto” (Is 55,6). Quantos há que não o buscaram enquanto podiam, agora querem e já não podem mais encontrar o Senhor Sacramentado.
Este artigo, todavia, procura orientar e esclarecer de que modos podemos permanecer em comunhão íntima com Deus, mesmo nestes nossos tempos de crise nunca vista e de igrejas trancafiadas.
Sim. Na situação atual, assistir à Missa pela TV ou pela internet é uma opção válida. Claro e evidente que isso não é a mesma coisa do que estar presente à Celebração e comungar sacramentalmente, mas não deixa de ser uma prática piedosa que se pode adotar em situações extraordinários como esta que atravessamos agora. A propósito, para tanto sugerimos o canal do revmo. Padre Leonardo Wagner[1] no Youtube: este zeloso sacerdote passou a celebrar a Missa ao vivo diariamente, no rito extraordinário, sempre às 19 horas (acesse aqui).
* Os que se interessarem em assistir à Missa celebrada pelo Padre Leonardo, mas porventura não estiverem habituados ao latim, podem baixar o Missal latim-português neste link.
Comunhão espiritual
Quando não for possível, como agora, comungar sacramentalmente o Corpo de Cristo, seja por qualquer motivo, podemos ainda receber o Senhor em nossas almas, espiritualmente. E para tanto, basta ter este sincero e ardente desejo.
Mais comumente, a Comunhão espiritual foi praticada pelas pessoas que não se encontravam em estado de graça durante a santa Missa, ou por aquelas que não tinham observado o jejum eucarístico, ou ainda por aquelas que, por qualquer outro motivo, não pudessem comungar sacramentalmente naquele momento. Comungavam então espiritualmente, na hora própria da Comunhão durante a Missa. Evidentemente, pode-se comungar espiritualmente ao se assistir à Missa pela TV ou internet, durante o momento da Comunhão.
Mas essa prática não precisa ser realizada somente na hora da Missa. A Comunhão espiritual pode ser feita a qualquer momento, em qualquer lugar, e quantas vezes a pessoa desejar. Tristemente, poucos católicos sabem disso, e menos ainda são os que a praticam. Muitos sequer imaginam que essa preciosíssima devoção é tão proveitosa quanto é fácil de fazer. Muitos santos comungavam espiritualmente com frequência, até várias vezes todos os dias.
Para comungar espiritualmente, basta seguir o seguinte passo a passo:
1) Parar por algum tempo (5 ou 10 minutos já bastam) todas as suas atividades cotidianas, colocando-se, na medida do possível, em algum lugar calmo e silencioso (pode ser o ‘secreto do teu quarto’ citado por Nosso Senhor no Evangelho segundo S. Mateus, cap. 6, vs. 6);
2) Acalmar os pensamentos e focar a atenção em Cristo, evocando e aumentando suavemente, dentro de si, o desejo profundo de receber Jesus Salvador em sua alma;
3) O fiel deve recolher-se no seu íntimo, tomando uma atitude de humildade e recolhimento interior, formulando, logo em seguida, um ato de sincera contrição, batendo humildemente no peito em sinal de reconhecimento da própria indignidade de receber tão grande graça [pode ser o Confiteor recitado na Missa, ligeiramente adaptado para esse momento: ‘Confesso à Deus Todo-poderoso e a a vós, meus irmãos do Céu (pois não há outras pessoas presentes), que pequei muitas vezes, etc.’].
Recomenda-se ao fiel que professe ainda um ato de Fé na Eucaristia (‘creio firmemente, Jesus, que estais presente na Eucaristia’); um ato de amor (‘amo-vos de todo coração sobre todas as coisas’), um ato de desejo (‘desejo profundamente vos receber em minha alma’) e o pedido a Jesus para que venha espiritualmente ao seu coração, que ali permaneça e nunca o abandone;
4) Falar a Cristo, ainda que por um breve instante, do seu amor, da sua devoção e da sua entrega incondicional a Ele. Pode-se agradecer pela própria vida e pelo Sacrifício que o Senhor ofereceu na Cruz pela nossa salvação. Aprecie este momento sublime tão intensamente quanto lhe for possível, ainda que seja curto;
5) Por fim, conscientizar-se profundamente de que a Comunhão espiritual poderá cumular o devoto de preciosíssimas graças e dons espirituais, e mesmo temporais, desde que realmente necessários.
Dessa prática, diz São Leonardo de Porto-Maurício:
Ora, sabei que esta santa e bendita Comunhão espiritual, tão pouco praticada pelos cristãos de nossos dias, é um tesouro que cumula a alma de bens incalculáveis; e, no sentir de muitos autores, é de tal modo eficaz que pode produzir as mesmas graças que a comunhão sacramental. Com efeito, se vê que a Comunhão sacramental, na qual se recebe a santa Hóstia, seja por sua natureza de maior proveito, porque como Sacramento age ex operare operato, é possível, no entanto, que uma alma faça a Comunhão espiritual com tanta humildade, amor e fervor, que obtenha mais graças que não obteria outra, comungando sacramentalmente, mas com disposição menos perfeita.
Nosso Senhor, outrossim, ama tanto este modo de fazer a Comunhão espiritual, que muitas vezes se dignou atender com milagres visíveis os piedosos desejos de seus servos, dando-lhes a Comunhão ou por sua própria Mão, como fez à bem-aventurada Clara de Montefalco, a Santa Catarina de Sena, e a Santa Lidvina; ou pela mão dos santos anjos, como aconteceu a São Boaventura e aos santos bispos Honorato e Firmino; ou ainda, mais frequentemente, por meio da augusta Mãe de DEUS, que se dignou dar a Comunhão ao bem aventurado Silvestre.
Não vos admireis desta condescendência tão terna, pois a Comunhão espiritual abrasa a alma no Amor a DEUS, une-a Ele, e dispõe-na a receber as graças mais insignes.[2]
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Santo Afonso Maria de Ligório, o bispo e doutor da Igreja que fundou a Congregação dos Padres Redentoristas, explica o que é a comunhão espiritual de maneira simplérrima: “Consiste no desejo de receber a Jesus Sacramentado e em dar-lhe um amoroso abraço, como se já O tivéssemos recebido”. E sugere a seguinte oração:
“Oh meu Senhor Jesus, creio que estais presente no Santíssimo Sacramento; amo-vos sobre todas as coisas e desejo vos receber em minha alma. Já que agora não posso fazê-lo sacramentalmente (dizer o justo motivo), vinde ao menos espiritualmente a meu coração.
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Como se já tivesse recebido, abraço-vos e me uno todo a Vós; não permitais, Senhor, que volte jamais a vos abandonar. Amém!”
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1. Paróquia Pessoal Nossa Senhora do Rosário de Fátima e Santo Antônio de Pádua no Rio de Janeiro – RJ.
2. MAURÍCIO, Leonardo de Porto. As Excelências da Santa Missa, conforme a ed. romana de 1737 dedicada a S.S. o Papa Clemente XII, pp. 51-54.
(Fonte: O Fiel Católico – Alguns destaques acrescentados)