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AS SANTAS GERTRUDES E AS MATILDES OU MECTILDES DO MOSTEIRO DE HELFTA – ALEMANHA, AS JOIAS DA IGREJA E DO MONAQUISMO GERMÂNICO
AS SANTAS GERTRUDES E AS MATILDES OU MECTILDES DO MOSTEIRO DE HELFTA – ALEMANHA, AS JOIAS DA IGREJA E DO MONAQUISMO GERMÂNICO
INTRODUÇÃO
A nossa Sagrada Ordem Beneditina tem um acervo cultural e espiritual incomparável, bem como uma multidão de santos que nem mesmo nós, os monges, conhecemos toda a sua riqueza. Ao adentrarmos na história monástica e na sua espiritualidade, ficamos sempre perplexos ao descobrirmos coisas novas e sempre atuais com as quais podemos sem dúvida alguma ajudar os nossos irmãos, para o crescimento do reino de Deus.
Nesta vastidão de tesouros, aqui, concedo aos meus leitores, quatro grandes mulheres, verdadeiras jóias da Igreja e do monaquismo, principalmente o monaquismo germânico. Estas viveram no século XIII no mesmo Mosteiro, na importante Abadia de Helfta na Alemanha. Mulheres que, abertas a graça de Deus, foram iluminadas pelo Espírito Santo, por isso, deixaram elas um legado para toda a humanidade e jamais serão esquecidas no tempo como afirma o Livro dos Provérbios: “Todos esses foram honrados por seus contemporâneos e glorificados já em seus dias. Alguns deles deixaram um nome que ainda é citado com elogios”(Pr 44, 7-8).
Na Abadia de Helfta, viveram no mesmo período, a grande Abadessa Gertrudes de Hackeborn, sua irmã Santa Matilde ou Mectilde de Hackeborn, Santa Gertrudes de Helfta ou Magna, discípula de Santa Matilde e Santa Matilde ou Mectilde de Magdeburgo. Por muitos confundirem estas santas monjas, dar-vos-ei uma breve explicação da vida de cada uma delas, quem ingressou primeiro no Mosteiro e suas obras, para que assim saibam distingui as Gertrudes e as Matilde ou Mectilde do Mosteiro de Helfta.
Que Nosso Patriarca São Bento interceda por todos nós e nos guie sempre Àquele que ele tanto amou e hoje está com Ele no céu. Amém.
AS SANTAS GERTRUDES E AS MATILDES OU MECTILDES DO MOSTEIRO DE HELFTA – ALEMANHA, AS JOIAS DO MONAQUISMO GERMÂNICO
Santa Gertrudes de Helfta ou a Grande, O.S.B (1256-1302), é sempre confundida com uma outra grande Abadessa da importantíssima Abadia de Helfta na Alemanha, a Abadessa Santa Gertrudes de Hackeborn, O.S.B (1231/32-1291/92). Também são confundidas outras duas Santas da mesma Abadia. São elas: Santa Matilde ou Mectilde de Hackeborn, O.S.B (1241/42-1298), esta era irmã de sangue de Santa Gertrudes de Hackeborn e a outra era Santa Matilde ou Mectilde de Magdeburgo, O.S.B (1207-1282). Estas quatro Santas são para a Germânia verdadeiras pérolas do cristianismo.
Pois bem, entendamos como foram as relações dessas Santas e o que representaram na vida da importante e imponente Abadia de Helfta.
No imponente Mosteiro de Helfta já existia Gertrudes de Hackeborn, a qual teve um longo e frutuoso abaciado de 40 anos. Numa audiência dada pelo nosso querido Papa emérito Bento XVI, em 29 de setembro de 2010, o Pontífice nos fala de Gertrudes de Hackeborn. Nos diz ele:
O Barão já tinha dado ao mosteiro uma filha, Gertrudes de Hackeborn (1231/1232 — 1291/1292), dotada de uma personalidade acentuada, Abadessa por quarenta anos, capaz de dar um cunho peculiar à espiritualidade do mosteiro, levando-o a um florescimento extraordinário como centro de mística e de cultura, escola de formação científica e teológica. Gertrudes ofereceu às monjas uma elevada educação intelectual, que lhes permitia cultivar uma espiritualidade fundada na Sagrada Escritura, na Liturgia, na Tradição patrística, na Regra e na espiritualidade cisterciense, com preferência especial por São Bernardo de Claraval e Guilherme de Saint-Thierry. Foi uma verdadeira mestra, exemplar em tudo, na radicalidade evangélica e no zelo apostólico. Desde a infância, Matilde acolheu e saboreou o clima espiritual e cultural criado pela irmã, oferecendo depois a sua contribuição pessoal (BENTO XVI. Audiência geral – 29 de setembro de 2010).
A sua irmã Matilde ou Mectilde de Hackeborn, como queira chamá-la, ainda muito jovem, ao visitá-la, na Abadia, fica encantada com a vida monástica e decide também ingressar para o Mosteiro. Ouçamos mais uma vez o Papa em sua audiência sobre Santa Matilde de Hackeborn:
Matilde (Hackeborn) nasce em 1241, ou 1242, no castelo de Helfta; é a terceira filha do Barão. Com sete anos de idade, visita com a mãe a irmã Gertrudes no mosteiro de Rodersdorf. Fica tão fascinada por aquele ambiente, que deseja ardentemente fazer parte dele. Entra como educanda e, em 1258, torna-se monja no convento que, entretanto, se tinha transferido para Helfta, na quinta dos Hackeborn. Distingue-se por humildade, fervor, amabilidade, pureza e inocência de vida, familiaridade e intensidade com que vive a relação com Deus, a Virgem e os Santos. É dotada de elevadas qualidades naturais e espirituais, como «a ciência, a inteligência, o conhecimento das letras humanas, a voz de uma suavidade maravilhosa: tudo a tornava apta para ser no mosteiro um autêntico tesouro, sob todos os aspectos» (Ibid., Introdução). Assim, «o rouxinol de Deus» — como é chamada — ainda muito jovem, torna-se diretora da escola do mosteiro, diretora do coro, mestra das noviças, serviços que desempenha com talento e zelo incansável, não só em vantagem das monjas, mas de quem quer que desejasse haurir da sua sabedoria e bondade (BENTO XVI. Audiência geral – 29 de setembro de 2010).
E continua o Papa:
A discípula Gertrudes (Santa Gertrudes de Helfta ou a Grande) descreve com expressões intensas os últimos momentos da vida de Santa Matilde de Hackeborn, duríssimos mas iluminados pela presença da Beatíssima Trindade, do Senhor, da Virgem Maria e de todos os Santos, mas inclusive da irmã de sangue, Gertrudes. Quando chegou a hora em que o Senhor quis chamá-la para junto de Si, ela pediu-lhe para poder viver ainda no sofrimento, para a salvação das almas, e Jesus compadeceu-se deste ulterior sinal de amor. […] Matilde tinha 58 anos. Percorreu a última etapa caracterizada por oito anos de graves doenças. A sua obra e a sua fama de santidade difundiram-se amplamente. Quando chegou a sua hora, «o Deus de Majestade… única suavidade da alma que O ama… cantou-lhe: Venite vos, benedicti Patris mei… Vinde, ó vós que sois os benditos do meu Pai, vinde receber o reino… e associou-o à sua glória» (Ibid., VI, 8). (BENTO XVI. Audiência geral – 29 de setembro de 2010).
Aconteceu que quando Matilde completou 20 anos de idade, ingressa também uma menina em tenra idade, chamada Gertrudes; aquela que depois ficou conhecida como Santa Gertrudes de Helfta ou a Grande. Ela é bastante conhecida por causa das visões do Sagrado Coração de Jesus e por escrever um livro sobre as revelações de Jesus feitas a Santa Matilde de Hackeborn. Santa Gertrudes de Helfta era discípula de Santa Matilde de Hackeborn, e tinha outra discípula amiga de Gertrudes, a qual não conhecemos o seu nome. Gertrudes, juntamente com essa monja foi quem escreveram um livro onde contam as revelações do Sagrado Coração de Jesus a Santa Matilde de Hackeborn. Pois Santa Matilde de Hackeborn não queria essas revelações escritas. Por isso, as duas monjas sem que Matilde soubesse iam redigindo tais revelações. Ao saber, Matilde, dos empreendimentos das suas monjas discípulas, ficou muito triste e, com isso, queixa-se a Jesus. Porém, Jesus aprova o trabalho de suas duas discípulas e pede que continuem a escrever o livro que ainda não tinha terminado de escrever, porque este traria muitas graças para um grande número de almas. Esta Obra chama-se: “Das graças especiais”. Por conta desse fato, Santa Matilde de Hackeborn fica no anonimato e Gertrudes de Helfta em evidência. De Santa Gertrudes nos diz o nosso Santo Padre Bento XVI:
Em 1261 chegou ao convento uma criança de cinco anos, chamada Gertrudes: é confiada aos cuidados de Matilde, com apenas vinte anos, que a educa e guia na vida espiritual, a ponto de fazer dela não só a discípula excelente, mas também a sua confidente (BENTO XVI. Audiência geral – 29 de setembro de 2010).
Na mesma Abadia de Helfta, pouco tempo depois, aparece uma outra Matilde ou Mectilde; a de Magdeburgo, que também começa a ter visões e revelações do Sagrado Coração de Jesus. Escrevendo, esta, uma importante Obra chamada “A luz fulgurante da aurora”. Neste livro ela narra o amor do Sagrado Coração, fala sobre a esposa do Cântico dos Cânticos, do jardim, sobre a água, dos pássaros, etc. Ouçamos o mesmo Pontífice falar de Matilde de Magdeburgo:
Em 1271, ou 1272, entra no mosteiro também Matilde de Magdeburgo. Assim, o lugar acolhe quatro grandes mulheres — duas Gertrudes e duas Matilde — glória do monaquismo germânico (BENTO XVI. Audiência geral – 29 de setembro de 2010).
E ainda:
As suas visões, os seus ensinamentos e as vicissitudes da sua existência são descritos com expressões que evocam a linguagem litúrgica e bíblica. É assim que se entende o seu profundo conhecimento da Sagrada Escritura, que era o seu pão de cada dia. Recorre a ela continuamente, quer valorizando os textos bíblicos lidos na liturgia, quer haurindo símbolos, termos, paisagens, imagens e personagens. A sua predileção é pelo Evangelho: «As palavras do Evangelho eram para ela um alimento maravilhoso e suscitavam no seu coração sentimentos de tanta docilidade, que muitas vezes, pelo entusiasmo, não conseguia terminar a sua leitura… O modo como lia aquelas palavras era tão fervoroso, que em todos suscitava a devoção. Assim também, quando cantava no coro, vivia totalmente absorvida em Deus, transportada por tanto ardor que às vezes manifestava os seus sentimentos com gestos… Outras vezes, como que arrebatada em êxtase, não ouvia quantos a chamavam ou a moviam, e mal conseguia retomar o sentido das coisas exteriores» (Ibid., VI, 1) (BENTO XVI. Audiência geral – 29 de setembro de 2010).
Tão importante são estas santas mulheres do Mosteiro de Helfta, que o escritor e Poeta italiano, Dante Alighieri (1265-1321), faz referência, em sua Obra, a uma delas – Matilde. Porém, não sabemos, por certo, de qual Matilde ele se refere. Se a de Hackeborn ou a de Magdeburgo.
Peçamos sempre ao bom Deus a sua iluminação para que possamos a exemplo dessas ilustríssimas e santas mulheres ser um sinal de bênçãos para os nossos irmãos e que contribuamos para o crescimento do seu Reino na terra.
AS QUATRO PÉROLAS DO MOSTEIRO DE HELFTA – ALEMANHA A GLÓRIA DO MONAQUISMO GERMÂNICO
1- Abadessa Gertrudes de Hackeborn, O.S.B
(1231/32-1291/92)
2- Santa Matilde ou Mectilde de Hackeborn, O.S.B
(1241/42-1298)
3- Santa Gertrudes de Helfta ou Magna, O.S.B
(1256-1302)
4- Santa Matilde ou Mectilde de Magdeburgo, O.S.B
(1207-1282)
___Referências (da fonte)
GERTRUDES, Santa. Segredos do Coração de Jesus. Revelações de Santa Gertrudes, livro II / Santa Gertrudes; [tradução: Celso da Costa Carvalho Vidigal]. – Artpress – São Paulo, 2011.
______, Santa. Mensagem do amor de Deus. Revelações de Santa Gertrudes, livro III / Santa Gertrudes; [tradução: Celso da Costa Carvalho Vidigal]. – Artpress – São Paulo, 2009.
https://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/audiences/2010/documents/hf_ben-xvi_aud_20100929.html
MARTIRIOLÓGIO ROMANO-MONÁSTICO. Abadia de São Pierre de Solesmes / traduzido e adaptado para o Brasil pelos monges do Mosteiro da Ressurreição / Ponta Grossa, PR – Mosteiro da Ressurreição, edições, 1997.
_______Dom Gilvan Francisco dos Santos, O.S.B (Monge Beneditino)
Salvador, Bahia – 29 de junho de 2018
(Fonte: blog Dimensão da Escrita)