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CONFIANÇA! CONFIANÇA!

CONFIANÇA! CONFIANÇA!

Nosso Senhor salva Pedro das águas – Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Tampa (EUA) – Foto: Angelis Ferreira (Revista Arautos do Evangelho, Abril/2018).

Voz do Cristo, voz misteriosa da graça que ressoais no silêncio dos corações, vós murmurais no fundo das nossas consciências palavras de doçura e de paz. As nossas misérias presentes repetis o conselho que o Mestre dava, frequentemente, durante a sua vida mortal: “Confiança, confiança!”

À alma culpada, oprimida sob o peso de suas faltas, Jesus dizia: “Confiança, filha, teus pecados te serão perdoados!” (1). “Confiança”, dizia ainda à doente abandonada que só d Ele esperava a cura, “tua fé fé salvou” (2). Quando os Apóstolos tremiam de pavor vendo-O caminhar, de noite, sobre o lago de Genesaré, Ele os tranquilizava por esta expressão pacificadora: “Tende confiança! Sou Eu, nada temais!” (3). E na noite da Ceia, conhecendo os frutos infinitos do seu Sacrifício, lançava Ele, ao partir para a morte, o brado de triunfo: “Confiança! Confiança! Eu venci o mundo!.…” (4).

Esta palavra divina, ao cair de seus lábios adoráveis, vibrante de ternura e de piedade, operava nas almas uma transformação maravilhosa. Um orvalho sobrenatural lhes fecundava a aridez. clarões de esperança lhes dissipavam as trevas, uma calma serenidade delas afugentava a angústia. Pois as palavras do Senhor são “espírito e vida” (5). Bem-aventurados os que a ouvem e a põem em prática” (6). Como outrora aos seus discípulos, é a nós, agora, que Nosso Senhor convida à confiança. Porque recusaríamos atender à sua voz?.

Poucos cristãos, mesmo entre os fervorosos, possuem essa confiança que exclui toda ansiedade e toda hesitação. Várias são as causas dessa deficiência. O Evangelho narra que a pesca miraculosa aterrou São Pedro. Com a impetuosidade habitual, ele mediu de relance a distância infinita que separava da sua própria pequenez a grandeza do Mestre. Tremeu de terror sagrado, e prosternando-se, face contra a terra:
“Afastai-Vos de mim, Senhor, exclamou, que sou um pecador!” (7).

Certas almas têm, como o Apóstolo, esse terror. Elas sentem tão vivamente a própria indigência e as próprias misérias, que mal ousam aproximar-se da Divina Santidade. Parece-lhes que um Deus assim puro deveria sentir repulsão ao inclinar-Se para elas. Triste impressão, que lhes da à vida interior uma atitude contrafeita, e, por vezes, a paralisa completamente.

Como se enganam essas almas!

Logo aproximou-Se Jesus do Apóstolo assustado “Não temas !” (8) disse-lhe. e o fez levantar-se…

Vós também, cristãos, que do seu amor tantas provas recebestes, nada temais! Nosso Senhor receia acima de tudo que tenhais medo d’Ele. Vossas imperfeições, vossas fraquezas, vossas faltas, mesmo graves, vossas reincidências tão frequentes, nada O desanimará, contanto que desejeis sinceramente converter-vos. Quanto mais miseráveis sois, mais Ele tem compaixão de vossa miséria, mais deseja cumprir, junto a vós, sua missão de Salvador

Não foi sobretudo para os pecadores que Ele veio à terra (9)? …

A outras almas falta a fé. Elas têm certamente essa fé comum, sem a qual trairiam a graça do Batismo. Creem que Nosso Senhor é todo-poderoso, bom e fiel a suas promessas; mas não sabem aplicar essa crença às suas necessidades particulares. Não são dominadas pela convicção irresistível de que Deus, atento às suas provações, para elas Se volve a fim de socorrê-las.

Jesus Cristo pede-nos, no entanto, essa fé especial e concreta. Ele a exigia outrora como condição indispensável dos seus milagres ; espera-a ainda de nós, antes de nos
conceder os seus benefícios …

“Se podes crer, tudo é possível àquele que crê”(10) dizia ao pai do pequenino possesso. E, no convento de Paray-le-Monial, empregando quase os mesmos termos,
repetia a Santa Margarida Maria: “Se puderes crer, verás o poder do meu Coração na magnificência do meu amor…”.

Podeis crer? Podereis chegar a essa certeza tão forte que nada a abala, tão clara que equivale à evidência? …

Isso é tudo. Quando chegardes a esse grau de confiança vereis maravilhas realizarem-se em vós.

Pedi ao Mestre Divino que aumente a vossa fé. Repeti-Lhe com frequência a prece do Evangelho: Eu creio, Senhor, mas ajudai a minha incredulidade ! . ..” (11).

A desconfiança, sejam quais forem as suas causas, nos traz prejuízo, privando-nos de grandes bens.

Quando São Pedro, saltando da barca, se lançou ao encontro do Salvador, caminhou, a princípio, com firmeza sobre as ondas. Soprava o vento com violência. As vagas ora levantavam-se em turbilhões furiosos ora cavavam no mar abismos profundos... A voragem abria-se diante do Apóstolo. Pedro tremeu... hesitou um segundo, e, logo, começou a afundar… “Homem de pouca fé, disse-lhe Jesus, porque duvidaste?…” (12).

Eis a nossa história. Nos momentos de fervor, ficamos tranquilos e recolhidos ao pé do Mestre. Vindo a tempestade, o perigo absorve a nossa atenção. Desviamos então os olhares de Nosso Senhor para fitá-los ansiosamente sobre os nossos sofrimentos e perigos. Hesitamos… e afundamos logo! Assalta-nos a tentação. O dever se nos torna enfadonho, a sua austeridade nos repugna, o seu peso nos oprime. Imaginações perturbadoras nos perseguem. A tormenta ruge na inteligência, na sensibilidade, na carne…

E perdemos pé; caímos no pecado, caímos no desânimo, mais pernicioso do que a própria falta. Almas sem confiança, porque duvidamos?

A provação nos assalta de mil maneiras. Ora os negócios temporais periclitam, o futuro material nos inquieta. Ora a maldade ataca-nos a reputação. A morte quebra os laços de afeições das mais legítimas e carinhosas. Esquecemos, então, o cuidado maternal que tem por nós a Providência… Murmuramos, revoltamo-nos, aumentamos assim as dificuldades e o travo doloroso do nosso infortúnio.

Almas sem confiança, porque duvidamos?…

Se nos tivéssemos apegado ao Divino Mestre com uma confiança tanto maior quanto mais desesperada parecesse a situação, nenhum mal desta nos adviria … Teríamos caminhado calmamente sobre as ondas; teríamos chegado, sem tropeços, ao golfo tranquilo e seguro, e, breve, teríamos achado a plaga hospitaleira que a luz do Céu ilumina.

Os Santos lutaram com as mesmas dificuldades… muitos dentre eles cometeram as mesmas faltas. Mas estes, ao menos, não duvidaram… Ergueram-se sem Tardança, mais humildes após a queda, não contando, desde então, senão com os socorros do Alto… Conservaram no coração a certeza absoluta de que, apoiados em Deus, tudo poderiam. Não foram iludidos nessa confiança (13)!

Tornai-vos, pois, almas confiantes. Nosso Senhor a isso vos convida; e o vosso interesse assim o exige. Tornar-vos-eis, ao mesmo tempo, almas iluminadas, almas de paz.

 

 

 

_________________

(1) Confide, fili, remittuntur tibi peccata tua. Mfakus, IX, 9.
(2) Confide, filia, fides tua te salvam fecit. Matens, IX. 98.
(3) Confidite, ego sum, nolite timoro. Marcos, IV, 60.
(4) Confidite, ego vici mundum. João, VI. $5.
(6) Verba quae ego locutus sum vobis, spiritus et vita sunt. Jodo, VI, 54.
(6) Benti qui sudiunt verbum Dei et custodiunt illud. Lucae, XI, 29.
(7) Exi a me, quia homo peccator sum, Domine. Lucas, V. 8.
(8) Noli timere. Lucas, V. 10.
(9) Non enim veni voenre justos sed peccatores. Marcos, IL, 17.
(10) Si credere potes, omnin possibilia runt credenti. Marcos, 7X, 38.
(11) Credo, Domine; adjuva incredulitatem mese. Marcos. IX, 9s.
(12) Modicae fidei, quare dubitasti? Mateus, XIV, 31.
(13) Spes autom non confundit. Romanos, V, 5.

 

(Fonte: opúsculo O Livro da Confiança, Pe. Thomas de Saint-Laurent, Editora Catolicismo, Cap. I – excertos, 1, 2 e 3, pp. 09-14 – O título é nosso)

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