CatolicismoRito Tradicional

DIA 2 DE NOVEMBRO, COMEMORAÇÃO DOS FIÉIS DEFUNTOS

DIA 2 DE NOVEMBRO, COMEMORAÇÃO DOS FIÉIS DEFUNTOS

Ó Senhor, dai o eterno descanso às almas dos fiéis defuntos e fazei que o pensamento da morte me estimule a uma maior generosidade.

1 – «Depois de haver exaltado com dignos louvores os seus filhos, que já gozam no céu, a Igreja, nossa boa Mãe, quer socorrer as almas que ainda sofrem no lugar de purificação e intercede por elas com todas as suas forças, diante do Senhor e do seu Esposo Cristo, para que possam juntar-se quanto antes à comunidade dos eleitos no céu» – lemos no Martirológio romano. Ontem contemplávamos a glória da Igreja triunfante e implorávamos a sua intercessão; hoje contemplamos as penas expiatórias da Igreja padecente e solicitamos para ela o auxílio divino: «Dai-lhes, Senhor, o eterno descanso». É o dogma da comunhão dos santos posto em ato: a Igreja triunfante intercede por nós, Igreja militante e nós corremos em auxílio da Igreja padecente. A morte arrebatou-nos entes queridos, e contudo não pode haver verdadeira separação daqueles que expiraram no ósculo do Senhor; o vínculo da caridade continua a unir… nos a todos, estreitando num só abraço a terra, o céu e o purgatório, de maneira que entre estes três polos circula o auxílio fraterno, fruto do amor, que tem por fim o triunfo do amor na glória comum do Paraíso.

A liturgia do dia está impregnada de tristeza, mas não da tristeza dos «que não têm esperança» (1Tess. 4, 4-12), porque para além dela resplandece a fé na bem-aventurada ressurreição, na felicidade eterna que nos espera. As três passagens escolhidas para o Evangelho das três Missas dos Defuntos falam- nos destas consoladoras verdades do modo mais autorizado, relatando as próprias palavras de Jesus: «A vontade do Pai que me enviou é que eu não perca nenhum daqueles que me deu, mas que os ressuscite no último dia» (Ev. II Missa: Jo. 6, 39). Haverá afirmação mais consoladora do que esta? Jesus apresenta-Se hoje como o bom pastor que não quer perder nem sequer uma das Suas ovelhas e a nada Se poupa para as conduzir todas ao lugar de salvação. Como que a responder às doces promessas de Jesus, a Igreja, cheia de reconhecimento e entusiasmo, exclama: «Em verdade, Senhor, para os Vossos fiéis, a vida não acaba, apenas se transforma; e, desfeita a casa deste exílio terrestre, uma eterna morada se adquire nos céus» (Prefácio). Bem mais do que um fim inexorável, a morte é para o cristão uma porta aberta .para a eternidade, porta :que o introduz na vida eterna.

2 – O dia dos mortos faz-nos pensar não só na morte das pessoas queridas, mas também na nossa. A morte é um castigo, e, portanto, traz necessariamente consigo um sentimento de pena, de temor, de medo; também os Santos o experimentaram e até Jesus o quis experimentar. Mas a Igreja põe-nos diante dos olhos as passagens escriturísticas mais aptas para nos encorajarem: «Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor… descansem dos seus trabalhos, porque as suas obras os seguem» (Ep. III Missa: Ap. 14, 13). Morre a vida do corpo, morre o que é humano e terreno, mas permanece a vida do espírito, permanecem as boas obras realizadas, único apanágio que segue a alma no grande passo e torna preciosa a sua morte: «Preciosa aos olhos do Senhor é a morte dos seus santos». Essa morte foi justamente definida dies natalis, o dia do nascimento para a vida eterna. Quanto não desejaríamos que a nossa morte fosse assim! Um dies natalis, que nos introduzisse na visão beatífica, que nos fizesse nascer para o amor indefectível do céu!

Mas ao convidar-nos a orar pelos fiéis defuntos, a liturgia recorda-nos hoje que entre a morte e a bem-aventurança eterna está o purgatório. Precisamente porque as nossas obras nos seguem, e nem todas são boas ou, se o são, estão cheias de imperfeições e defeitos, é necessário que a alma seja purificada de todas as suas impurezas, antes de ser admitida à visão de Deus. Todavia, se fôssemos perfeitamente fiéis à graça, não seria necessário o purgatório. Deus encarrega-Se de purificar, já neste mundo, aqueles que se entregam totalmente a Ele e se deixam trabalhar e moldar segundo a Sua vontade. Além disso, a purificação realizada na terra tem a grande vantagem de ser meritória, ou seja, de aumentar em nós a graça e a caridade e de nos pôr assim em condições de amar mais a Deus por toda a eternidade, ao passo que no purgatório se sofre sem crescer no amor. Por este motivo devemos desejar ser purificados em vida. Contudo não tenhamos ilusões: também neste mundo a purificação total requer grandes sofrimentos. Se agora não somos generosos no sofrimento, se não somos capazes de aceitar o sofrimento nu e puro, semelhante ao de Jesus na cruz, a nessa purificação terá necessariamente de ser completada no purgatório.

Que o pensamento deste lugar de expiação nos torne zelosos em aliviar as almas dos defuntos e, ao mesmo tempo, corajosos para abraçar o sofrimento em reparação das nossas culpas.

(Foto: Wikipedia)

Colóquio «Concedei-me, ó Senhor, que com a morte dos entes queridos experimente uma aflição razoável, derramando lágrimas resignadas sobre a nossa condição mortal, depressa reprimidas pelo consolador pensamento da fé, a qual me diz que os fiéis, ao morrerem, somente se afastam um pouco de nós para irem a um lugar melhor.

«Não consintais que eu me entristeça como os gentios que não têm esperança. Poderei de fato experimentar tristeza, mas quando estiver aflito, que a esperança me conforte. Com uma esperança tão grande, não fica bem, Senhor, que o Vosso templo esteja de luto. Aí morais Vós, que sois o consolador, aí morais Vós, que não faltais às Vossas promessas» (Sto Agostinho).

«Ó Dono e Criador do universo, ó Senhor da vida e da morte, Vós conservais e cumulais de benefícios as nossas almas. Vós fazeis e transformais tudo com a obra do Vosso Verbo, na hora estabelecida e segundo o plano da Vossa sabedoria; acolhei hoje os nossos irmãos defuntos e dai-lhes o eterno descanso.

«Quanto a nós, acolhei-nos no momento que Vos aprouver depois de nos terdes guiado e deixado na carne o tempo que Vos parecer útil e salutar.

«Possais Vós acolher-nos no último dia preparados pelo Vosso temor, sem perturbação nem hesitação; que não deixemos com pena as coisas da terra, como sucede aos que estão demasiadamente apegados ao mundo e à carne: que partamos decididos e felizes para a vida longa e bem-aventurada que está em Jesus Cristo, nosso Senhor, ao qual pertence a glória pelos séculos dos séculos. Amém» (S. Gregório Nazianzeno).

FONTE: livro Intimidade Divina Meditações Sobre a Vida Interior para Todos os Dias do Ano, Pe. Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD, Edições Carmelitanas, Porto-Portugal, 2ª edição/1967, Festas Fixas, pp. 1490-1494 – Texto revisto e atualizado.

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