Jesus Cristo, Sabedoria Eterna e EncarnadaRito Tradicional

FESTA DA ASCENSÃO DO SENHOR

FESTA DA ASCENSÃO DO SENHOR

(Epístola: At. 1, 1-11; Evangelho: Mc. 16, 14-20)

Homens da Galiléia, porque olhais para o céu?

Este Jesus que foi arrebatado de vós para o céu,

voltará do mesmo modo, aleluia. (primeira antífona do Ofício

das Laudes, Diurnal Monástico, Vol. I)

Esta festa instituída, como entende Santo Agostinho, pelos Apóstolos, bem como a da Páscoa e de Pentecostes, prova a fé da Igreja universal em todos os mistérios do Homem-Deus, os quais é remate e realização suprema a gloriosa Ascensão.

Conforme a ordem que dera Cristo S. N. aos Apóstolos e discípulos, reuniram-se estes no dia marcado, sobre uma montanha de Galiléia por ele designada, em número de mais ou menos quinhentos. Deu-lhes Jesus as últimas instruções para a propagação da lei evangélica; de novo assegurou-lhes que estaria com eles até a consumação dos séculos, e com sua Igreja, para a defender, governar e dar-lhe o triunfo contra o inferno e o mundo.

Nos quarenta dias antes da Ascensão convenceu Cristo S. N. aos Discípulos da sua verdadeira ressurreição, mostrou-lhes, em frequentes aparições, que estava vivo, comendo várias vezes com eles, doutrinando-os no reino do céus, isto é, em todos os mistérios da religião, de cuja compreensão se tornaram mais capazes desde que lhes dissera, soprando sobre eles, no dia da Ressurreição: Recebei o Espírito Santo.

Verdade é que só no dia de Pentecostes receberam os discípulos a plenitude dos dons do Espírito Santo, aqui marcados pelo Batismo do Espírito Santo; e só em relação ao poder das chaves, ou poder do absolver no sacramento de Penitência, lhes foi dito: Recebei o Espírito Santo; pode-se, todavia, dizer desde já tornou-se-lhes o espírito mais esclarecido, menos grosseiro, e mais aparelhado para ouvir as grandes verdades, que o Mestre até então só lhes dissera por modos figurados e misteriosos. Nesse mesmo tempo ensinou ao Apóstolos enquanto importava, para o estabelecimento e governo da Igreja, prescreveu-lhes muitas coisas que não nos vêm na Escritura, senão pela tradição cristã.

A fé viva, acompanhada das obras, é que salva. Sem a fé, não há salvação; a fé, porém, não vale se não for acompanhada da observância da lei de Deus.

Muitas graças damos ao Senhor por termos nascido na religião católica, fora da qual não há salvação; creiamos em tudo que ela nos ensina; nisso, porém, não fiquemos; seja nossa vida conforme a fé que, de modo contrário, só servirá esta para agravar nossa condenação.

A Igreja, em geral, foi feita à promessa de milagres, para certas ocasiões, e esta vemos realizada em todos os tempos, quanto foi necessário para bem da Igreja e progresso do cristianismo. Em todos os séculos teve a Igreja católica, apostólica, romana, porquanto não há seita herética ou cismática onde apareça um milagre sequer. O cisma, o erro, não podem esperar de Deus semelhante confirmação.

Nesta última entrevista, no dia da Ascensão, repreendeu o Senhor a pouca fé dos Apóstolos, exprobou-lhes com suavidade e renitência de alguns em acreditar no testemunho dos que primeiro o viram ressuscitado. Relembrou-lhes quanto tinha predito da sua morte e ressurreição agora verificadas. Ide, acrescentou o Salvador, ide anunciar a toda terra o mistério da minha Ressurreição e outras maravilhas que vistes com vossos olhos; pregai a todos os povos as grandes verdades que vos ensinei, dar-vos-ei tais discursos e tal sabedoria, que não poderão as nações conjuradas contra vós nem responder, nem resistir-vos. Nada temais, estarei convosco até a consumação dos séculos, e, por maior que seja a sanha e furor de vossos inimigos, todo fogo de perseguição não fará cair um cabelo de vossa cabeça, porquanto serei revestidos de força sobrenatural pelo Espírito Santo, que breve vou mandar-vos.

Assim despedido da terra, penetrou Jesus Cristo em um instante todos os céus, e foi sentar-se, como Filho unigênito de Deus, à direita de seu Pai, no mesmo trono, comunicando desde já à sua Humanidade a plenitude da glória.

Não ocupa o Pai Eterno, no Céu, lugar determinado, não se assenta em trono material, com direita e esquerda, com assento e escabelo. Usa a Sagrada Escritura de tais modos de falar, em certos casos, conformando-se com nosso modo de idear, pondo-se ao alcance do povo, que costuma afigurar-se Deus como um monarca entronizado no meio de numerosa Corte. Dizemos assentado à direita, para significar o soberano poder de Nosso Senhor Jesus Cristo sobre todas as criaturas e sua perfeita igualdade com o Pai.

Depois de abrir-nos caminho para a Jerusalém celeste e abrir-nos as portas, sobe Jesus ao Céu para guardar-nos os lugares que nos preparou. Nosso Advogado lá pleiteia a nossa causa. Filhinhos meus, para que não pequeis; mas, sem alguém ainda tem pecado, temos por Advogado para com nosso Pai, Jesus Cristo Justo, porque ele é a propiciação pelos nossos pecados, e pelos de todo o mundo (I João 2, 1). Pontífice eterno, reconcilia-nos com o Pai, apresentando-lhe os estigmas de seus pés e mãos adoráveis e demais, continuando sobre a terra o sacrifício do Calvário, ergue-o como poderoso amparo contra os raios da divina justiça. Primeiro entre seus irmãos, os irmãos somos nós, apresenta por nós seus títulos à herança eterna. Seu direito como Deus è sua natureza, como homem seu sangue; conquistou o Céu, para nós o conquistou.

Acompanhemos, pois, a Águia sublime que hoje desfere voo para o Céu, estende-nos as asas para nelas carregar-nos consigo. Tomai sentido, porém, diz S. Agostinho, que não sobe ao Céu o orgulho com o Deus da humildade, a avareza com o Deus pobre, a moleza com o Deus do Calvário, a impureza com o Filho da Virgem, nem vício algum com o Pai das virtudes.

ORAÇÃO

Filho único de Deus, Pontífice dos bens futuros, que entrastes hoje no Céu, santuário verdadeiro, apenas figurado pelo da lei antiga, para lá consumar o sacrifício da nova aliança começado na cruz, aplicando-nos copiosos frutos deste mistério. Desprendei-nos da terra que deixais; seja ela para nós lugar de banimento, e verdadeiro desterro, onde, hóspedes e peregrinos, só caminhemos para o céu, nossa pátria. Fazei, Senhor, que não tenhamos aqui felicidade senão a de pertencer-vos; seja nossa alegria fazer-vos a santa verdade, nossa esperança a do prêmio que sois vós. À imitação dos Apóstolos, não olhemos para trás, senão para a frente sempre, e envidemos todas as forças para alcançarmos o fim prometido. Amém.

Depois da Ascensão, voltaram os Apóstolos a Jerusalém, e, conforme a ordem do Senhor, conservaram-se retirados em uma casa, em contínua oração, até receberem o Espírito Santo.

Imitemo-los do melhor modo que pudermos, retraindo-nos algum tempo dos negócios da nossa obrigação, empregando estes dias no exercício da caridade, oração e boas obras, pedindo que nos encha o Espírito Santo como aos Apóstolos.

NOTA: Mais textos sobre a Festa da Ascensão do Senhor: https://soutodoteumaria.com.br/festa-da-ascensao-do-senhor/, https://soutodoteumaria.com.br/festa-da-ascensao-do-senhor-2/ e https://soutodoteumaria.com.br/primeiro-sermao-na-ascensao-do-senhor-sao-leao-magno/

(Fonte: livro Manual do Christão – Goffiné, Frei Leonardo Goffiné, Colégio da Imaculada Conceição, Botafogo/RJ, 10ª edição/1925, pp. 547-552 – Texto revisto e atualizado e alguns destaques acrescidos)

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