CatolicismoRito Tradicional

FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA

I Domingo depois da Epifania.

FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA

(I Domingo depois da Epifania)

Peço a Maria Santíssima que me admita na humilde casa de Nazaré para considerar a vida admirável que Jesus ai leva.

1 – Hoje – e pela última vez no ciclo do ano litúrgico – a Igreja apresenta-nos o mistério da vida humilde e escondida de Jesus. Um sentido de profunda intimidade e de ternura caracteriza a festa de hoje e transparece na liturgia: «… é doce para nós recordar a casinha de Nazaré e a vida modesta que ali se leva … Nela aprende Jesus o humilde oficio de José, e, na sombra cresce em idade, mostrando-Se feliz por partilhar o trabalho de carpinteiro. ‘Que o suor banhe os meus membros – diz Jesus – antes que sejam banhados com a efusão do meu sangue, e esta pena sirva de expiação para o gênero humano’ …» (BR.). Eis-nos dentro da casinha de Nazaré; à vista de tanta humildade, que oculta a infinita grandeza de Jesus; digamos também nós com o texto sagrado: «Vós sois verdadeiramente um Rei escondido, ó Deus Salvador, Rei de Israel» (ib.).

A liturgia de hoje salienta sobretudo um dos aspectos típicos da vida humilde deste Deus escondido: a obediência. «Mesmo sendo Filho de Deus,… aprendeu a obedecer;… humilhou-se a Si mesmo, fazendo-Se obediente até à morte» (BR.): esta é a obediência que acompanhou Jesus desde Belém até ao Calvário. Mas o Evangelho de hoje (Lc. 2, 42-52) quer especialmente sublinhar a obediência de Jesus em Nazaré e fá-lo com uma frase realmente bela: «era-lhes submisso». Perguntemos com S. Bernardo: «Quem obedece? A quem obedece?» E o Santo responde-nos: «Um Deus aos homens; sim, Deus, a quem estão sujeitos os anjos, está sujeito a Maria, e não só a Maria, mas também a José. Que um Deus obedeça a uma mulher é uma humildade sem exemplo. Homem, aprende a obedecer; pó da terra, aprende a humilhar-te; pó, aprende a submeter-te. Um Deus sujeita-Se aos homens e tu, procurando dominar os homens, pões-te acima do teu Autor?»

2 – «Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?» Jesus, tão humilde, tão submisso, não hesita em responder deste modo a Maria que docemente O repreende por Se ter demorado no templo sem o seu conhecimento nem o de José, enquanto eles, angustiados, há três dias O andavam procurando. Estas são as primeiras palavras de Jesus que nos refere o Evangelho e por Ele pronunciadas para declarar a Sua missão e afirmar a supremacia dos direitos de Deus. Apenas adolescente, Jesus ensina-nos que primeiro devemos ocupar-nos de Deus e das coisas de Deus; que é necessário dar sempre a Deus o primeiro lugar e a primeira obediência, ainda que seja preciso sacrificar os direitos da natureza e do sangue. Não é virtude, antes é muitas vezes pecado, aquela condescendência para com os parentes e amigos que nos faz descurar ou simplesmente retardar o cumprimento da vontade de Deus.

Dar a primazia aos deveres para com Deus não significa, porém, descuidar os que temos para com o próximo. Também para estes e particularmente para os que dizem respeito à família, a festa deste dia chama a nossa atenção. Hoje, com efeito, a Igreja convida-nos a modelar a nossa vida de família – quer seja família natural ou religiosa, quer de qualquer outro agrupamento – segundo o exemplo da família de Nazaré e na Epístola (Col. 3, 12-17) mostra-nos as virtudes que com esse fim devemos praticar: «Revesti-vos de entranhas de misericórdia, de benignidade, de humildade, de modéstia, de paciência; sofrendo-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente».

Colóquio – Ó Jesus, como gosto de Vos contemplar pequenino na pobre casinha de Nazaré junto de Maria e de José! Na Vossa vida, tão singela e humilde, em tudo semelhante à de qualquer Menino da Vossa idade, Vós, esplendor do Pai, não quisestes coisa alguma que Vos distinguisse entre os filhos dos homens; Vós, sabedoria incriada, quisestes aprender de Maria e de José criaturas Vossas, as coisas mais elementares e simples da vida. José ensinava-Vos a manejar os instrumentos de trabalho, e Vós observáveis com atenção, aprendíeis e obedecíeis; Maria ensinava-Vos os hinos sagrados e narrava-Vos as Escrituras e Vós, que sois o único verdadeiro «Mestre» e a mesma verdade, escutáveis em atitude de humilde discípulo. Nenhum dos Vossos conhecidos ou compatrícios podiam supor quem Vós éreis realmente: todos Vos tomavam por filho do carpinteiro e não faziam mais caso de Vós que dum pequeno aprendiz de oficina.

Só Maria e José sabiam, conheciam por revelação divina que Vós éreis o Filho do Altíssimo, o Salvador do mundo e sabiam-no mais pela fé que pela experiência. A Vossa conduta habitual ocultava aos seus olhos a Vossa grandeza e a Vossa divindade, de tal maneira que, quando, sem darem por isso, ficastes no templo entre os doutores, não puderam compreender o motivo dessa estranha atitude. Isso, porém, não passou de um instante porque depressa voltastes à Vossa humilde vida oculta: viestes com eles e éreis-lhes sujeito. E assim, dia após dia, até à idade dos trinta anos.

Ó meu dulcíssimo Senhor, fazei que ao menos eu possa imitar um pouco a Vossa infinita humildade. Vós que, sendo Criador, quisestes obedecer às Vossas criaturas, ensinai-me a baixar a minha soberba cabeça e a obedecer voluntariamente aos meus superiores. Vós que descestes do céu à terra, concedei-me a graça de me humilhar e descer de uma vez, do pedestal do meu orgulho. Como suportar, meu Deus e Criador, ver-Vos fazer tão pequeno e humilde, quando eu, nada e pecado, me sirvo do que recebi para me elevar acima dos outros e preferir-me ainda aos que me são superiores?

(Fonte: livro Intimidade Divina Meditações Sobre a Vida Interior para Todos os Dias do Ano, Pe. Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD, Edições Carmelitanas, Porto-Portugal, 2ª edição/1967, pp. 173-175 – Texto revisto e atualizado e destaques acrescidos)

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