CatolicismoRito Tradicional

FESTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE

Iº Domingo de Pentecostes

FESTA DA SANTÍSSIMA TRINDADE

(Iº Domingo de Pentecostes)

Esta festa é como o remate e a consumação de todas as festas.

De fato, Deus, um só em três Pessoas, é o objeto principal e primário de todo o culto. Tudo o que honramos em Deus, em Jesus Cristo, na Virgem Maria e nos Santos refere-se a Deus, em sua unidade de natureza e trindade de pessoas.

É um mistério insondável, porém, se o como do mistério nos escapa, podemos conhecer as verdades, que tal mistério nos apresenta. A dificuldade para bem compreender este sublime mistério provém da falta de inteligência nítida dos termos, que o exprimem.

A essência é o que caracteriza um ser, diferenciando-o de outro qualquer. A natureza é o princípio da atividade de um ser. Por exemplo, no homem, este princípio é a união do corpo e da alma. A alma não pode agir sem o corpo, nem o corpo sem a alma, mas a união de ambos é o princípio e a fonte das suas ações.

A substância é o que existe em si e não em outro. Nos seres criados usa-se a palavra SUBSTÂNCIA (substare), para indicar o que permanece, em contraposição ao que se chama acidente: forma, cor, peso, etc.

Em Deus não há acidentes: Ele é o ser supremo necessário.

A pessoa é a substância completa, autônoma, dotada de razão e de liberdade.

Todos os homens, tendo corpo e alma racional, possuem a mesma natureza: a natureza humana.

Esta natureza que é Especificamente a mesma em todos, é Numericamente diversa uma da outra (nos indivíduos).

A substância é o fundo do ser, a personalidade é o modo.

Entre nós, substância e pessoa fazem um só. É um fato que nós julgamos uma necessidade, porque não conhecemos outra pessoa senão a nossa.

Tal fato, porém, não prova que em toda condição do ser, uma única pessoa absorva uma substância.

Não concebemos, por falta de termo de comparação, que uma substância seja comum a 3 pessoas. Não possuímos nada que o prove, mas nada também que o contradiga. Devemos confessar a nossa ignorância, mas não erigi-la em objeção.

EVANGELHO (Mat. XXIII. 18-20)

18 – Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: Foi-me dado todo o poder no céu e na terra.

19 – Ide, pois, instruí todos os povos, batizando-os em nome do Padre, e do Filho e Espírito Santo.

20 – Ensinando-os a observar todas as coisas, que eu vos tenho mandado. E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.

O GRANDE MISTÉRIO

O Evangelho em sua brevidade misteriosa nos representa a Ascensão do Salvador, recolhendo as últimas palavras caídas destes lábios divinos, que sabiam falar tão profundamente.

São as últimas palavras do divino Mestre, e elas são a revelação curta, mas substancial do mistério da Santíssima Trindade.

Ide, pois, ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo.

Tal é a revelação completa do mistério adorável da Santíssima Trindade, que a Igreja celebra hoje, convidando-nos a meditar as lições deste mistério. É o que vamos fazer, considerando:

I – A natureza do mistério.

II – A sua imagem em nossa alma.

I – NATUREZA DA SANTÍSSIMA TRINDADE

Não podemos compreender o mistério da Santíssima Trindade porque todo mistério é uma verdade, que ultrapassa a nossa inteligência, mas podemos conhecê-lo e compreender, as verdades, que nos apresenta.

A fórmula mais luminosa deste mistério é o símbolo de Santo Atanásio, encerrado no Breviário.

Apoiando-nos sobre este símbolo, procuremos fazer-nos uma ideia clara sobre a natureza da Santíssima Trindade. Um princípio geral vai revelar-nos o fundo de sua natureza.

É um pouco filosófico, porém, claro e compreensível.

É o seguinte:

Todo ser é ativo, e a sua atividade cresce na medida de sua perfeição.

Não há em Deus nenhuma potencialidade. Ele é ato puro, isto é, atividade infinita.

Ora, toda atividade é, necessariamente, uma fecundidade ativa.

Logo, Deus, atividade infinita, é uma fecundidade ativa infinita.

E que pode produzir uma fecundidade infinita?

Ela produz outro infinito, que se lhe assemelha, que é seu igual.

Ora, há em Deus um duplo princípio de atividade. O da inteligência infinita e um amor infinito.

Ora, um ser infinito tem, necessariamente, um pensamento infinito.

No princípio, antes de toda ação, houve em Deus um pensamento, e como nada existiu fora dele, este pensamento era Ele mesmo, Ele o único ser real, ou, como disse Aristóteles, Deus é pensamento do pensamento.

O gênio põe a sua alma inteira em um pensamento. Eis porque nós dizemos: Eis o pensamento de um grande homem.

Ora, qual será o pensamento de um ser infinito?

Será outro infinito, vivo, eterno, imutável, consciente de si mesmo, ficando sempre nele.

O mais alto grau dos seres vivos é a consciência de si mesmo, a personalidade.

Todo ser que não tem consciência de si mesmo, é um ser inferior.

Quem tem um pensamento infinito é um ser superior o único ser superior, o ser eterno: Deus!

Digo que é Deus, porque é Eterno, é único: não pode haver dois eternos na substância, embora numa única substância possa haver duas pessoas eternas.

A razão é que não se pode conceber um espírito infinito, que ficasse um instante sem pensamento, pois neste caso deixaria de ser infinito.

Esta geração infinita, pela inteligência, na qual o Padre Eterno se reproduz inteiramente, é o Verbo divino, é o Filho de Deus, ou 2ª. Pessoa da Santíssima Trindade.

* * *

Eis que são dois na unidade: o Padre e o Filho.

E o Espírito Santo donde vem?

Não pode vir por geração, pela inteligência, pois o Pai deu-se todo inteiro nesta geração; esgotou-se, mas Deus é uma inteligência infinita e um amor infinito. Pode, pois, dar-se pelo amor.

Ora, um amor infinito produz um amor infinito.

O amor não gera. Produz.

E como se faz isto?

O Filho é a imagem perfeita do Padre Eterno, em tudo igual a Ele, conservando a mesma e única substância, mas constituindo uma segunda Pessoa.

O Padre contempla o seu Filho, e sendo este Filho a Beleza infinita, ama-o de um amor infinito.

O Filho, por sua vez, contempla o Pai, e sendo este Pai, também a beleza infinita, ama-o com amor também infinito.

Este amor infinito do Pai para o Filho e do Filho para o Pai, constitui um único e mesmo amor, pois é procedente da mesma natureza excitado pelo mesmo objeto.

Este amor é, pois, um ato procedendo reciprocamente do Pai e do Filho, e como tal não procede nem do Pai nem do Filho, mas de ambos, constitui uma nova e única pessoa, igual em tudo ao Pai e ao Filho, donde procede por aspiração.

Do encontro destes dois amores infinitos, procede um terceiro infinito, um amor infinito, que se chama: o Espírito Santo!

O Espírito Santo é, pois, a aspiração viva do Pai para o Filho e do Filho para o Pai.

Do mesmo modo que o Filho esgotou o conhecimento do Pai, assim o Espírito Santo esgotou o amor do Pai e do Filho, constituindo uma terceira Pessoa, na única substância, a natureza divina.

Temos, deste modo, um único Deus em natureza, e neste Deus três Pessoas distintas, mas inseparáveis.

II – IMAGEM DA SANTÍSSIMA TRINDADE

Santo Anselmo, Doutor da Igreja, fez uma comparação engenhosa e expressiva, para tornar sensível a possibilidade da Santíssima Trindade.

Suponho, diz ele, uma fonte; desta fonte sai um rio, que se estende e forma um lago chamado Nilo.

As três chamam-se “Nilo”.

A fonte, junta com o rio e o lago, chama-se Nilo.

O rio, igualmente, junto com a fonte e o lago chama-se Nilo.

Não são três Nilos, mas um só.

Nesta comparação há três coisas a considerar; a fonte, o rio, o lago, mas um único Nilo, porque os três são unidos por uma única e mesma água.

Não são três Nilos, nem três lagos, mas um único Nilo, porque embora, cada uma das suas partes constitutivas seja distinta, são, entretanto, inseparáveis.

Mas temos uma imagem mais completa em nossa alma.

Lembremo-nos de que a nossa alma é criada à imagem e semelhança de Deus, – Creavit Deus hominem ad imaginem et similitudinem suam. (Gn. I, 27) .

Sendo a nossa alma a imagem de Deus, devemos encontrar nela o protótipo, em sua unidade e trindade.

A nossa alma é uma substância espiritual, inteligente, amante.

Logo, Deus deve ser também uma substância espiritual, inteligente, amante, ao infinito, e isto é a própria natureza divina.

Se nós somos a imagem, Deus é o ideal.

Ora, em nossa alma encontramos três elementos que formam a sua essência: ser, conhecer, amar, ou substância inteligente e amante.

Tal é a definição da nossa alma, deve ser, pois, a definição de Deus.

Ser, conhecer e amar, são em nós uma única alma, uma única pessoa.

São três atos, e não três pessoas porque cada ato não é um princípio consciente, livre, e como tais, são três atos, não, três pessoas.

III – CONCLUSÃO

Terminemos aqui as nossas considerações.

O mistério é tão sublime tão misterioso, tão belo, que conhecendo-o, sente-se a necessidade de prostrar-se de joelhos, para adorar a Trindade adorável, o Deus verdadeiro, único, em três Pessoas.

Cada vez que fazemos o Sinal da Cruz sobre nós lembramos este sublime mistério.

A doxologia, ou saudação que a Igreja repete a cada instante em seus ofícios, é um brado de louvor à adorável Trindade.

Lembremo-nos deste augusto mistério, cada vez que traçarmos o sinal da Cruz, repetindo com veneração e amor: Em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo.

Lembremo-nos também de que por atribuição, é

o Padre que nos criou,

o Filho que nos salvou, e

o Espírito Santo que nos santifica por meio da graça divina, que nos transmite pela oração e pelos Sacramentos.

(Fonte: in, O Evangelho das Festas Litúrgicas e Dos Santos Mais Populares, Pe. Júlio Maria Lombaerd, Editora O Lutador, 2ª edição/1952 39ª Instrução, pp. 215-221 – Texto revisto e atualizado e destaques acrescidos)

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