FESTA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Ó Jesus, concedei-me a graça de penetrar os segredos escondidos no Vosso divino Coração.
1 – Depois de termos fixado o nosso olhar na Eucaristia, dom que coroa todos os dons do amor de Jesus aos homens, a Igreja convida-nos a considerar diretamente o amor do Coração de Cristo, fonte e causa de todo o dom. Pode afirmar-se que a festa do Sagrado Coração de Jesus é a festa do Seu amor por nós. «Eis o Coração que tanto amou os homens», disse Jesus a Santa Margarida Maria: «Eis o Coração que tanto amou os homens», repete-nos hoje a Igreja, mostrando-nos que «no Coração de Cristo, ferido pelos nossos pecados, Deus Se dignou dar-nos, misericordiosamente, infinitos tesouros de amor» (cfr. Colecta).
Inspirando-se neste – pensamento, a liturgia de hoje refere-nos os imensos benefícios que nos provêm do amor de Cristo, é um hino de louvor ao Seu amor. «Cogitationes Cordis ejus», canta o Intróito da Missa: «Eis os pensamentos do Seu Coração – do Coração de Jesus – através das gerações: arrancar as almas da morte e alimentá-las em sua fome». O Coração de Jesus anda sempre à procura de almas para salvar, para livrar dos laços do pecado, para lavar com o Seu Sangue, para alimentar com o Seu Corpo. O Coração de Jesus está sempre vivo na Eucaristia para saciar a fome dos que por Ele suspiram, para acolher e consolar todos os que, desiludidos pelas amarguras da vida, se refugiam n’Ele em busca de paz e alívio.
E o próprio Jesus nos ampara na aspereza do caminho. «Tornai o meu jugo sobre vós, aprendei de mim, que sou manso e humilde de Coração, e achareis repouso para as vossas almas» (Aleluia). Se é impossível eliminar da vida toda a dor, é, no entanto, possível, a quem vive por Jesus, sofrer em paz e encontrar no Seu Coração repouso para a alma cansada.
2 – O Evangelho e a Epístola fazem-nos considerar ainda mais diretamente, o Coração de Jesus. O Evangelho (Jo. 19, 31-37) mostra-nos o Seu Coração posto a descoberto pela ferida da lança, e Santo Agostinho comenta: «O Evangelista disse abriu, a fim de nos mostrar que, de alguma maneira, se nos abre ali a porta da vida, de onde brotaram os Sacramentos!». Do Coração transpassado de Cristo – símbolo do amor – que O imolou por nós na Cruz – brotaram os Sacramentos, figurados na água e no sangue saídos da Sua chaga, através dos quais recebemos a vida da graça; sim, é justo dizer que o Coração de Jesus foi aberto para nos introduzir na vida. «Estreita é a porta que conduz à vida» (Mt. 7, 14), disse Jesus um dia; mas se por esta porta entendemos a chaga do Seu Coração, podemos dizer que não nos podia abrir uma porta mais acolhedora.
S. Paulo, na sua belíssima Epístola, (Ef. 3, 8-19), convida-nos a entrar, ainda mais adentro, no Coração de Jesus para contemplar as Suas «riquezas incompreensíveis» e penetrar o «mistério escondido, desde o princípio dos séculos, em Deus». Este «mistério» é exatamente
o mistério do amor infinito de Deus que nos preveniu desde a eternidade e que nos foi revelado pelo Verbo feito carne; é o mistério daquele amor que nos quis remir e sanificar em Cristo, «no qual temos segurança e acesso a Deus». Mais uma vez Jesus Se nos apresenta como a porta que conduz à salvação: «Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo» (Jo. 10, 9); e a porta é o seu Coração que, rasgando-se por nós, nos introduziu na vida. Só o amor nos pode fazer penetrar neste mistério de amor infinito; mas não basta um amor qualquer, é necessário, como diz S. Paulo, estarmos «arraigados e fundados na caridade»; só assim poderemos «conhecer aquele amor de Cristo que excede toda a ciência, para que sejamos cheios de toda a plenitude de Deus».
Colóquio – «Ó Jesus, por divina disposição foi permitido que um dos soldados Vos abrisse e rasgasse o lado. Com o sangue e a água que dele brotaram foi derramado o preço da nossa salvação que saindo da fonte secreta do Vosso Coração, havia de dar aos Sacramentos a força para conferirem a vida da graça, e havia de ser também para os que vivem em Vós a taça que se alimenta da fonte viva que jorra para a vida eterna. Levanta-te, pois, minha alma, não cesses de velar; aproxima a tua boca para te dessedentares bebendo na fonte do Salvador.
«Ó Jesus, agora que já entrei no Vosso dulcíssimo Coração – e bom é estar aqui – não quero me deixar separar facilmente de Vós. Oh! como é bom e doce habitar no Vosso Coração! O vosso Coração, ó bom Jesus, é o rico tesouro, é a pérola preciosa que descobri no esconderijo do Vosso Corpo trespassado, como num campo escavado. Quem jogará fora esta pérola? De boa vontade atirarei à rua todas as pérolas do mundo, darei em troca todos os meus pensamentos e afetos para a comprá-la; lançarei toda a minha solicitude no Vosso Coração, ó bom Jesus, e Ele me saciará com certeza. Encontrei o Vosso Coração, Senhor, o Vosso Coração, ó benigníssimo Jesus: Coração de rei, Coração de irmão, Coração de amigo. Escondido no Vosso Coração, eu não rezarei? Sim, rezarei. Desde já, o Vosso Coração, digo-o sinceramente, é também o meu coração. Se Vós, ó Jesus, sois a minha cabeça, porque não deverá chamar-se meu aquilo que é Vosso? Não é verdade que são meus os olhos da minha cabeça? Portanto, o Coração da minha Cabeça espiritual é o meu coração. Que alegria para mim! Olhai: Vós e eu temos um só coração. Entretanto, ó Jesus dulcíssimo, havendo reencontrado este Coração divino que é Vosso e meu, elevarei a Vós, Deus meu, a minha prece: acolhei no sacrário das Vossas audiências as minhas orações, ou antes, atraí-me inteiramente ao Vosso Coração» (S. Boaventura).
(Fonte: livro Intimidade Divina Meditações Sobre a Vida Interior para Todos os Dias do Ano, Pe. Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD, Edições Carmelitanas, Porto-Portugal, 2ª edição/1967, pp. 806-809 – Texto revisto e atualizado)