HINO DE AMOR À DIVINA CHAGA
Em seu Poema à Virgem, São José de Anchieta dedica alguns versos ao Sagrado Coração de Jesus, ferido de amor pela salvação dos homens. Precedia assim a Santa Margarida Maria Alacoque, que no século seguinte receberia do próprio Salvador a missão de espalhar essa devoção pelo mundo.
Ó chaga sagrada, não foi o ferro de uma lança que te abriu, mas sim o apaixonado amor que ao nosso amor tinha Jesus foi quem te abriu!
Ó caudal que borbulhou no seio do Paraíso, de tuas águas se embebe e fertiliza a terra!
Ó estrada real, porta cravejada do Céu, torre de refúgio, abrigo da esperança!
Ó rosa a trescalar o perfume divino da virtude! Pedra preciosa com que o pobre compra um trono no Céu!
Ninho em que as cândidas pombinhas depositam seus ovinhos, em que a rola casta alimenta seus filhotes.
Ó chaga vermelha, que reverberas de imensa formosura e feres de amor os corações amigos!
Ó ferida que abriste com a lança do amor, através do peito divinal, estrada larga para o Coração de Cristo!
Prova de inaudito amor com que Ele a Si nos estreitou: porto a que se acolhe a barca na procela!
A ti recorrem os perseguidos do inimigo fero, medicina pronta a toda a enfermidade!
Em ti vai sorver consolação o triste e arrancar do peito opresso a carga da tristeza.
Não será frustrada a esperança do pobre réu que, depondo o temor, entra nos palácios do Paraíso, por tua via.
Ó morada da paz! Ó veio perene da água viva que jorra para a vida eterna!
Só em Ti, ó Mãe, foi rasgada esta ferida, só Tu a sofres, somente Tu a podes franquear.
Deixa-me entrar no peito aberto pelo ferro e ir morar no Coração de meu Senhor; por esta estrada chegarei até às entranhas deste amor piedoso; aí farei o meu descanso, minha eterna morada.
Aí afundarei os meus delitos no rio de seu Sangue, e lavarei as torpezas de minha alma, nesta água cristalina. Nesta morada, neste remanso, o resto de meus dias, quão suave será viver, aí, por fim, morrer!*
* SÃO JOSÉ DE ANCHIETA, Sobre a Virgem Maria Mãe de Deus, op. cit., p.278-279.
(Fonte: revista Arautos do Evangelho, nº 234, Junho/2021, p. 37)