CatolicismoRito Tradicional
IV DOMINGO DO ADVENTO
IV DOMINGO DO ADVENTO
EIS QUE VEM O SALVADOR
Ponho-me aos pés de Jesus, meu Salvador, pedindo-Lhe que prepare Ele próprio o meu coração para a Sua próxima vinda.
1 – «Juntai todas as gentes, anunciai aos povos e dizei-lhes: eis que vem Deus, nosso Salvador» (BR.). A mensagem torna-se cada vez mais premente: dentro de poucos dias o Verbo de Deus feito carne manifestar-Se-á ao mundo. É preciso, pois, preparar um coração digno d’Ele.
A Encarnação do Verbo é a maior prova do infinito amor de Deus pelos homens; bem a propósito nos recorda a liturgia de hoje aquelas grandiosas palavras: «eu amei-te com um amor eterno, por isso, compadecido de ti, te atraí a mim» (Jer. 31, 3). Sim, Deus amou o homem desde toda a eternidade e para o atrair a Si não hesitou enviar-lhe o «Seu Filho em carne semelhante à do pecado» ( Rom. 8. 3). É preciso ir ao encontro do amor que está prestes a aparecer, «encarnado», no doce menino Jesus, com o coração todo cheio de amor, dilatado pelo amor; um amor fiel nas grandes e pequenas coisas, amor engenhoso que de tudo se vale para corresponder ao amor infinito de Deus: «Amor com amor se paga!» é o lema que fez os santos, que estimulou uma multidão de almas a uma maior generosidade.
Prepara-te para o Natal com este amor e nele permanece fiel porque, como diz S. Paulo na Epístola de hoje, «o que se requer dos dispenseiros é que eles se encontrem fiéis» (I Cor. 4, 1-5).
2 – «Preparai o caminho do Senhor, endireitai as Suas veredas; todo o vale será cheio e todo o monte e colina será arrasado». No Evangelho de hoje (Lc. 3,1-6) eleva-se mais uma vez a voz do Batista, o grande pregador do Advento que nos convida a preparar «os caminhos do Senhor».
É sobretudo um convite à humildade da qual João é arauto e modelo. Se bem que, por testemunho do próprio Jesus ele seja «mais do que profeta … entre os nascidos das mulheres não veio ao mundo outro maior» (Mt. 11, 9 e 11), João não se considera mais que uma simples «voz que clama no deserto: endireitai o caminho do Senhor»; e declara batizar unicamente na água, pois virá um Outro que batizará no Espírito Santo, um Outro de quem se declara indigno de «desatar a correia dos sapatos» (Jo. 1, 23 e 27). A propósito da vinda do Salvador, acrescenta ainda: «Convém que ele cresça e que eu diminua» (Jo. 3, 30). A liturgia de hoje recolhe todos estes magníficos testemunhos do Batista, como para nos dar uma ideia concreta dos sentimentos de profunda humildade com que devemos aplanar, no nosso coração, «Os caminhos do Senhor». Se os vales, ou sejam, as nossas deficiências, podem ser cheias pelo amor, os montes e colinas, ou sejam, as vãs pretensões do orgulho, deverão ser abatidas pela humildade. Um coração cheio de amor próprio e de soberba, não pode estar cheio de Deus e nele ficará muito pouco lugar para o doce Menino de Belém.
Colóquio – Ó Deus imenso, omnipotente e eterno, como podíeis dar maior prova do Vosso infinito amor por nós, pobres criaturas, do que dando-nos o Verbo, o Vosso Unigênito? Por nós quisestes revestir de carne humana, semelhante à do pecado, Aquele que é o esplendor eterno, a imagem perfeita da Vossa substância!
«Ó bondade, superior a toda a bondade, Ó Vós sois sumamente bom! Vós nos destes o Verbo, Vosso Unigênito Filho, a fim de que vivesse connosco, em contato com o nosso ser de corrupção e de trevas. Qual é a causa deste dom? O Amor. Porque Vós nos amastes antes que existíssemos.
«Ó eterna grandeza! Ó grandeza de bondade! Vós Vos abaixastes e fizestes pequeno para fazer o homem grande. Para qualquer lado que me volte, nada mais encontro que o abismo e o fogo da Vossa caridade» (Santa Catarina de Sena).
«Quando penso em Cristo devo sempre lembrar-me … do Vosso grande amor, ó Pai, que em Jesus quisestes dar-nos um penhor de tal amor. Amor gera amor: ainda que esteja muito no princípio e eu muito ruim, procuro ter bem presente esta verdade e despertar-me para amar. Quando Vós, ó Senhor, me fizerdes a mercê de me imprimirdes no coração este amor, tudo se me tornará fácil e poderei em breve passar às obras sem nenhum trabalho. Meu Deus dai-me este amor – pois sabeis o muito que me convém – pelo amor que nos tivestes e pelo Vosso glorioso Filho que, tão à Sua custa, no-lo mostrou.» (T.J. Vi. 22, 14).
O amor encherá os vales do meu coração e a humildade aplanará as colinas e os montes. Destruí, ó Senhor, com a chama ardente do Vosso amor todo o meu orgulho, soberba e vaidade, arrancai, com a força do Vosso braço omnipotente, toda a fibra do meu coração que não seja Vossa ou que esteja envenenada pelo amor próprio. Também eu quero diminuir ó Senhor, para que possais crescer em mim, para que no dia do Vosso nascimento possais encontrar o meu coração completamente vazio e livre e portanto pronto para uma total invasão do Vosso amor.
(Fonte: livro Intimidade Divina Meditações Sobre a Vida Interior para Todos os Dias do Ano, Pe. Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD, Edições Carmelitanas, Porto-Portugal, 2ª edição/1967, pp. 100-103 – Texto revisto e atualizado e destaques acrescentados)