MEDITAÇÃO PARA PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DE OUTUBRO DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
CORAÇÃO DE JESUS FORMADO NO SEIO DA VIRGEM MÃE
Formado no seio da Virgem Mãe, Jesus é verdadeiramente homem, e já o vimos. Certamente que ter sido gerado por Maria, ter vivido com ela uma admirável, uma admirabilíssima intimidade de nove meses foi a realização de uma comunhão de vida e amor tão funda, tão funda, que é inimaginável o que aconteceu no coração, na alma de Maria, naquela continuada transformação cristificadora, que não pôde não ter existido. O Pe. Júlio Maria de Lombaerde, num dos seus melhores livros, “Princípios da Vida de Intimidade com Maria Santíssima” (Rio, Ed. ABC, s/d, p. 139), num arroubo místico, descreve as maravilhas dessa comunhão prolongada com aquilo que o teólogo Schillebeeckx chamou de “recepção corporal do sacramento original: a santa humanidade do Cristo Jesus”. (SCHILLEBEECKX, Edward H. Maria, Mãe da Redenção, trad. bras., Petrópolis, Vozes, 1966, p. 54)
Mas o de que quase ninguém fala, é do outro lado dessa comunhão: ela não foi apenas a livre aceitação de Cristo por parte de Maria e a progressiva configuração dela com ele; foi igualmente a linda e admirável configuração de Cristo com Maria. Ele também comungava Maria, ele também recebia física, psíquica e espiritualmente Maria e se marianizava. Assim como se costuma dizer: “Vejam como eles se amam!” ou: “Vejam como eles se parecem!”, ou ainda: “Olha só, é a cara da mãe!” assim essa Mãe especial imprimiu misteriosamente sua imagem, sua maneira de ser em Jesus, e não só durante os meses de comunhão intrauterina, mas depois do nascimento, nos anos de infância e, mais tarde, quando Jesus era jovem ou homem feito. Uma comunhão em todos os sentidos, mas sobretudo uma comunhão mística e amorosa.
Assim como o fiat de Jesus, no primeiríssimo momento de sua vida humana (Hb 10, 5-7), orientou e deu sentido a todas as suas ações de homem com uma missão redentora, assim o fiat de Maria a tornava permanentemente receptiva da vontade de Deus e capaz de viver ativamente sua missão materna amplíssima (maternidade divina e maternidade espiritual). Isto significava uma continuada ação geradora, maternal, sobre seu Filho, assim como sobre seus filhos espirituais. Certamente, não nos compete ficar imaginando o como dessas coisas, “que o Pai reservou a seu poder” (cf. At 1, 7). Mas Jesus era e não podia deixar de ser o filho de Maria, tinha os jeitos de Maria. E se a graça que dele recebemos, é uma graça crística e, mercê de Deus, nos torna cristiformes, ela é, ao mesmo tempo, uma graça que nos configura a Maria, já que “Jesus é a cara dela”. “Quem vê Jesus, vê Maria” – dizia S. João Eudes. E não só nem principalmente no corpo. Jesus carrega em si algo de maternal, de virginal, de “servo” de Deus, de homem do “fiat”, daquele que fez sempre a vontade do Pai que o enviou, do “obediente” no sentido mais completo da palavra, do destinado à redenção. O “gládio” que traspassaria o coração da Mãe, traspassava igualmente o coração do Filho. E se é verdade que Maria é tudo isso porque comungava os sentimentos e as intenções de Jesus, é também verdade que Jesus, fazendo a vontade do Pai e realizando sua missão, foi aprendendo a ser o que era, de um modo misteriosamente marial.
É tudo isso que entendemos ao dizer que o Coração de Jesus foi formado “no seio da Virgem Mãe”.
Ó Filho de Maria!
Filho do Pai Eterno, és também filho de Maria. Ninguém pode ser tão filho. O Evangelho não mostra teus carinhos, tua ternura para com a Mãe. Aliás, alguém já notou que o Evangelho não diz, em parte alguma, que tenhas sorrido. No caso de tua mãe, os relatos da Escritura parecem indicar até que gostavas de tomar uma certa distância em relação a ela.
Verdade que, a um olhar mais penetrante, tuas palavras e atitudes, em geral, antes revelam que encobrem a proximidade de Maria, as luminosas afinidades da Senhora com o Reino de Deus. Para quem examina melhor, ninguém era tão mãe, para Jesus, no pensamento de Jesus, quanto Maria, nem ninguém tão filho quanto Tu, que parecias, às vezes, durão, distante, indiferente. E, no entanto, eras terno, sensível, carinhoso. Era preciso que agisses daquela forma – nós o sabemos – e Maria também o sabia, e quanto! e como!
Ó Jesus, filho de Maria, que tinhas até o sotaque, o timbre de voz, os jeitos de Maria, ensina-nos a forma de nos tornar também seus filhos, com a nossa alma toda, com todo o nosso ser. Amém!
(Fonte: livro Sagrado Coração do Homem, Paschoal Rangel, Editora Lutador, Belo Horizonte-MG/1993,pp. 36-38)