CatolicismoRito Tradicional

MEDITANDO O SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA

 

Transfiguração do Senhor. Verona-Itália.1783 (Foto: Scuola Ecclesia Mater)

II DOMINGO DA QUARESMA

(I classe, paramentos roxos – Estação em Santa Maria “in Domnica”)

Mistério de hoje

O assunto oferecido à nossa consideração neste segundo domingo, é de extrema importância para este tempo santo. A Igreja aplica-nos a lição que nosso Salvador deu a três de seus apóstolos. Vamos nos esforçar para estar mais atentos sobre isso do que temos sido até agora.

A condescendência de Jesus

Jesus estava prestes a passar da Galiléia para a Judéia, a fim de subir a Jerusalém e estar presente na festa da Páscoa. Foi a última Páscoa a começar com a imolação do cordeiro figurativo e terminar com o sacrifício do Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. Jesus gostaria que seus discípulos o conhecessem. Suas obras haviam dado testemunho d’Ele, mesmo àqueles que eram, de certo modo, estranhos para Ele. Jesus não devia ser um desconhecido para com seus discípulos. Não tinham eles todos os motivos para serem fiéis a Ele até a morte? Sua palavra de tão qualificada autoridade, sua bondade tão atrativa, sua paciência em sofrer a grosseria dos homens que tinha escolhido por companheiros; tudo devia contribuir para uni-los a Ele até a morte. Não tinham experimentado seu amor, ao qual era impossível resistir? Sim, eles devem tê-lo conhecido. Eles ouviram um de seus companheiros, Pedro, declarar que ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16,16). Não obstante isto, o julgamento para o qual sua fé estava prestes a ser colocada, seria de um tipo tão terrível que Jesus misericordiosamente desejou armá-los contra a tentação por uma graça extraordinária.

O escândalo da Cruz

A cruz era para ser um escândalo e pedra de tropeço (1 Cor 1,23) não só para a sinagoga. Jesus disse aos seus Apóstolos, na Última Ceia: “Esta noite serei para todos vós uma ocasião de queda; porque está escrito: ‘Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão dispersadas’ [Z c 13,7] (Mt 26,31). Quem prova para eles, homens de mente tão carnal como eram, o que pensariam, quando o virem preso por homens armados, algemado, arrastado ​​de um tribunal a outro e sem nada fazer para se defender! E quando descobriram que os sumos sacerdotes e os fariseus, que até então haviam sido tão frustrados com a sabedoria e os milagres de Jesus, haviam agora conseguido conspirar contra ele, que choque para sua confiança! Mas haveria algo ainda mais tentador: as pessoas que, poucos dias antes, cantaram tão entusiasticamente Hosannas exigiriam sua execução, e ele teria que morrer, entre dois ladrões, na cruz, em meio aos insultos de seus inimigos triunfantes.

Não é de temer que esses Discípulos dele, quando testemunharem suas humilhações e sofrimentos, percam a coragem? Eles moram em sua companhia há três anos, mas quando eles vêem que as coisas que predisse que aconteceriam a Ele são realmente cumpridas, será que a lembrança de tudo que eles viram e ouviram os manterá leais a Ele? Ou eles se tornarão covardes e fugirão d’Ele? Jesus escolhe três dos que Lhe são especialmente caros: Pedro, a quem ele fez a Rocha, sobre a qual sua Igreja será construída, e para quem Ele prometeu as Chaves do reino dos Céus; Tiago, filho do trovão, que será o primeiro mártir do colégio apostólico; e João, irmão de Tiago, e seu próprio Discípulo Amado. Jesus resolveu levá-los à parte e mostrar-lhes um vislumbre daquela glória que oculta aos olhos dos mortais até o dia da manifestação.

A transfiguração

Por isso deixa o resto de seus Discípulos na planície perto de Nazaré, e vai em companhia dos três privilegiados em direção a uma colina alta, chamada Tabor, que é uma continuação do Líbano, que o salmista nos diz que exultam no Nome do Senhor (Sl 88,13). Assim que chegou ao topo da montanha, os três apóstolos observaram uma súbita mudança. Seu rosto brilha como o sol e suas roupas humildes tornam-se brancas como a neve. Eles observam dois homens veneráveis ​​se aproximarem e falam com Ele sobre o que está prestes a sofrer em Jerusalém. Um é Moisés, o legislador, o outro é Elias, o Profeta, que foi arrebatado da terra em uma carruagem de fogo, sem ter passado pelos portões da morte. Estes dois grandes representantes da religião judaica, a lei e os profetas, humildemente adoram Jesus de Nazaré. Os três apóstolos não são apenas deslumbrados pelo brilho que vem do seu Divino Mestre, mas estão cheios de tal êxtase que não podem suportar a ideia de deixar aquele lugar. Pedro propõe permanecer lá para sempre, e construir três tabernáculos, um para Jesus, um para Moisés e outro para Elias. E enquanto estão admirando a visão gloriosa, e contemplando a beleza da natureza humana de Jesus, uma nuvem brilhante os obscurece e uma voz é ouvida falando a eles, é a voz do Pai Eterno, proclamando a Divindade de Jesus, e dizendo: Este é meu amado filho!

Essa transfiguração do Filho do Homem, essa manifestação de sua glória, durou apenas alguns instantes; sua missão não estava em Thabor, foi humilhação e sofrimento em Jerusalém. Ele, portanto, retirou para dentro de si o brilho que permitira transparecer e quando chegou aos três Apóstolos, que, ao ouvir a voz da nuvem, caíram de medo com as faces por terra, e não puderam ver mais ninguém exceto Jesus. A nuvem brilhante se foi, Moisés e Elias haviam desaparecido. Que favor imenso lhes foi concedido! Eles se lembrarão do que viram e ouviram? Eles tiveram tal revelação da Divindade de seu querido Mestre! Será possível que, quando chegar a hora da provação, eles esqueçam essa visão e duvidem de que Ele é Deus? E quando O virem sofrer e morrer, se envergonharão e o negarão?

A agonia do Getsêmani

Pouco tempo depois disso, nosso Senhor celebrou sua Última Ceia com seus discípulos. Quando a Ceia terminou, ele os levou para outro monte, o monte das Oliveiras que fica a leste de Jerusalém. Deixando o restante na entrada do Jardim, Ele avança com Pedro, Tiago e João, e então lhes diz: “A minha alma está triste até a morte: ficai aqui e vigia comigo” (Mt 26,38). Ele então se retira um pouco mais deles e reza ao seu Pai Eterno. O Coração do nosso Redentor está sobrecarregado de angústia. Quando retorna aos seus três discípulos, está enfraquecido pela agonia que sofreu e suas vestes estão banhadas de sangue. Os Apóstolos estão conscientes de que Ele está triste até a morte, e que está próxima a hora d’Ele ser atacado: mas eles estão vigiando? Eles estão prontos para defendê-lO? Não! parecem ter esquecido d’Ele, estão dormindo, seus olhos estão pesados (Mt 26,43). Só mais um pouco e todos eles fugirão, e Pedro, o mais valente de todos, fará juramento de que nunca conheceu esse Homem.

Lição de fé

Após a Ressurreição, nossos três apóstolos fizeram ampla expiação por essa conduta covarde e pecaminosa, e reconheceram a misericórdia com a qual Jesus procurou fortalecê-los contra a tentação, mostrando-lhes sua glória em Tabor, alguns dias antes de sua paixão. Não esperemos até tê-lo traído: reconheçamos imediatamente que Ele é nosso Senhor e nosso Deus. Em breve estaremos celebrando o aniversário de seu sacrifício; como os Apóstolos, devemos vê-lo humilhado por seus inimigos e levando, em seu lugar, os castigos da Justiça Divina. Não devemos permitir que nossa fé seja enfraquecida, quando observamos o cumprimento dessas profecias de Davi e Isaías, para que o Messias seja tratado como verme da terra (Sl 21,7) e ser coberto de feridas, de modo a tornar-se como um leproso, o mais abjeto dos homens e o homem das dores (Is 53,4). Devemos nos lembrar das grandes coisas de Tabor e das adorações prestadas a Ele por Moisés e Elias, e da nuvem luminosa e da voz do Pai Eterno. Quanto mais O vemos humilhado, tanto mais devemos proclamar Sua glória, sua divindade. Devemos juntar as nossas aclamações com as dos Anjos e dos vinte quatro Anciãos que São João (uma das testemunhas da Transfiguração) ouviu gritando com grande voz: “Digno é o Cordeiro imolado de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a glória, a honra e o louvor” (Ap 5,12).

Missa do dia

Como no IV Domingo do Advento, dia que se segue às ordenações do Sábado das Têmporas, assim também neste Domingo não havia outrora Missa própria. Mais tarde, conferindo-se as ordens no sábado pela manhã, foram compostas Missas dos formulários das Têmporas para estes Domingos. Os textos escolhidos para os ordenandos se dirigem também a nós. Eis o dia da salvação. É a ideia predominante em toda a Quaresma. Se em outros tempos, por vezes a esquecemos, importa ao menos aproveitarmos este santo tempo para trabalhar em nossa salvação. E de que modo? Vivendo uma vida agradável a Deus, pois é vontade de Deus que a nossa santificação seja o caminho para a salvação (Epístola). Anima-nos a Transfiguração do Cristo, que é um modelo da nossa. Às palavras do Evangelho: Escutai-O, respondemos no Ofertório, dispondo-nos a meditar a lei de Deus para conhecer a sua vontade. As Orações e os Cânticos, embora testemunham as ânsias e tribulações em que se encontra a nossa alma, demonstram, contudo, uma confiança filial no auxílio de Deus.

 

 

 

 

(Fonte: https://www.apostoladoferr.com/single-post/2019/03/15/Missa-do-II-Domingo-da-Quaresma – O título é nosso, assim como alguns destaques)

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