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Não misturemos religião com superstição: o exemplo de São Cipriano

Não misturemos religião com superstição: o exemplo de São Cipriano

(imagem: reprodução da internet)

“Todas as práticas de magia ou de feitiçaria, pelas quais se pretende domesticar os poderes ocultos para pô-los ao seu serviço e obter um poder sobrenatural sobre o próximo – ainda que seja para lhe obter a saúde – são gravemente contrárias à virtude de religião.”

Conta-se que, nas terras de Alexandria, no séc. III, vivia uma bela e jovem donzela chamada Justa. Seus pais, outrora pagãos, foram convertidos ao Cristianismo por mediação de um diácono chamado Prailio. Deslumbrada pela pregação do missionário, a jovem sempre se colocava à janela de sua casa para ouvi-lo falar. Aos poucos, aquele doce nome de Cristo, tantas vezes pregado por seu servo, passou a ser a alegria de sua alma, e Justa se extasiava ao considerar as maravilhas que ouvia sobre aquele Deus que se encarnara para salvar os homens.

Esta família, tendo recebido muitas graças, resolveu confirmar sua conversão, procurando Prailio, que os encaminhou a um bispo para que fossem, enfim, batizados.

Com decorrer do tempo, a jovem se afervorava cada vez mais.

Uma investida nefanda

Ora, havia por aquelas terras um homem chamado Aglaida, que se encantou com a beleza de Justa e, apaixonado, pediu sua mão em casamento. Em vão procurou este pobre sábio tomar para si aquela bela donzela, pois Jesus Cristo conquistara para si aquele nobre e virginal coração.

Cegado pela paixão, Aglaida empregou todos os seus esforços inutilmente; porém, decidiu partir para uma investida nefanda: a magia.

Vivia em Alexandria um famoso bruxo de nome Cipriano. Era hábil na arte mágica e célere na evocação aos demônios. A ele foi encomendado um feitiço para atrair o coração de Justa a Aglaida. Acostumado com este tipo de pedido, Cipriano logo invocou um demônio que lhe forneceu uma poção mágica para ser derramada ao redor da casa de Justa. Isto feito, em breve a jovem apaixonar-se-ia por Aglaida.

Segundo narram as crônicas, concluído o procedimento, o próprio diabo ficou ali à espera de que Justa saísse para ir à Igreja e sentisse os efeitos do feitiço. Mas, ao sair de casa, a virgem sentiu a repugnante presença do infame inimigo e logo fez o sinal da Cruz. Espavorido ante a exorcística ação de Nosso Senhor, presente de algum modo em Justa, o demônio correu para junto de Cipriano a fim de transmitir-lhe o insucesso.

Em vão tentou o bruxo evocar outro demônio mais forte, mas este também obteve o fracasso… Espantado com o poder que possuía aquela moça, decidiu lançar sobre ela tudo quanto sua magia tinha de mais poderoso, ou seja, evocar o pai dos demônios.

Assumindo um corpo feminino, Satanás apresentou-se a Justa como uma jovem que pretendia seguir seus passos e seu exemplo. Aproximando-se para conversar, logo começou a lançar argumentos contrários à virtude, baseando-se em premissas lógicas, o mais das vezes sustentadas nas passagens da Escritura.

Com notável fortaleza de alma, Justa fez o sinal da cruz e soprou sobre a possessa, que logo fugiu de sua presença.

Ao tomar conhecimento do insucesso, Cipriano não pôde esconder sua perplexidade: de fato, o Crucificado teria mais poder que os infernos?

Com efeito, este mesmo Crucificado já estava a vencer, também, na alma de Cipriano…

Cipriano se converte

Constatando o poder da Cruz e a excelência da virtude de Justa, Cipriano decidiu abandonar aquela pérfida vida que levava. O demônio logo tentou possuí-lo para evitar que lhe escapasse das mãos, contudo, seguindo o exemplo de Justa, exorcizou-o com o sinal da Cruz!

Depressa, procurou o bispo Antêmio para pedir-lhe a catequese e o batismo. Em pouco tempo, Cipriano queimou aquilo que adorava e passou a amar aquilo que antes perseguia, tornando-se um dos mais fervorosos cristãos de Alexandria e, em menos de dez anos, o sucessor de Antêmio.

No fim de sua vida, mereceu a palma do martírio sob a perseguição de Diocleciano, morrendo junto com aquela que fora a sua mãe na vida em Cristo, Justina, assim renomeada por ele.

Práticas contraditórias com o amor a Deus

Quão triste é olhar em volta e ver que não poucos Cristãos seguem exatamente o caminho contrário ao de São Cipriano, quando abraçou a Fé.

Se é verdade que estamos com Deus, mais forte que todo os infernos juntos, para que nos voltarmos a supersticiosas práticas?

A Igreja Católica nos ensina qual é a única posição que devemos tomar ante elas:

“Todas as formas de adivinhação devem ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demônios, evocação dos mortos ou outras práticas supostamente ‘reveladoras’ do futuro. A consulta dos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e de sortes, os fenômenos de vidência, o recurso aos ‘médiuns’, tudo isso encerra uma vontade de dominar o tempo, a história e, finalmente, os homens, ao mesmo tempo que é um desejo de conluio com os poderes ocultos. Todas essas práticas estão em contradição com a honra e o respeito, penetrados de temor amoroso, que devemos a Deus e só a Ele.

“Todas as práticas de magia ou de feitiçaria, pelas quais se pretende domesticar os poderes ocultos para pô-los ao seu serviço e obter um poder sobrenatural sobre o próximo – ainda que seja para lhe obter a saúde – são gravemente contrárias à virtude de religião. Tais práticas são ainda mais condenáveis quando acompanhadas da intenção de fazer mal a outrem ou quando recorrem à intervenção dos demônios” (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2116-2117).

Pena é que ainda haja “católicos” insistentes em mesclar o bem da Religião com os males funestos da superstição…

__________Por Jean Pedro Antunes

 

Obras consultadas:

LEONARDI; A. RICCARDI; G. ZARRI (dir.). “Diccionario de los santos”. San Pablo; Madrid, 2000, p. 500-502.

CATECISMO da Igreja Católica. 11. ed. São Paulo: Loyola, 2001.

ROHRBACHER, Padre. “Vida dos Santos v. XVII”. Editora das Américas; São Paulo, 1959, p. 34 a 35.

 

 

(Fonte: in Gaudium Press, artigo postado em 25/09/2022)

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