NECESSIDADE DO SACRAMENTO DA CONFISSÃO
Nunca devemos nos fechar diante do divino poder de Jesus de perdoar nossos pecados.
Diz-se em latim assueta vilescunt, ou seja, o uso frequente de algo quase sempre acaba em desgaste. E não importa qual seja a magnitude do objeto usado e nem mesmo sua substância. Por exemplo, nada há de mais banal para nós do que o dia a dia do curso solar, entretanto, Santo Agostinho o considera como um dos milagres naturais de Deus. Até os milagres sobrenaturais não escapam a essa regra.
Há cerca de dois mil anos, o Sacramento da Confissão está à disposição de qualquer penitente; contudo, perdemos com facilidade a noção da misteriosa grandeza do perdão que através dele recebemos. A própria noção da gravidade do pecado facilmente se evanesce em nós, quando são insuficientes nossa vigilância e nossa vida de piedade.
Com efeito, a tendência do tíbio é esfriar-se na prática da virtude, estancar-se em seu progresso. Por não tomar a sério o pecado venial, sua vontade se debilita, conduzindo-o a um paulatino e progressivo abandono da oração e, por fim, à queda no pecado grave. Este mal é recriminado pelo Senhor: “Conheço as tuas obras: não és nem frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, como és morno, nem frio nem quente, vou vomitar-te” (Ap 3, 15-16).
Solução para a tibieza
Buscar Jesus, mesmo que seja através do auxílio de outros. Onde poderá melhor encontrá-Lo uma alma tíbia? Na Confissão frequente, feita com amor e seriedade; nela, além do benefício do nosso arrependimento, operará em nós a própria força de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quem aplicar assim este método jamais será apanhado por uma terrível enfermidade.
Pode o homem perdoar pecados?
Só a Deus cabe perdoar os pecados, conforme se encontra na Escritura: “Sou Eu, Eu mesmo, que cancelo tuas culpas por minha causa e já não Me lembrarei de teus pecados” (Is 43, 25). Nenhum juiz poderia arrogar-se a faculdade de perdoar qualquer pecado, pois este consiste numa ofensa feita a um Ser infinito, eterno, etc., e quem o comete contrai uma culpa também infinita.
No entanto, Jesus para tornar claro que o poder de perdoar pecados Ele o possuía também como Homem, não Se chamou a Si próprio “Filho de Deus”, e sim “Filho do Homem”. De fato, “Ele prova que é Deus não com argumentos, mas com a obra, quando revela aos escribas e fariseus o que estão pensando: ‘Jesus percebeu logo o que eles estavam pensando no seu íntimo, e disse: Por que pensais assim em vossos corações? ’”.
Portanto, Nosso Senhor Jesus Cristo não Se referiu a este poder enquanto seu detentor no Céu — pois o possui desde toda a eternidade —, mas “na Terra”, “demonstrando que também como Homem perdoa pecados”.
O exegeta Maldonado conclui ainda: “Da mesma maneira que o poder de perdoar os pecados foi comunicado à humanidade de Cristo por sua divindade, também de Cristo-Cabeça derivou para os membros que Ele quis, isto é, para os sacerdotes”. Ou seja, este poder de perdoar os pecados Ele mesmo conferiu aos seus sacerdotes.
Por que confissão?
A fim de alimentar nossa piedade em matéria tão importante, transcrevemos abaixo um belo episódio ocorrido com Santa Margarida de Cortona pouco depois de sua sincera conversão.
O próprio Nosso Senhor a instruía e lhe manifestava muita intimidade e amor. Um dia, repleta da confiança, a Santa “perguntou-Lhe quando O contentaria para que lhe concedesse o título de Filha em vez do de Pobrezinha, com o qual frequentemente a nomeava. O Senhor respondeu que ela ainda não era digna de tal nome, porque era filha do pecado; mas quando tivesse purificado a alma com uma Confissão geral de suas culpas, seria considerada no número de suas filhas diletas. […]
Para isso ela se preparou por alguns dias, nos quais jejuou com novo rigor de penitência e fez outros exercícios espirituais, procurando neste tempo fazer intensos atos de contrição. Depois se apresentou aos pés do confessor e durante oito dias lhe expôs ordenadamente todos os seus erros, com tanta compunção e profusão de lágrimas que bem se via o quanto estava verdadeiramente arrependida de todos os seus pecados.
Ordenou-lhe o confessor, então, […] que se aproximasse da Mesa Sagrada, agradecendo humildemente ao Senhor por haver sido reconciliada, através do Sacramento da Penitência. Obedecendo prontamente, tirou o véu e com uma corda ao pescoço se aproximou do altar para receber o Pão dos Anjos, com grande sentimento de devoção e extraordinário amor, pleno de piedade. […]
Agradou tanto ao Senhor o devoto afeto de sua serva que, neste momento, fez ressoar no fundo de sua alma aquela voz terníssima, tão suspirada por ela: ‘Minha filha’. Ouvindo tão doce palavra, Margarida foi tomada de superabundante júbilo de espírito […], gozando de suavíssimo êxtase. Voltando a si, apesar de não poder ainda falar direito, foi ouvida a dizer assim: ‘Oh, infinita e suma doçura de Deus; ó dia feliz que Cristo me prometeu; ó palavra cheia de toda ternura, quando Vos dignastes chamar-me vossa filha!’”. (Texto extraído, com adaptações, do livro O inédito sobre os Evangelhos vol. IV – Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP)
(Fonte: Gaudium Press)