O CORAÇÃO DE JESUS E MARIA
Como os primeiros raios da aurora vêm anunciando a chegada do astro-rei, a grande revelação feita por Jesus a Santa Margarida Maria foi preparada, desde os primórdios daquele século, por um surto de devoção a este Coração divino. Uma plêiade de almas fervorosas espalhou esta prática admirável, dentre as quais destacou- se São João Eudes.
Este varão verdadeiramente evangelizador, que consagrou sua vida inteira às missões e à formação dos sacerdotes na França, teve uma devoção fecundíssima aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria.
Impelido por um invulgar sopro da graça, explicitou com unção e sabedoria a ousada devoção que une num só os Sacratíssimos Corações do Redentor e de sua Mãe:
“Não sabeis que Maria nada é, nada tem e nada pode sem Jesus, por Jesus e em Jesus, e que Jesus é tudo, pode tudo e faz tudo n’Ela? Não sabeis que é Jesus quem fez o Coração de Maria tal qual ele é, e quis fazê-lo uma fonte de luz, de consolação e de toda sorte de graças para aqueles que recorrem a Ela em suas necessidades? Não sabeis que Jesus não apenas reside e assiste continuamente no Coração de Maria, mas é Ele mesmo o Coração de Maria, o Coração de seu Coração e a alma de sua alma, e que, portanto, vir ao Coração de Maria é vir a Jesus, honrar o Coração de Maria é honrar Jesus, invocar o Coração de Maria é invocar Jesus?” *.
De fato, foi Maria Santíssima quem trouxe à terra o Filho de Deus, o qual havia de redimir a humanidade pecadora, estabelecendo com todas as almas cristãs um comércio admirável e transformador. Neste sublime nascedouro da História da Redenção, quis Jesus ter bem junto de Si um Coração segundo o seu, isento de qualquer inclinação dissonante de sua divindade. Foi o Coração de Maria que conservou todos os mistérios e todas as maravilhas da vida de seu Filho, empregando inteiramente a sua capacidade natural e sobrenatural num exercício contínuo de amor a Jesus – o único objeto de todos os seus afetos. Nada, em Jesus, passava despercebido a Maria. Fossem suas manifestações interiores ou exteriores, fosse sua humanidade ou divindade. Por meio desse amor, o próprio Jesus esteve sempre vivendo e reinando no Coração de sua Mãe: “Se alguém Me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e Nós viremos a ele e faremos nossa morada” (Jo 14, 23).
O Imaculado Coração de Maria não é invocado por São João Eudes como se tivesse movimentos próprios, mas como tendo se dissolvido inteiro no Coração Jesus, incapaz de refletir em si qualquer coisa que não seja o próprio Deus. Sua filial audácia fez surgir um termo inédito: o Sagrado Coração de Jesus e de Maria.
(Fonte: excerto de artigo sob o título “Jesus e Maria: um só Coração”, de autoria de Ir. Carmela Werner Ferreira, EP – Arautos do Evangelho)
* Pe. Jean-Michel Amouriaux, Pe. Paul Milcent, Saint Jean Eudes par ses écrits, Médiaspaul, Paris, 2001, p. 140.