Muita gente procura mais, na devoção, as consolações de Deus do que o Deus das Consolações – diz o autor da “Imitação”. Como crianças que não procuram um alimento substancial, contentando-se com a guloseimas, confeitos e doces, querem certas almas um fervor sensível, as doçuras da oração. Se Deus lhes retira as consolações, queixam-se, abatem-se e murmuram. E não é raro que cheguem até a deixar os exercícios de piedade.
O amor Divino traz uma doçura infinita, enche e transborda o coração, mas nem sempre é todo de alegrias e consolações.
Jesus Cristo é um Esposo Crucificado. E ninguém O pode amar verdadeiramente sem a cruz. O pão da dor – de que fala o Salmista, deve ser o alimento preferido das almas que aspiram a uma piedade sólida e seguem o Divino Mestre até o Calvário. Santa Catarina de Sena experimentou tantas securas na devoção que se julgou abandonada por Deus. Santa Teresinha, durante longos anos, provou a mais cruciante aridez espiritual. E estas Santas foram duas almas seráficas! Muitas almas preferem, como diz São Francisco de Sales, o pão sem açúcar de uma devoção bem sólida e, mesmo sem consolações, provam, até o sacrifício, o seu verdadeiro amor a Jesus Cristo. Outras querem apenas o açúcar das consolações e rejeitam o pão do sacrifício, pão substancial da dor.
Ó meu jesus, prefiro o Vosso pão sem açúcar ao Vosso açúcar sem pão!
_______Mons. Ascânio Brandão
(Fonte: livro “O Breviário da Confiança”, Editora Cleofas, 4ª edição/2015, Meditação proposta para o dia 24 de Fevereiro, p. 60 – O destaque é nosso)