MariologiaO CARMELO É TODO DE MARIA

O SANTO ESCAPULÁRIO DO CARMO

Nossa Senhora do Carmo entrega o Santo Escapulário a São simão Stock

O SANTO ESCAPULÁRIO DO CARMO

No momento augustíssimo e dramático da Crucificação, Nosso Senhor Jesus Cristo nos entregou por filhos à sua Mãe Santíssima na pessoa do Discípulo amado, São João Evangelista com aquelas benditas palavras: “Mulher, eis aí teu filho”. Desde então o desvelo maternal da Virgem Mãe de Deus tem se manifestado de modo admirável para nos socorrer em nossas necessidades. E assim como o amor das mães, segundo a carne, tanto mais se acende quantos maiores são os padecimentos dos filhos, da mesma forma também nossa Mãe Celestial nos atende com solicitude mais amorosa nos momentos de maior angústia.

A dádiva do Santo Escapulário foi uma dessas incontáveis manifestações do afeto maternal de Maria Santíssima aos seus devotos filhos da Ordem Carmelitana, justamente quando esta já se via desamparada ante o assalto dos inimigos.

A ORIGEM DO ESCAPULÁRIO

A Ordem dos Irmãos da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo é portadora do glorioso título de ser a mais antiga comunidade religiosa consagrada de modo especial à Virgem Santíssima. As origens da Ordem prendem-se mesmo ao Profeta Elias e seus discípulos, que já prestavam culto àquela de que haveria de nascer o Messias.

As primeiras comunidades carmelitanas floresceram na Palestina, até que, no começo do século XIII, alguns Religiosos penetraram no Ocidente e fundaram conventos em diversos lugares.

Na Inglaterra foram os frades recebidos com especial acatamento pelo povo e por isso desde logo alcançaram grande reputação e engradecimento para sua Ordem.

Ora, não faltaram os que se sentiam incomodados com o florescimento dessa obra mariana. Aliás, o demônio não cessa nunca de insuflar em certos espíritos o desprezo e a hostilidade para com os trabalhos empreendidos sob a égide da Virgem. E com isso conquista infelizes adeptos que, ante aquela antiga inimizade estabelecida por Deus entre a Mulher bendita e Satanás, preferem engrossar as fileiras dos filhos das trevas.

Não podia deixar de ser assim com a Ordem Carmelitana: inimigos ousados procuraram difamar os Frades, dizendo que indevidamente se atribuíam o título de Ordem da Virgem, bem como que era falso que sua origem remontasse ao Profeta Elias.

A situação da Ordem era difícil quando no 1º Capítulo Geral celebrado no Ocidente, em 1245, foi eleito Prior Geral da Ordem o grande devoto de Nossa Senhora, São Simão Stock.

Perseverou o Santo em oração em seu Convento de Cambridge, a implorar o socorro da Virgem, e viu afinal atendidas as suas preces. Foi no dia 16 de Julho de 1251. O Santo pedia com respeitosa insistência a Nossa Senhora que se dignasse dar à Ordem um sinal sensível de Sua proteção. Eis que lhe aparece a Rainha do Céu e da Terra, rodeada de anjos e lhe entrega o Santo Escapulário com esta promessa confortadora:

“Recebe, filho diletíssimo, este escapulário da tua Ordem em sinal da aliança comigo, privilégio para ti e para todos os carmelitas; o que com ele morrer não sofrerá o fogo eterno”.

São Simão, reuniu logo os irmãos de hábito, relatou-lhes a aparição e lhes apresentou a preciosa relíquia recebida das mãos puríssimas de Nossa Senhora.

No mesmo dia o Santo ditou uma carta ao seu secretário, Frei Pedro Swanington, que foi enviada a todos os conventos da Europa, e na qual era exposta a maravilhosa ocorrência.

O PRIMEIRO MILAGRE

No mesmo dia em que a Virgem Santíssima se manifestara ao santo Prior, quis realizar, através do Escapulário, o primeiro milagre. O próprio secretário do Santo é que no-lo descreve:

“No dia 16 de Julho de 1251, enquanto o referido Beato Simão se dirigia a Winchester, levando-me como companheiro, para pedir ao Santo Bispo daquela Sé carta de recomendação para o Papa Inocêncio IV, saiu-nos ao encontro, montado em rápido corcel, Dom Pedro de Lyntonia, Deão da Igreja de Santa Helena, de Winchester, suplicando ao Beato Simão se apresentasse em assistir a seu irmão que estava para morrer em estado de desespero. O moribundo se chamava Walter, homem desavergonhado para praticar o mal, dado a rixas e a toda sorte de magias, desprezador dos Sacramentos, molesto para os vizinhos, o qual, batendo-se em duelo, tinha sido gravemente ferido e, vendo-se prestes a comparecer diante do tribunal divino, desenrolando-lhe o demônio antes os olhos todos os seus crimes, não queria ouvir falar em Deus nem em Sacramentos; porém, enquanto ainda podia falar, vociferava: “Estou condenado; que o demônio se vingue do meu assassino!”

“Ao chegar ao domicílio do moribundo encontramo-lo espumando pela boca, rangendo os dentes e com os olhos esbugalhados, como se fosse um cão raivoso. Como parecia prestes a morrer e já tinha perdido os sentidos, o Beato Simão fez o sinal da cruz, e deitando o Escapulário sobre o enfermo, levantou os olhos para o Céu e pediu a Deus que não permitisse que o preço do Sangue de Cristo se desbaratasse, caindo aquela alma nas mãos do inimigo comum.

“De repente o enfermo, que estava agonizando, recobrou as forças, os sentidos e a fala; e persignando-se com o sinal do Salvador, começou a increpar os demônios, dizendo com voz cheia de pranto: “Ai! Ai! Miserável que sou! Como temo a condenação. Minhas iniquidades superam o número de grãos de areia do mar. Apiedai-Vos de mim, ó Deus, pois a Vossa Misericórdia supera a Vossa Justiça. Padre (disse então ao Beato Simão) ajudai-me; quero confessar-me”.

“Retirando-me do quarto e passando para outra dependência da casa, contou-me aí o dito Deão, Dom Pedro, que vendo a impenitência e obstinação de seu irmão, se pusera no seu quarto a sós; e estando a orar, ouvira uma voz que dizia: “Levanta-te Pedro, e procura o meu amado servo Simão, que está a caminho daqui”. E sem poder ver quem falava, ouviu a mesma voz segunda e terceira vez. Pelo que, entendendo que era uma mensagem do Céu, se apressou a montar em seu cavalo para ir ao encontro do Padre que se achava a caminho. E deu graças a Deus por tê-lo encontrado tão logo.

“Depois de se confessar, Walter renunciou publicamente aos pactos que fizera com o demônio, e recebeu os Sacramentos da Igreja, dando sinais de grande arrependimento. Fez testamento, e querendo restituir os bens adquiridos injustamente e reparar os prejuízos por ele causados, obrigou o irmão, o Deão, sob juramento, de se encarregar dessa restituição. E mais ou menos às oito da noite expirou em santa paz.

“A alma de Walter apareceu ao irmão, o qual estava incerto da salvação do morto, e lhe disse que havia procedido bem com ele, e que pela intercessão da poderosíssima Rainha dos Anjos e pelo Escapulário do Servo de Deus que lhe servira de arma, havia podido evadir as ciladas dos demônios. A notícia desse fato se espalhou rapidamente pela cidade toda”.

PRIVILÉGIOS E INDULGÊNCIAS

Nossa Senhora atendeu aos rogos de São Simão Stock, que lhe implorava a maternal proteção, e lhe entregou como sinal sensível uma peça do hábito monacal – o escapulário. O simbolismo desse sinal é fecundo: a veste nós a usamos para proteger o corpo contra os rigores do tempo e contra a concupiscência. A Santa Igreja, recolhendo cuidadosamente a dádiva de Nossa Senhora, tornou o Escapulário um sacramental e lhe conferiu, como graça peculiar a da proteção sobrenatural contra todos os perigos que nos assaltam tanto durante a vida como na hora decisiva de nossa morte. Ao mesmo tempo o simbolismo da veste nos indica que a condição necessária para ganharmos a graça própria do Escapulário é nossa consagração a Maria Santíssima como seus servos, pois, se nos revestirmos da libré que Ela nos oferece, é porque concordamos em ser seus leais servidores.

Os privilégios conferidos pois aos devotos portadores do Santo Escapulário, são:

1 – a proteção da alma e do corpo,

2 – a graça da perseverança final.

A estes privilégios está anexo outro, também inestimável de que, falaremos depois: a pronta libertação da alma do Purgatório.

A Santa Igreja cumulou de indulgências os fieis que levam o Santo Escapulário. Assim podem eles lucrar indulgência plenária “toties quoties”, isto é, tantas vezes no dia quantas visitarem uma igreja onde esteja ereta uma confraria do Escapulário, por ocasião da festa de Nossa Senhora do Carmo, no dia 16 de Julho, ou num domingo de Julho, conforme o uso, desde que tenham satisfeito as condições de costume.

O PRIVILÉGIO SABATINO

Passados cinquenta anos da entrega do Escapulário a São Simão, a Virgem Santíssima apareceu ao Papa João XXII e lhe ordenou que fizesse saber que aqueles que trouxessem o Santo Escapulário do Carmo seriam libertados do Purgatório no sábado imediato à sua morte. Tal fato publicou o Santo Padre numa Bula, juntamente com outras indulgências por ele concebidas aos portadores do Escapulário.

O privilégio foi ratificado pelos Papas Alexandre V, Clemente VII e Paulo V, o qual prescreveu as condições para se fazer jus a eles, a saber, a guarda da castidade segundo o estado de cada um, e a recitação do Ofício parvo da Virgem e, para os que não puderem recitá-lo, ao menos a observância dos jejuns da Igreja, a abstinência de carne nas quartas-feiras e nos sábados, salvo em caso de comutação concedida pela autoridade competente.

O BREVE PONTIFÍCIO

O Santo Padre Pio XII, gloriosamente reinante [à época da publicação do artigo], houve por bem dirigir ao Prior Geral da Ordem dos Frades Carmelitas Calçados e ao Preposto Geral da Ordem dos Frades Carmelitas Descalços um Breve no qual manifesta sua alegria por saber que os religiosos “deliberaram dispender o máximo dos seus esforços na celebração das solenidades em honra à Santíssima Virgem Maria, pelo transcurso do sétimo século da instituição deste Escapulário da Mãe de Deus do Carmelo”.

Com estas palavras se refere o Santo Padre ao Escapulário:

“Na verdade, o Santo Escapulário é como um hábito mariano, sinal e penhor de proteção da Mãe de Deus; não pensem, porém, aqueles que vestem este hábito, que entregues à indolência e negligência espiritual, hão de conseguir a salvação eterna, pois o Apóstolo adverte: “Com temor e tremor, empenhai-vos na obra de vossa salvação” (Filipenses II, 12). Todos os Carmelitas, pois, seja nos Claustros das Ordens Primeira e Segunda, seja na Ordem Terceira Regular ou Secular, seja nas Confrarias, todos os Carmelitas, que pertencem por especial vínculo de amor a uma só família da Mãe de Deus, encontrem, no memorial da própria Virgem um espelho de humildade e castidade; na simples forma da veste encontrem um compendio de modéstia e simplicidade; sobretudo nesta mesma veste, que dia e noite trazem, encontrem um símbolo eloquente das preces com que imploram o divino auxílio; encontrem, finalmente, aquela consagração ao Sacratíssimo Coração da Virgem Imaculada, por Nós recentemente recomendada”.

(Fonte: revista Catolicismo, nº 4, abril de 1951, p. 7, excertos – Destaques são nossos)

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