OS CAMINHOS DE MARIA SANTÍSSIMA

OS CAMINHOS DE MARIA SANTÍSSIMA

São Luís de Montfort, no seu Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem (1862/2018), pede-nos para que imitemos a Mãe de Deus. Mas como poderemos imitá-la? Acaso fomos dotados de uma graça plena? Fomos preservados do pecado desde a concepção? Poderemos almejar uma união tão íntima com Jesus Cristo tal qual a que ela possuía pela maternidade divina? Teríamos o atrevimento de pensar que seremos assuntos ao Céu e lá coroados acima de todas as criaturas? É impossível imitá-la nesses termos.

O que São Luís nos pede é para buscarmos imitar Nossa Senhora nas suas virtudes, percorrendo os mesmos caminhos que ela percorreu, pois esses são os trajetos mais perfeitos que nos levam a Jesus Cristo. Recorrendo às Sagradas Escrituras, podemos investigar quais são esses caminhos. Nas Escrituras, lemos poucas passagens sobre a vida de Nossa Senhora, e a esse fato S. Luís chama a atenção para a humildade da Virgem que, apesar da grandiosa participação no plano da salvação, pouco apareceu. Nessas poucas passagens, porém, lemos sete ocasiões em que ela está a caminho de algum lugar:

PRIMEIRO CAMINHO: A VISITAÇÃO À SANTA ISABEL

Ao saber que sua prima Isabel, já em idade avançada, está grávida, Nossa Senhora, na sua caridade perfeita, dispõe-se rapidamente a visitá-la. À primeira vista, esse parece ser um evento simples, comum daquele tempo, ainda que pesem as dificuldades naturais de uma moça jovem, recém desposada, já grávida, fazer tão longa viagem. Mas Deus não planejara algo simples: ao ouvir a voz da Virgem, Santa Isabel fica cheia do Espírito Santo, declarando-a como Mãe de Deus, e o menino, São João Batista, é santificado no ventre de sua mãe. Daí se cumpre a profecia de Isaías sobre São João Batista: “Eis que envio o meu anjo diante de ti: ele preparará o teu caminho. Uma voz clama no deserto: Traçai o caminho do Senhor, aplanai as suas veredas” (S. Mc 1,3). Nossa Senhora se põe a caminho para servir com simplicidade, fazendo o bem que ela podia, e nisso deu a eles o maior dos bens, a santificação. Nesse primeiro caminho, portanto, Nossa Senhora nos ensina a sermos caridosos mesmo nos pequenos atos, porque deles Deus tira grandes coisas.

SEGUNDO CAMINHO: A VIAGEM À BELÉM

Antes da viagem, ainda no episódio da anunciação do anjo, a Virgem nos dá uma demonstração sublime de sua submissão à vontade divina: “Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (S. Lc 1,38). Note que ela diz ao anjo: seja feito como tu [anjo] dizes, e não “como o Senhor diz”. Ela se submete primeiramente ao anjo, mostrando-nos que submeter-se a Deus significa, na maior parte das vezes, submeter-se aos meios que Ele dispõe, e não aos fins. No episódio da ida à Belém, a Virgem mostra uma submissão ainda maior, porque já não é o anjo quem lhe diz, mas é César Augusto quem ordena o recenseamento. Nisso ela nos mostra que a obediência à providência divina está mesmo nas circunstâncias cotidianas vindas de pessoas que não temem a Deus. Aceitando essas condições, a Virgem Maria e São José fazem cumprir a vontade divina do nascimento pobre e oculto de Nosso Senhor numa manjedoura. A Santíssima Mãe nos ensina a resignação total à vontade de Deus, onipotente, sábio e amoroso, que escolhe para nós as melhores circunstâncias, por mais que aos nossos olhos elas possam parecer adversas.

TERCEIRO CAMINHO: A APRESENTAÇÃO DO MENINO JESUS NO TEMPLO

Nossa Senhora nos ensina neste episódio o cumprimento dos Mandamentos. Observe que ela não está obrigada, de forma alguma, a cumprir o mandamento da purificação da Lei Mosaica, visto que é puríssima antes, durante e após dar à luz o Menino. Mesmo assim, ela se submete, pois não há amor a Deus onde não há zelo pelos Seus mandamentos. Os mandamentos são a vontade de Deus que nos é manifestada. E todo aquele que ama quer fazer a vontade do amado. Pelos mandamentos, Deus nos explica o que é bom para a nossa natureza, e por isso sua Lei é excelente, e seu cumprimento nos aprimora e aproxima d’Ele.

QUARTO CAMINHO: A FUGA PARA O EGITO

Lemos nas Escrituras: “Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação” (Eclo 2,13); e também: “Pois todos os que quiserem viver piedosamente, em Jesus Cristo, terão de sofrer a perseguição” (II Tim 2,13). A perseguição que sofre a Virgem Maria e sua resignação ao fugir para o Egito, abandonando tudo de imediato, com perfeito desapego, ensina-nos que não há caridade sem perseguição, porque é ela que vai aprimorar em nós o desapego deste mundo, separando-nos das criaturas, e, por isso mesmo, aproximando-nos do Criador.

QUINTO CAMINHO: A VOLTA À NAZARÉ

Por que a Sagrada Família escolhe a humilde Nazaré? Porque ali está a santidade da vida simples, cotidiana, a santidade do trabalho comum, de carpinteiro, de dona de casa, de filho obediente e submisso aos pais. Ali, por trinta anos, não fazem nada de extraordinário; a santidade daquelas pessoas, as mais santas que esse mundo testemunhou, está em lapidar a madeira, varrer o chão, buscar a água no poço, cortar a lenha. A infinita santidade de Nosso Senhor, a imensurável santidade de Nossa Senhora, a imensa santidade de São José, residem em coisas que em nada diferem das que fazemos. Eis aí a lição: a importância espiritual da vida cotidiana levada na simplicidade e humildade. É através da vida simples, se bem levada, que caminharemos em progresso de santidade até a vida eterna.

SEXTO CAMINHO: A PERDA E O REENCONTRO DO MENINO JESUS

Nossa Senhora poderia nos ensinar tudo, menos as consequências do pecado. E é isto que significa o pecado: a perda do mais precioso bem, Nosso Senhor Jesus Cristo. Nesse episódio, ela nos ensina da única forma que poderia — não pelo pecado, mas perdendo-O literalmente — qual a tamanha aflição de se perder esse precioso bem, e com que rapidez devemos agir para recuperá-Lo. A diligência que ela empenha na busca pelo Menino, caminhando a noite inteira, sem descanso e sem pensar em outra coisa a não ser encontrá-Lo de novo, é o modelo perfeito para o nosso proceder, quando perdemos Nosso Senhor pelo pecado. Também nos ensina a indagar porque O perdemos, e que precauções tomar para não voltar a perdê-Lo.

SÉTIMO CAMINHO: SUBIDA AO CALVÁRIO

É aqui que Nossa Senhora nos ensina como chegar ao ápice da santidade, pela aceitação das cruzes que Deus envia, com absoluta resignação e desapego às criaturas, e pelo amor inabalável a Deus, mesmo em meio aos maiores tormentos. Ela nos ensina a doutrina do sofrimento pela qual todos os santos se santificam.

* * *

Percorrendo os caminhos de Nossa Senhora, ensina S. Luís de Montfort, mantemo-nos em terreno seguro e em atalho para nossa ida ao Céu, onde encontraremos seu Filho amado e nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

___Fontes:

MONTFORT, São Luís Maria G. de. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. Petrópolis: Vozes, 2018.

FLOS CARMELI (Youtube). Os caminhos de Maria San-tíssima – Profa. Dra. Ivone Fedeli. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=l2yfyPD7Omg

_________Marcos Domingues (Extraído de aula da profa. Ivone Fedeli.)

(Fonte: in Revista Benedicta, Vol. 2, nº 2, Fevereiro/2021, Editora da Irmandade do Carmo, pp. 8-10)

Sou Todo Teu Maria: “Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo.” (São Luis Maria de Montfort)