Primeira Sexta-feira do Mês. Sagrado Coração de Jesus

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE JUNHO DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Que doce e amável é o jugo do Senhor! Só levando-o podemos ser felizes.

PRIMEIRA SEXTA-FEIRA DO MÊS DE JUNHO DEDICADA AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

QUE DOCE E AMÁVEL É O JUGO DO SENHOR! SÓ LEVANDO-O PODEMOS SER FELIZES

“Vinde a mim todos que andais em trabalho e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e achareis descanso para as vossas almas, porque o meu jugo é suave, e o meu peso leve” (Mt 11, 28-30)

Os homens buscam naturalmente a felicidade; para a conquistarem sacrificam muitas vezes o repouso e a saúde, expõem até a vida aos maiores perigos; mas quantos a acham? Ai! Ainda se com todos os seus esforços alguns chegassem a consegui-la! Donde procede isto? É que eles a procuram onde ela não existe; querem ser felizes, mas procurar a felicidade onde ela reside não querem. Querem achá-la nas riquezas, nos prazeres dos sentidos, nas honras, na ciência; mas cedo ou tarde se convencem que tudo isto não lhes pode de modo algum contentar o coração.

Vede este homem: toda a vida trabalhou por adquirir riquezas; no meio de tantos trabalhos, tantas fadigas, tantas vigílias um só pensamento o sustentava, o pensamento da felicidade. Agora que ele nada no seio da abundância, que vive no meio dos seus tesouros, que tudo parece sorrir-lhe, agora por certo é feliz. Aí, reconhece que suas riquezas estão abaixo de si, e que não é para elas que foi feito; sente que, longe de lhe darem a felicidade, só lhe dão inquietações e cuidados; não lhe falta nada, e está devorado de desejos sempre renascentes; queria repouso, e ei-lo em incessante movimento por causa destas mesmas riquezas. Pobre infeliz! Tantas fadigas para adquirir seus tesouros, para agora só os possuir com temor, e os perder com dor!

O voluptuoso engolfa-se em suas hediondas paixões; nada recusa a seus imundos apetites; busca nos prazeres dos sentidos a felicidade por que suspira. Decepção cruel! Onde esperava colher rosas, só acha duros espinhos. Sua paixão pede-lhe sem descanso pasto, e ele, infeliz! Dá-lhe e bem sente que nada a pode fartar! Sente que sempre lhe brada: Mais, mais. A felicidade não se acha, pois, nos prazeres dos sentidos?… Ouço a voz do voluptuoso que responde: Não, não: neles pretendi eu encontrá-la, neles eu a procurei, e vi que esses falsos prazeres duram um só instante, ao passo que os remorsos que o seguem são eternos.

O ambicioso moveu céu e terra para chegar às honras: encontrou-as; está satisfeito. Todo o mundo exalta a sua felicidade, inveja a sua sorte. Só ele é desgraçado; quisera uma coisa que lhe lisonjeasse o orgulho e saciasse ao mesmo tempo o coração, e reconhece, mas, é tarde de mais, iludiu-se e só agarrou vão fumo.

O sábio todos os dias ajunta conhecimentos novos aos que já possuía; todos os dias aprende, todos os dias descobre verdades novas. E com tudo isto é feliz? Seu coração fica muitas vezes vazio, e ele acaba por compreender que toda a ciência é nada, e que é impotente para torná-lo verdadeiramente feliz.

Ó meu Deus! Onde está, pois, a felicidade? Onde irei eu procurá-la neste mundo? Nos palácios dos reis e dos grandes? Mas eles são a morada de inquietadores cuidados e de angústias tanto mais amargas quanto se encobrem sob a capa da alegria. Nas casas dos ricos? Mas lá eu só vejo lágrimas. Na tenda do pecador? Só lá descubro o cruel remorso. Onde encontrarei, pois, ó meu Deus! Essa felicidade sem a qual não posso passar? Onde poderei depor este peso de misérias que me oprime? Ah! Ouço a vossa resposta, ó doce Jesus!

“Vinde a mim e eu vos aliviarei”

Sim, meu Jesus, só vós podeis dar-me a calma, a paz, a felicidade que eu desejo e sem a qual me não é possível viver. Em vão a pedirei às riquezas, às honras, aos prazeres, a qualquer criatura que seja, nunca chegarei a consegui-la. Sempre meu coração estará doente, sempre estará inquieto, sempre estará descontente. Sois vós que assim o permitis, ó meu Deus! Porquanto este coração, havendo só para vós sido criado, sempre está inquieto, enquanto não é todo vosso; todo outro objeto que não vos pode ocupá-lo, mas saciá-lo e faze-lo feliz, não pode.

“Tomai sobre vós o meu jugo.”

Ó míseros filhos de Adão! Este é o único meio que tendes de chegar à verdadeira felicidade. Deixai de uma vez vossas paixões, calcai aos pés o vil respeito humano, vício de almas covardes e sem energia, desprezai o jugo de um mundo desprezível, e tomai sobre vós o jugo de Jesus Cristo… Que esta palavra jugo não aterre; o jugo que o Senhor impõe não se assemelha em nada ao jugo do demônio e do mundo; é um jugo cheio de doçura, é um jugo extremamente leve. Ó feliz! Mil e mil vezes feliz quem leva este santo jugo! Feliz quem ama a Jesus! Compreendo o que há de suave em seu serviço, e de inefável em seu amor.

O grande São Paulo assim que sentira a doçura do jugo do Senhor, logo brada: “Estou certo que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem as coisas presentes, nem as futuras, nem a violência, nem a altura, nem a profundidade, nem outra criatura alguma poderá apartar-me do amor de Deus em Jesus Cristo nosso Senhor”

No meio das fadigas, dos trabalhos, das privações contínuas e dos perigos do seu apostolado, gozava de felicidade tão grande, que escrevia aos fiéis de Corinto estas notáveis palavras:

“Estou cheio de consolação, exubero de gozo no meio de todas as minhas tribulações”

Quando é que um homem embebido nos prazeres do mundo pôde dizer outro tanto? Quando é que ele disse do seio mesmo dos seus maiores prazeres: “Sou feliz?” Nunca, nunca. Ao contrário, a triste experiência de todos os dias lhe há por muitas vezes arrancado um testemunho que, em sua boca, é de grande peso, e com o rei Salomão ele diz:

“Em tudo eu só descubro o vácuo e a dor; tudo neste mundo é só vaidade e ilusão”

Exortavam São Policarpo a abandonar o serviço de Jesus Cristo, e ameaçavam-no com a morte, se não obedecia.

“Que! Respondeu ele cheio de indignação, há oitenta e seis anos que o sirvo, ele me torna feliz acumulando-me de toda a sorte da graça, e vós quereis que eu o abandone? Não, não, antes morrer!”

Santo Agostinho, antes de sua conversão, passara uma vida toda sensual, passara grande número de anos no esquecimento de Deus e desregramento das paixões. Chamado enfim à virtude, e transportado de júbilo santo por haver sido libertado de suas cadeias, assim prorrompia em reconhecimentos: Rompestes, ó meu Deus! Rompestes os meus laços! Que o meu coração e a minha língua vos louvem eternamente por me haverdes feito receber o jugo tão amável e tão leve peso da vossa lei! Quão suave se me fez subitamente o privar-me desses gozos vãos, dessas ninharias vis! Mas que minha alma antes tanto receava perder, já inundada de gozo as deixava. Era que vós mesmo a expelíeis do meu coração, doçura verdadeira e soberana, vós as expelíeis, e entraveis em seu lugar, suavidade superior a todos os prazeres, incógnita, porém, à carne e ao sangue!… Então estava o meu espírito livre desses mordazes cuidados que dilaceram aos que correm após as honras, os bens, e prazeres dos sentidos, e todas as minhas delicias eram dirigir-me a vós, minha glória, minha riqueza, meu Salvador, meu Senhor e meu Deus… Quão tarde comecei a amar-vos, dizia muitas vezes, ó beleza tão antiga e tão nova! Quão tarde comecei! Mas finalmente fizestes chegar até mim vosso odor celeste; e desde esse momento suspiro por vós. Fizestes-me gostar vossas inefáveis doçuras, e elas me deram por vós uma fome e sede que me devoram. Ó meu Jesus! Não é amar-vos bem, amar convosco alguma coisa que se não ame por vós. Ó amor cujo fogo arde sempre e nunca se extingue! Ó caridade! Que sois o meu Deus, abrasai-me.

São Francisco Xavier achava tanta felicidade no serviço de Jesus, que muitas vezes, não podendo mais conter a alegria interior que o inundava, clamava:

“Senhor, Senhor, basta, não posso suportar mais!”

Podia multiplicar estes exemplos até ao infinito; limito-me, porém, a estes quatro que tomei, como ao acaso, nos anais dos santos. Quem ama a Deus bem me compreende e sabe quanto é doce servi-lo. Oh! sim, digo-o, repito-o, e possam todos os homens ouvir a minha voz: feliz, mil e mil vezes feliz quem ama e serve a Jesus, nosso bom Mestre! Uma profunda paz será seu quinhão: Pax multa diligentibus legem tuam. Gozará neste mundo de uma felicidade que Jesus só pode dar; gozará da serenidade tão doce de uma consciência pura; seu coração será inundado de prazeres, de consolações inefáveis; sofrerá com santa resignação os males desta vida e verá aproximar-se a morte sem perturbação e sem temor, pois sua alma estará sem manchas e sem remorsos. Pax multa diligentibus legem tuam! Sim, meu Jesus, Pax multa diligentibus legem tuam! A paz é quinhão de quem vos ama; fora de vós não se pode achar esta paz. Que outros busquem por sua herança os prazeres, as honras, as riquezas; eu, ó Jesus, eu escolho-vos a vós pelo Deus do meu coração. Vós sois a minha herança, a minha felicidade, o meu tesouro, a minha vida, o meu tudo; vós só me bastais.

Bem o sinto; não posso viver sem a calma e a paz que uma boa consciência dá; não posso viver sem Jesus. É preciso, pois, custe ele o que custar, que eu seja deste bom Mestre. Que felicidade, quando eu já não tiver nada que exprobar-me! Que felicidade, quando, levantando os olhos ao céu, poder dizer comigo mesmo: Aquele belo céu em que brilham com tanto fulgor cem milhões de estrelas, é o palácio da meu pai, do meu melhor amigo, do meu Deus. Ele me ama, e eu o amo também. Que felicidade! almas mundanas e eternas, vós não a compreendeis, mas purificai o coração, e para logo compreendereis o quanto é grande.

Meu doce Salvador! Dignai-vos admitir-me no número de vossos fiéis servos e de vossos filhos queridos! Longe estou eu, bem o sei, de merecer tal favor; os inumeráveis pecados da minha vida passada me torna indigno, e sei demasiado quão justa é a vossa indignação. Ai! Filho ingrato e desnaturado, abandonei-vos vergonhosamente para me pôr ao serviço do vosso mais cruel inimigo! “Ó meu pai! Já não sou digno de ser chamado vosso filho”, mas não obstante quero sempre esperar em vossa bondade. Eis-me aqui a vossos pés todo enternecido à vista da vossa misericórdia, e confuso de vos haver faltado ao respeito abandonando-vos; dignai-vos restabelecer-me em vossa boa graça, e inflamai-me do vosso santo amor para que não mais vos deixe. Ó meu Jesus! Não poder eu amar-vos tanto como vós mereceis! Ah! Ao menos, amo-vos de todo o coração, mais que a todas as coisas, mais que a mim mesmo, e desejo o vosso paraíso para nele poder amar-vos eternamente, sem temor de vos perder. “O que há para mim no céu, e que desejo eu sobre a terra, senão a vós, ó Deus do meu coração, e minha partilha por toda eternidade”? Ó Jesus! Vós sois o meu único tesouro, o meu único amor; vós só me bastais. Ó Maria! Minha esperança depois de Jesus, por vossas preces atrair-me todo a Deus, e obtende-me a perseverança final. Assim seja.

(Fonte: in As Chammas do Amor de Jesus, Abade D. Pinnard, traduzido pelo Rev. Padre Silva, 5ª edição popular, excertos do Capítulo XLV, obtido do blog Alexandria Católica – Destaques acrescidos)

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