Reinado do Coração de Jesus
PRIMÓRDIOS DA DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
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PRIMÓRDIOS DA DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Continuação…
NO ADRIO DO TEMPLO
Os Santos Padres, antes de S. Bernardo, conheceram esta porta (a Chaga do lado ou do costado), e entraram por ela no Divino Coração de Jesus.
Besson no primeiro apêndice do seu opúsculo sobre o Sagrado Coração, tratando dos precursores da humilde Visitandina, escreve: «Antes que a Igreja começasse a honrar publicamente o Coração de Jesus com um culto especial, os santos mais famosos por suas luzes mais vivas da contemplação e pelas chamas mais vivas do amor, tinham descoberto no Sagrado Coração sublimes mistérios, e tinham n’Ele encontrado aguas suavíssimas e consolações celestiais». E cita Santo Agostinho, S. Cipriano, S. Cirilo e outros.
Isso mesmo afirmam Noldin, Tesniere, Martorell e Castella e também o autor do Compêndio histórico, que cita duas passagens de Santo Agostinho. «O soldado me abriu o lado com a lança e eu entrei nela e aí encontrei repouso seguro», e a outra passagem: «Ó Coração fonte de água viva, dá-me de beber do licor salutar do qual sois a fonte».
Nilles reproduz o texto do memorial que foi apresentado à Sagrada Congregação em 1697, em que, entre outras, é citada a seguinte passagem de Santo Agostinho: «que toda língua e todos os povos professem e digam: amamos, amamos sempre o dulcíssimo Coração de Jesus».
Baruteil é de parecer contrário. Ele faz esta observação; – que nas passagens dos Santos Padres, que são citados, só se fala do costado e nunca do Coração e sobre o Manual de S. Agostinho, diz que este livro é atribuído a Santo Agostinho erradamente, não sendo outra coisa mais do que uma compilação de autor ignorado, posterior a ele, 700 anos.
Thomaz diz: «Relativamente ao objeto sensível desta devoção, pode-se asseverar que, no estado atual da ciência, ainda não se descobriu nenhum documento perfeitamente categórico. A atenção do mundo científico está desgredada desde muito tempo: tem-se procurado testemunhas, compulsado arquivos e estudado tudo quanto se relaciona com as origens históricas, mas sem fruto».
Macinai segue um meio termo. Ele diz: «Nos primeiros séculos da Igreja, ao menos até agora, não se descobriu vestígio algum de culto tributado ao Coração de carne de Jesus, como símbolo de amor. Porém, pode-se dizer que os Santos Padres estavam muito chegados ao Sagrado Coração; se bem que não o designassem no peito de Jesus, como símbolo do seu amor para conosco».
Santo Agostinho foi o que mais se aproximou desta descoberta, apesar de que seu coração intimamente inflamado do amor de Deus não conseguiu chegar lá. Eles todos se referiram à Chaga do costado, e no sangue e água que saiam dela, os seus espíritos contemplavam uma fonte de graças. Viam naquela chaga um lugar de segurança e de perdão; mas no Coração ferido por nosso amor, não chegaram a entrar.
Aquilo que esse autor diz de Sto. Agostinho, me parece que podemos dizer de quase todos os outros Santos Padres dos primeiros séculos. Pela chaga, eles entravam no adrio do templo, que é o Coração de Jesus, e do adrio deram uma olhada ao magnífico templo, admiraram sua grandeza, acharam a fonte e a nascente das graças, que as almas mais necessitam, que são os sacramentos da Igreja.
ALGUMAS PASSAGENS DOS SANTOS PADRES
SANTO ATANÁSIO diz em um discurso : «A chaga mais funda do Redentor foi a do costado. Por causa da mulher, que saiu do lado do primeiro homem, nos veio a ruína: do lado do segundo, Adão, nos veio a redenção e purificação da primeira culpa: a redenção pelo sangue e a purificação pela água».
À explicação literal, o Santo Doutor ajunta uma explicação, que muito se aproxima do nosso simbolismo. Esta palavra – a chaga – se pode interpretar ainda neste sentido: – que pela lembrança do lado ferido, o Filho do homem tenha querido dar-nos a conhecer o seu grande amor pela Igreja.
S. JOÃO CRISÓSTOMO comenta o fato da abertura do lado por esta maneira: «Abriram-lhe o lado e dele saiu sangue e água… e de ambos foi a Igreja formada. Os iniciados sabiam disso: regenerados pela água, são nutridos pelo sangue e pela carne. Daqui se originam os mistérios, e toda vez que te aproximas do sagrado cálice, é como se bebesses quase no mesmo costado.
«Não foi por acaso, tinha eu já dito em outro discurso e tão simplesmente que brotaram estas fontes sangue e água; mas porque de sangue e água, de ambos, fosse constituída a Igreja. Abriram-lhe o lado com uma lança e O insultaram na sua morte. Ó crime! Ó barbárie! Não te espantes irmão caríssimo. O que eles fizeram com intenção perversa, é a confirmação da profecia, que diz: «Hão de voltar o olhar para aquele que tinham transpassado».
«Um mistério escondido se revela, porque saiu d’Ele sangue e água».
SANTO AMBRÓSIO escreve : «Dando-se talhos nas árvores d’Engaddi, elas espalham em redor de si o seu perfume: por eles se aumenta o bom cheiro, e o líquido que delas sai, é bálsamo perfumoso. Quando Jesus Cristo foi ferido pela lança, saiu da chaga sangue e água mais suaves do que todos os perfumes: e espalhou-se por toda terra o bálsamo da santidade. A chaga do lado nos fez sentir o bom odor da remissão dos pecados e da redenção».
SANTO AGOSTINHO fala muitas vezes da chaga: «O esposo se adormenta na sua morte e foi aberto o seu lado, para que dele saísse a Igreja Virgem. Como Eva foi tirada do lado de Adão enquanto ele dormia, assim a Igreja será formada do lado de Cristo suspenso na Cruz. Do costado de Cristo saiu sangue e água, duas coisas misteriosas: a água purifica a esposa, e o sangue, fica sendo seu dote».
Na chaga do costado acha ela o seu repouso e convida todos a entrarem aí. «E agora venham todos os que desejam o paraíso, o lugar da tranquilidade e do descanço, o lugar em que não se teme o bárbaro e no qual os adversários não nos prejudicam: vinde todos. Entrai, para isso, foi aberto o lado».
BEDA, de todos, é o mais explícito. Comentando estas palavras do Livro dos Cânticos: «vulnerasti cormeum, soror mea» diz: «Estas palavras se podem tomar no seu significado simples: recordando o seu Coração ferido, Jesus Cristo nos quer exprimir a grandeza do seu amor pela Igreja».
TOMÁS depois de considerar as passagens dos Santos Padres, assim conclui: «A Igreja pelo simbolismo da chaga, exprimia então o que agora exprimimos pelo simbolismo do Coração. É o mesmo pensamento, dito por uma forma diversa. O simbolismo antigo encerra implicitamente o novo, porque a chaga do costado, supõe a do Coração».
(Fonte: livro, em formato PDF, EU REINAREI A Devoção ao Sagrado Coração de Jesus no seu desenvolvimento histórico, Pe. Fernando Piazza dos Menores dos Enfermos, tradução do Dr. Alberto Saladino Figueira de Aguiar, Escolas Profissionais do Lyceu Sagrado Coração de Jesus, São Paulo/1932, Cap. IV – Os Fatos de Evangelho, pp. 62-66, obtido do blog Alexandria Católica – Texto revisto e atualizado e alguns destaques acrescidos)