Reinado do Coração de Jesus

PRIMÓRDIOS DA DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

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PRIMÓRDIOS DA DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

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NO MOSTEIRO DE HELFTA

SANTA LUTGARDA

Antes de penetrar neste célebre mosteiro, onde vamos encontrar a devoção do S. Coração de Jesus, praticada com tanto fervor, façamos uma breve parada num outro mosteiro de religiosas da Ordem Beneditina.

Encontramos Santa Lutgarda no mosteiro de S. Trond na Bélgica. (1182 – 1246). Eleita Superiora da Comunidade com a idade de 24 anos, para livrar-se da responsabilidade desse encargo, ela deixou aquele mosteiro e passou-se para as religiosas de Cister, onde foi acabar seus dias santamente. Desde o princípio da sua vida religiosa, gozou de extraordinários favores do seu Divino Esposo. Para desapegá-la cada vez mais das coisas da terra, Nosso Senhor um dia mostrou-lhe a chaga do costado, derramando sangue vivo e disse-lhe: «Daqui em diante, não tens de procurar mais os deleites e as carícias vãs do mundo: habitarás e repousarás docemente no meu Coração, e nele, verás por quem e em quem deverás colocar o teu amor».1

Uma noite, quando entrava na Igreja pela porta do coro, apareceu-lhe Jesus Cristo crucificado, derramando sangue das suas cinco chagas. A Santa, diante daquele espetáculo, fica absorta, contempla-O com amor e observa uma nova maravilha. Nosso Senhor desprende um braço, desprega-o da Cruz, e com ele puxa a Santa para si, chega ao seu Divino peito e quer que ela deite sua boca na chaga do costado, e chegue seus lábios à corrente impetuosa do seu amor. E foi tão grande a suavidade e a força que ela ganhou com aquela corrente misteriosa, que desde aquele instante não sentiu mais o peso e a dificuldade da vida religiosa.2

Nosso Senhor tinha-lhe concedido o dom de curar doentes e vinham tantos doentes em busca da saúde, que sua alma vivia desassossegada. Para livrar-se daquela distração, e para aumentar sua devoção, pediu a Nosso Senhor que em vez desse dom das curas lhe concedesse o conhecimento da língua latina, para compreender o saltério; ela alcançou o seu pedido. Porém, a sua devoção não aumentou.

A Santa fez novo pedido. «Senhor, me enganei; é uma outra graça, de que preciso; concedei-me, dai-me o vosso Coração». «Pois que tu me pedes, respondeu Nosso Senhor, dou-te meu Coração; mas com a condição de me dares também o teu». «Sou feliz por pacto tão vantajoso, replicou a Santa, porém eu também quero impor-vos uma condição: Haveis de possuir meu coração com a condição de conservá-lo puro e limpo; e como meu amor é limitado, e o vosso infinito, tornai-me vós mesmo capaz do vosso amor, de modo que, unido o meu ao vosso Coração, em tão amigável companhia, carreguemos juntos o jugo suave do amor».3

IRMÃ MATHILDE

No mosteiro de Helfta na Saxônia na última metade do século XIII. A devoção do Sagrado Coração foi praticada, teve seus exercícios e seus tratados. Houve três almas privilegiadas, que viveram contemporaneamente, às quais cumprem uma especial missão: fazer conhecido e amado o Sagrado Coração de Jesus. A primeira delas é a Irmã Mathilde de Magdeburgo (+ 1293). Com doze anos de idade, ela deixou sua terra natal e veio para Magdeburgo, onde, sob a direção de um Padre Dominicano, passa a maior parte de sua vida, na mortificação e em urna íntima união com Jesus Cristo. Já avançada em idade entra no mosteiro de Helfta, e aí morre santamente.

Por ordem de Deus e de seu confessor escreveu um livro intitulado: «Lux Divinitatis» a luz da Divindade, no qual conta suas visões e as principais revelações que teve.

«Durante uma grave enfermidade, que me tribulava, diz Soror Mathilde, Nosso Senhor apareceu-me e mostrou-me a chaga do seu Coração, dizendo-me: Vede o mal que me fizeram. Por que Senhor, perguntei-lhe, sofreste tanto? Não era suficiente para resgatar o mundo o vosso puríssimo sangue derramado com tanta abundância na agonia do horto? Nosso Senhor respondeu-me: O meu Eterno Pai não estava satisfeito: a pobreza, os trabalhos, todas as dores e os desprezos que suportei, batiam à porta do céu… mas só foi aberto quando a lança abriu meu Coração, fez escorrer o sangue e banhar a terra».4

Um dia foi Mathilde levada à presença do seu Bem-amado, que lhe mostrou o seu Divino Coração, semelhante ao ouro puríssimo e vermelho, posto em fornalha ardente. Depois chegou-a ao seu Coração abrasado por esta maneira, de tal modo que o grande príncipe e ela sua pequena filha abraçaram-se e uniram-se como a água e o vinho. Em contado com aquelas chamas exclama ela: «Senhor sois o meu amigo, o meu desejo, o meu sol».5

Uma outra vez, disse-lhe Nosso Senhor: «Considera teu esposo magnificamente revestido com os ornamentos da Paixão, contempla-O suspenso na Cruz e estes ornamentos formarão a alegria do teu Coração. Estão seus olhos banhados nas lágrimas que derramou, seu doce coração ferido pelo amor: pensa na ferida da lança que penetrou o seu lado e o Coração, e nela chora os teus pecados».6

SANTA MATHILDE DE HACKBORN

Santa Mathilde de Hackborn é a segunda destas almas (1241-98). Estando em perigo de vida logo depois de nascida foi levada a um Padre, para dar-lhe o batismo. Depois de tê-la batizado o sacerdote, que era um homem Santo, disse: «Por que temeis? Esta menina não morrerá; será uma Religiosa Santa instrumento das maravilhas Divinas».7

Na idade de sete anos foi com sua Mãe ao mosteiro de Rodarsdof, na sua vizinhança. Mathilde ouve a voz de Nosso Senhor que a quer toda para si, e recusa-se a voltar para o castelo paterno, e foi tanta a insistência que fez para ficar com as Religiosas que foi preciso contentá-la. Dez anos depois esse mosteiro foi transferido para Helfta em uma propriedade que foi dada à Comunidade pelos irmãos de Mathilde.

Na sua entrada no mosteiro, ela encontrou uma irmã sua, de dezenove anos de idade, que tinha sido naquela ocasião eleita abadessa daquela casa religiosa. Sob a prudente e santa direção da sua irmã, ela dá os primeiros passos e faz bastante progresso na perfeição. As outras religiosas, que nos deixaram a narração das suas revelações no livro intitulado: «O livro da Graça Especial» fazem os mais belos elogios da jovem religiosa.8

Era de uma admirável doçura, de uma humildade profunda, de uma paciência inalterável, de um fervor e de uma piedade singular, amante sincera da pobreza. Amável e condescendente com todos, cheia de compaixão pelos necessitados para os quais era uma mãe cheia de ternura.

Deus a tinha enriquecido das suas graças espirituais e gratuitas e ainda das graças naturais: ciência, inteligência, conhecimento da literatura, voz harmoniosa. Todas essas qualidades a tornavam valiosa à Comunidade. Primeiramente dirigiu o canto no coro, depois foi mestra da escola. As religiosas, e entre outras, Santa Gertrudes, que fazia parte delas, corriam voluntariamente a ouvir suas lições e por toda a parte cercavam-na para ouvir suas palavras como se ela fosse um pregador.

A Santa era além disso dotada, em grau extraordinário, das virtudes que se requer em uma religiosa. A renúncia de sua vontade própria, desprezo de si mesma, obediência pronta, atrativo e gosto na contemplação. Era tanto seu espírito de pobreza, que se privava até do necessário; tão abnegada que parecia ter perdido o uso dos sentidos; tão mortificada que castigava o seu corpo inocente com rigorosas penitências. Era um Serafim semelhante aos do céu, tão intimamente ligado a Deus, que é o amor mesmo, abraçada com tanto afeto ao seu Dileto, sobre o Divino Coração. É incendiada de um ardor santo, e quando fala dele, comunica a quem a ouve essa chama de santo ardor.

Nossa Senhora aparece à Santa Mathilde Hackeborn.

Uma quinta-feira depois da Páscoa, cantando a Santa o lntroito da Missa: Venite benedicti Patris mei exclamou cheia de alegria: «Fosse também eu do número das almas afortunadas, que hão de ouvir estas doces palavras!» «Te garanto hás de ser, respondeu-lhe Nosso Senhor, e para garantia dou-te meu Coração, que conservarás sempre contigo, e me entregarás, como penhor, no dia em que eu satisfizer o teu desejo. Dou-te também meu Coração, como refúgio, para que na hora da morte, só se abra para ti um caminho que será meu Coração no qual terás o eterno repouso».9

Esta foi a premicia de todas as graças especiais que Santa Mathilde recebeu de Nosso Senhor; e desde aquele momento ela teve sempre uma terna devoção ao Sagrado Coração de Jesus. O Coração de Jesus é todo amor. Quando em uma quinta-feira Santa, Mathilde beijava a chaga do Sagrado Coração, ouviu Nosso Senhor dizer-lhe: «Nesta chaga encontras o amor que abraça a terra, o céu e toda criação: une teu amor ao meu para que se torne perfeito, e, como o ferro e o fogo unidos se confundam».

Alguns momentos depois, na hora de vésperas Nossa Senhora convidou-a: «Chega-te perto e beija as chagas, que por teu amor foram abertas, porque assim Ele quis; beija três vezes a do Coração e dá-lhe graças pela efusão dos favores celestes, que derrama sobre ti».10

O Sagrado Coração de Jesus é fonte de todas as graças. O Salvador apareceu um dia à Santa, tendo em suas mãos o seu Coração, mais resplandecente do que o sol; sua luz refulgia, belíssima, por tudo em torno, e deu-lhe a conhecer que todas as graças, que Deus derrama todos os dias sobre o mundo, têm origem no seu Divino Coração.11

O Sagrado Coração de Jesus ensina-lhe a louvar a Deus. Jesus a conduziu na solidão do deserto onde se achava um lagar coberto de relva e flores. A alma em figura de uma ovelha, pastava naquele lagar delicioso, e tinha ao pescoço uma corrente formada de anéis de ouro e prata e esta corrente saia do Coração de Jesus. «Ensinai minha alma desejosa de louvar seu Deus», dizia ela suplicando o Amado e este respondia-lhe: «Olha o meu Coração».

A alma observou e viu uma rosa magnífica de cinco pétalas sair daquele Divino Coração, e compreendeu que aquelas cinco pétalas significavam os cinco modos com que se pode louvar a Deus. 12

Foram tantas as graças que a Santa recebeu do Sagrado Coração de Jesus, que como ela mesma confessou se as tivesse escrito todas, teria sido necessário um livro maior do que o livro do coro.13

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  1. Vida, pg. 12

  2. idem, pg. 42

  3. Vida, pg. 12

  4. Liv. I, pg. 39.

  5. Liv. IV, pg. 171.

  6. Liv. VII, pg. 340.

  7. O livro da graça especial. Revelations de Sainte Mechtilde, pg. 5.

  8. A piedosa monja com infantil candura narrava a algumas de suas companheiras as maravilhas que Nosso Senhor operava em sua pessoa. Duas destas, sem que ela tivesse conhecimento disso, concordaram entre si do reunir estas narrações em um volume para edificação de grande número do almas. Um dia a Santa ouvindo a missa, ouviu uma voz misteriosa que lhe indicava uma das escritoras e ao mesmo tempo perguntava-lhe que recompensa se devia dar a esta escritora. Ela maravilhada perguntou à sua amiga se esta escrevia o que lhe contava. Ela não quis dizer sim nem não, respondendo-lhe: pergunte isso a Nosso Senhor. Assim fez a Santa. Um dia Nosso Senhor apareceu-lhe, com a mão direita sobre o Coração e o seu livro na mão e disse-lhe: «Tudo quanto aqui está escrito, sabe do meu coração e a ele voltará». (Idem pg. 229).

    Mathilde cheia de temor perguntou ao seu benfeitor celeste: devo cessar de contar as vossas graças ou continuar? «Ele respondeu: comunicai-lhes, com a generosidade própria do meu coração». «E que sorte terá este livro depois de minha morte e que vantagem produzirá ele? perguntou ainda a Santa. – «Teve esta resposta: Todos aqueles que me procurarem com amor sincero encontrarão nele consolação; os que me amam, aumentarão seu ardor por mim, e os aflitos encontrarão conforto na sua leitura. Será chamado o livro da graça especial.» (pg. 230). E ela viu mais três raios de luz partindo do Sagrado Coração de Jesus chegarem até as companheiras que escreviam as suas narrações e iluminá-las. O livro começado em 1921, foi acabado pouco antes da sua morte (1928). (Idem pg. 420) .

  9. O livro etc. pg. 187.

  10. O livro etc. pg. 69.

  11. Idem, pg. 234.

  12. Idem, pg. 234

  13. O livro pg. – 188.

(Fonte: livro, em formato PDF, EU REINAREI A Devoção ao Sagrado Coração de Jesus no seu desenvolvimento histórico, Pe. Fernando Piazza dos Menores dos Enfermos, tradução do Dr. Alberto Saladino Figueira de Aguiar, Escolas Profissionais do Lyceu Sagrado Coração de Jesus, São Paulo/1932, Cap. VI – No Mosteiro de Hefta – Tradição Continuada, pp. 74-80, obtido do blog Alexandria Católica – Texto revisto e atualizado e alguns destaques acrescidos)

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