PRIMÓRDIOS DA DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
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TRADIÇÃO CONTINUADA
LUIZ, chamado O BLOSIO (1506-1566) nos seus escritos dá o conselho que a alma se refugie, no tempo do sofrimento e da tentação, no Divino Coração de Jesus para achar força, auxílio e encontrar consolação e alegria. Recomenda vivamente que ofereçamos nossas boas obras ao dulcíssimo e Santíssimo Coração de Jesus, para que as purifique das suns imperfeições e sugere fórmulas comoventes para se fazer essas ofertas. «Pai celeste, Vos ofereço o amor inflamado e os ardentes desejos do Coração de Jesus vosso dileto Filho. Para suprir a frieza e aridez do meu». Ele tem palavras ternas e delicadas para saudar o Sagrado Coração de Jesus. «Te saúdo ó doce Jesus… tu quiseste, ó meu amado, que o teu Coração dulcíssimo fosse ferido para nossa salvação… que a lança do teu amor penetrasse tão profundamente o nosso coração e o unisse tão intimamente ao teu Coração que não possa querer senão aquilo que tu queres. Senhor, pela ferida do teu lado dai-me entrada no palácio misterioso da tua caridade e no Santuário da tua Divindade».
«Vos saúdo, Coração amantíssimo, boníssimo, dulcíssimo, ferido por meu amor: Vos saúdo tesouro incomparável de todo o bem e felicidade: peço-vos que sejais o meu doce asilo na hora da morte e a minha eterna morada depois da morte».
BENEDICTO HAEFTEN abade de Afflighen (1587-1648) compôs um livro intitulado: «Escola do coração» impresso em Anvers em 1629, no qual propõe o Sagrado Coração de Jesus para o modelai e o espelho do nosso coração.
«Na profundidade do Coração de meu Jesus, encontro um espelho para o meu coração. Neste Coração Divino acho os pensamentos e os sentimentos que se devem imprimir no meu; porque, ó Senhor, o vosso Coração é a regra e a medida de todos os corações. Volvei sobre mim o vosso olhar, tende de mim piedade, e deste espelho de fogo, do vosso Coração, partam raios de fogo que inflamem o meu, e o façam semelhante ao vosso Coração dulcíssimo».
A Madre JOANNA DE S. MATHEUS DELELOE – (1604-1660) continua a serie das almas privilegiadas das mais íntimas comunicações com Jesus Cristo. Aos treze anos de idade estando diante do SS. Sacramento, sentiu um ardente desejo de amar a Deus, e para pôr melhor em execução, prometeu de escolher Jesus Cristo como único objeto do seu amor. Entrou com dezesseis anos na Comunidade das religiosas beneditinas de Farignembergues, diocese de Arras, seu país nativo e deu-se a uma vida de íntima união com Jesus Cristo.
Logo depois da sua profissão, podia dizer: «Deus me dá tanta certeza da sua amorosa presença, que minh’alma sente a necessidade de entregar-se inteiramente ao seu amor». Sua vida foi uma sucessão de doçuras e provações, de doenças e tentações, viveu unida sempre a Deus e pôs n’Ele toda sua confiança.
Em 1643 ela foi favorecida com uma primeira revelação, na qual Nosso Senhor Jesus Cristo se lhe manifestou em toda sua beleza e majestade. Como para predispô-la a receber seus grandes favores, quis a troca do seu coração. «O Divino Salvador, nos diz ela, expedia do seu Sagrado Coração, raios de luz, que vinham iluminar o meu, e feria o meu coração com dardos amorosos que saíam do seu dulcíssimo Coração. Os nossos corações pareciam unidos em uma fornalha de caridade».
Outras vezes ela via Nosso Senhor tomar-lhe amorosamente o coração, como a esposa, e dar-lhe o seu em troca como sinal de amor, e, «nossos corações, nos diz ela, ficaram unidos para sempre». E todas as graças lhe foram comunicadas por meio do amável Coração de Jesus, com tanto amor e familiaridade de modo a tornar-se coração e vida da sua alma. «Agora, escrevia ela, ei de chamá-lo sempre meu Coração e quando O contemplar e amar e quando lhe pedir alguma graça, dir-lhe-ei: meu Amado lembrai-vos do vosso Coração, que o meu não me pertence mais».
No Tabernáculo achava especialmente o Coração do seu Senhor. Passava longas horas na Capela meditando os abismos de amor do Coração de Jesus. Um dia sentiu um vivo desejo de amar a Deus como O amam os habitantes da celeste Jerusalém: «Jesus (disse-lhe então) dei-te meu coração, para que unido com Ele, me ames». Depois de ouvir estas palavras, diz a Madre, experimentei uma união tão íntima e amorosa dos nossos corações, que parecia-me que o meu se liquefazia como a cera, e, transformado todo no Coração de Jesus, formava uma só coisa».
Uma outra vez, depois da comunhão, Nosso Senhor descobriu-lhe seu Coração, saindo d’Ele uma glória e um tão grande resplendor, que o brilho do sol era nada comparado com ele: resplendor que envolvia sua alma e acompanhado destas palavras: «Eis o amável objeto do teu amor e repouso dos teus desejos». E Nosso Senhor mostrando-lhe o seu Coração cheio de delícias e de riquezas dizia-lhe mais: «Aproveitai, ó minha amada, estas riquezas infinitas; saciai-vos delas».
Uma vez, perturbada por distrações e temendo ter manchado sua alma por algum pecado, pediu a Deus que purificasse e limpasse seu Coração de toda mancha, fazendo-o bem alvo. Viu então Nosso Senhor aproximar-se dela, unir o coração da sua serva ao seu Divino Coração, e como diz ela «conheci com certeza ter sido purificada pela pureza e santidade infinita do adorável Coração do meu Deus, verdadeira fonte de todos os bens. Fiquei ainda conhecendo que todos os Santos e Beatos foram purificados e santificados pelo amor e pureza que emanam desta fonte; que todas as graças que receberam na terra, nós também recebemos e que a glória que gozam no Céu saem deste princípio de amor, do Coração de Jesus, como os raios do sol saem do seu luminoso disco».
«Se me fosse possível (exclama esta alma privilegiada) eu gritaria em voz alta a todas as criaturas racionais: chegai-vos a este abismo de bondade e de amor: ele deseja infinitamente, sem excetuar ninguém, derramar as águas doces e graciosas das suas divinas misericórdias sobre todas as almas».
(Fonte: livro, em formato PDF, EU REINAREI A Devoção ao Sagrado Coração de Jesus no seu desenvolvimento histórico, Pe. Fernando Piazza dos Menores dos Enfermos, tradução do Dr. Alberto Saladino Figueira de Aguiar, Escolas Profissionais do Lyceu Sagrado Coração de Jesus, São Paulo/1932, Cap. VI – Tradição Continuada, pp. 89-92, obtido do blog Alexandria Católica – Texto revisto e atualizado e alguns destaques acrescidos)