Semana Santa

QUARTA-FEIRA SANTA

A Via Sacra.

QUARTA-FEIRA SANTA – A VIA SACRA

PREPARAÇÃO. “Jesus com a cruz às costas, diz São João, caminhou para o Calvário” (19, 17). Meditaremos: as vantagens da devoção da Via Sacra; 2º como ela nos representa o caminho da vida. Tiraremos a conclusão de que temos de suportar as penas quotidianas sem murmuração e queixa, se quisermos ser verdadeiros discípulos de Jesus, que carregou a cruz. Et bajulans sibi crucem, exivit in eum, qui dicitur Calvariae, locum.

Vantagens da devoção da Via Sacra

Além das ricas e numerosas indulgências anexas ao exercício da Via Sacra, encontramos nela grandes vantagens. Cada uma das suas estações é como uma escola de virtudes. Os livros de piedade relatam-nos as cenas da paixão; o caminho da cruz vai mais longe, faz-nos assisti-la. Estamos como que presentes à condenação do Salvador ao considerarmos Pilatos assentado em seu tribunal e o Filho Unigênito de Deus em pé diante dele a ouvir a sentença de morte que o fulmina injustamente.

E que espetáculo, grande Deus, ver a inocência infinita carregada da cruz dos criminosos! Contemplar o todo-poderoso que se curva sob o peso dos nossos pecados! Et bajulans sibi crucem.

Sendo o exemplo mais eficaz do que a palavra, a fidelidade em seguir a Jesus no caminho das dores é um dos meios mais próprios de santificação, um meio ao alcance de todos, o qual, sem cansar o espírito, reconforta poderosamente o coração. Cada estação nos dá um ensinamento fácil e prático, isto é, os exemplos de um Deus, que por si mesmos são luz e força, pois que Jesus jamais deixa de auxiliar as almas que o querem seguir. Quantas instruções não encontramos para aprender a humilhar-nos, a obedecer, a suportar as contradições e as oposições sem azedume e impaciência!

Será isso que vós procurais? Há bastante tempo que exerceis essa devoção: estais por isso mais prontos à renúncia própria, à mortificação das vossas inclinações e defeitos? Vendo a Jesus e Maria unidos no caminho do Calvário para juntos operarem a salvação de todos os homens, senti-vos mais inclinados a devotar-vos à felicidade dos vossos semelhantes? – Considerando o Cireneu que ajuda Jesus a levar a cruz, sois mais prontos a prestar serviço ao Salvador na pessoa dos vossos irmãos?

Meu Deus, o favor concedido a Verónica deveria estimular-me a gravar no meu espírito e coração os traços ensanguentados do meu Salvador, coroado de espinhos e desfigurado para a minha salvação. Todas as estações deveriam ensinar-me a revigoração constante nas penas desta vida, a qual é o segredo da paz interior, a prova da virtude sólida e a fonte do verdadeiro mérito.

Jesus e Maria, fazei que eu tire sempre da devoção da Via Sacra todos os frutos preciosos que nela se encerram.

2º O caminho da cruz, imagem do caminho da vida

A vida presente é, como a Via Sacra, uma longa caminhada de dores, entre um Pretório e um Calvário. O Pretório é o quarto em que nascemos; o Calvário, aquele em que morreremos. No primeiro condenaram-nos à morte, renovando contra nós a sentença pronunciada no paraíso terrestre. No segundo, é ela executada quando expiamos em nosso leito de dores como Jesus no patíbulo do Gólgota.

As estações intermediárias representam-nos as épocas ou os dias de sofrimentos, de que Deus semeou a nossa vida; recordam-nos ao mesmo tempo que a nossa vida é uma viagem mais ou menos longa, mais ou menos amargurada, para um Calvário ou leito de morte, e de lá para um sepulcro. Ensinam-nos a viver santamente e a morrer como eleitos.

Temos de tomar a cruz como Jesus ao entrarmos na vida; carregá-la generosamente à medida que os anos passam e erguer-nos corajosamente quando as dores nos abatem e nos fazem tombar debaixo do peso. Mas para lá chegarmos temos quem nos acuda: a divina Mãe que vem ao encontro de Jesus e dos que sofrem; os nossos irmãos, representados pelo Cireneu, que nos consolam, sustentam e animam com suas palavras caridosas; enfim, um Deus coroado de espinhos, lembrado pelo sudário da Verônica, em que vemos a imagem de Jesus, convidando-nos a unir as nossas dores às do nosso Rei saturado de opróbrios.

Quanto mais nos aproximamos do nosso leito de morte, como Jesus do Calvário, tanto mais temos de humilhar-nos, arrepender-nos, desapegar-nos. É isso que nos ensina o Salvador ao cair por terra; exorta-nos a chorar mais sobre nós do que sobre ele; e deixa-se despojar completamente como o mais pobre dos mortais.

Mas eis a morte que se apresenta a todos nós! A enfermidade prende-nos a um leito de dor. Oxalá tivéssemos as disposições de Jesus, pregado na cruz. Desse leito de dores ele suplica, perdoa, suspira pelo céu em seu e nosso favor; em seguida abandona-se inteiramente à vontade do Pai celeste e assim expira. É dessa forma que devemos desejar morrer um dia. – Após o nosso derradeiro suspiro, tirar-nos-ão do nosso leito fúnebre como desceram a Jesus da cruz; entregar-nos-ão à Igreja, como entregaram a Maria o corpo do seu Filho; depois nos colocarão, como ao Homem-Deus, em um túmulo, para lá esperarmos a ressurreição.

Jesus e Maria, tomo a resolução de percorrer, ao menos cada semana, as estações da via dolorosa. Dai-me a graça de tirar desses exercício a coragem de carregar generosamente a cruz de cada dia, de erguer-me das minhas quedas e de perseverar até à morte na fidelidade a todos os meus deveres.

(Fonte: in Meditações Para Todos os Dias do Ano, R. P. Bronchain, C.SS.R, traduzidas da 13ª edição francesa pelo R. P. Oscar Chagas, C. SS.R., Tomo Primeiro, Editora Vozes, 1940, pp. 262-264, obra em formato PDF obtida do blog Alexandria Católica. Texto revisto, atualizado e com destaques acrescidos)

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