SÃO BENTO E SUA RELAÇÃO COM SEUS AMIGOS CONTEMPORÂNEOS

SÃO BENTO E SUA RELAÇÃO COM SEUS AMIGOS CONTEMPORÂNEOS

O monge Valentiniano… tinha um irmão, homem leigo mas piedoso, o qual, para receber a bênção do homem de Deus e visitar o irmão, costumava anualmente ir, em jejum, da sua casa ao mosteiro. Certa vez, quando estava em viagem para ali, associou-se-lhe outro viajante, que levava alimentos para a jornada. Quando a hora ia adiantada, este disse-lhe: “Vamos, irmão, comer alguma coisa para não nos cansarmos no caminho”. Aquele, porém, respondeu-lhe: “Longe de mim, irmão; não farei isto, pois sempre tive o costume de comparecer em jejum ante o venerável Pai Bento”. Ouvindo esta resposta, o companheiro calou-se por algum tempo. Depois, porém, de terem caminhado mais um pouco, insistiu novamente em que comessem. Aquele que decidira chegar em jejum, recusou. O que convidara, então, tornou a calar-se, e consentiu em prosseguir um pouco mais com ele, sem comer.

Quando caminhavam mais adiante e a hora tardia chegou a fatigá-los de tanto andar, deram com um prado e uma fonte, e tudo mais que podia parecer agradável para restaurar o corpo. Disse, então, o companheiro de viagem: “Aqui temos água, temos relva e temos um lugar ameno, onde podemos recobrar forças e descansar um pouco, a fim de terminar em boas condições a nossa marcha”. Com os ouvidos afagados por essas palavras e os olhos seduzidos pelo lugar, o irmão de Valentiniano deixou-se persuadir pelo terceiro convite; consentiu finalmente e comeu.

À tardinha chegou ao mosteiro. Levado à presença do venerável Pai Bento, pediu-lhe que o abençoasse. Mas no mesmo instante o santo homem exprobrou-lhe o que fizera em viagem, dizendo: “Como é, irmão, que o maligno inimigo, que te falou pela boca do companheiro, não conseguiu induzir-te nem da primeira vez, nem da segunda, mas da terceira convenceu-te e alcançou sobre ti a vitória que planejava?” Reconhecendo então, a culpa do seu fraco espírito, o visitante prosternou-se aos pés do santo, e tanto mais chorava e se envergonhava, quanto via que, apesar da distância, a sua falta fora cometida ante os olhos do Pai Bento❞. (in S. Gregório Magno, Segundo Livro dos Diálogos: Vida de São Bento, Cap. XIII, O Irmão do Monge Valentiniano que comera em Viagem)

São Gregório Magno nos conta na Vida do bem-aventurado Pai São Bento, como o irmão de um monge costumava todos os anos fazer em jejum uma peregrinação de sua distante morada ao mosteiro do Servo de Deus, Bento. Nessa singela narração vemos um piedoso leigo que, desejoso de sua salvação, procura o monge em seu mosteiro, a fim de ali rezar em união com ele e encontrar alimento espiritual para sua alma. É de se supor que este leigo tenha sido um cristão zeloso, o que bem mostra o seu escrúpulo em jejuar durante essa peregrinação e a grande falta que se imputou por ter, sem razão, quebrado esse jejum, tomando algum alimento. Sem dúvida foi ele um daqueles muitos que, de um modo semelhante, se uniram ao grande Patriarca São Bento. Era um dos que viviam ao redor daquele homem de Deus e do seu mosteiro, como costumavam fazer em todos os tempos almas desejosas da perfeição, amigos dedicados dos monges ou seus protegidos, protetores ou benfeitores. Por isso mesmo o Papa São Gregório fala do bom hábito daquele piedoso homem sem se admirar.

Logo depois que o jovem Bento deixou a gruta de Subiaco, o brilho de suas virtudes começou a atrair a atenção de cristãos, e não somente daqueles que moravam nas proximidades, mas ainda daqueles que residiam muito distante dali.

Primeiramente se chegam a ele rudes pastores, que, conhecendo a sua santidade, vinham trazer-lhe o alimento corporal, e em troca recebiam do Santo o alimento espiritual da doutrina celeste. No fim de pouco tempo confluíram muitos outros homens piedosos, que se colocavam sob o seu estandarte. Os mosteiros que o homem de Deus tinha construí em Subiaco, tornaram-se o centro onde os povos cristãos procuravam luz, força e consolação.

Notavam-se entre eles nobres cavalheiros da capital do Império Romano, que lhe confiavam a educação de seus filhos.

São Bento já contava perto de cinquenta anos de idade quando foi inspirado por Deus Senhor nosso de mudar-se para o Monte Cassino, a fim de fundar ali uma escola do serviço de Deus e estabelecer ao mesmo tempo um lar de Amor divino. Também este Monte se tornou, como sabemos, um farol do cristianismo, ainda mais luminoso para todo país do que Subiaco.

Quantas almas o homem de Deus n]ão terá reunido ao seu redor naquele santo castelo! Quantas não terá ele animado com a sua amizade, quantas instruído com as suas conversações, quantas confortado com sua oração e a de seus irmãos, quantas, enfim, edificado com seus exemplos, levantado com a sua caridade e fortalecido com seus milagres. Assim, ainda os que viviam no mundo foram por ele educados e conduzidos a Deus como outros filhos espirituais, e deste modo a sua paternidade estendia-se muito além dos muros do mosteiro.

Na sucinta narração da vida de São Bento, que nos deixou São Gregório, percebemos fiéis de todas as classes procurar o homem de Deus no alto do Monte Cassino. Gente dos arredores e peregrinos abastados e necessitados, todos solicitavam conselhos e ajuda em seus misteres, tanto espirituais como temporais. Romanos e bárbaros, príncipes e reis, sacerdotes e prelados, todos se aproximavam do Servo de Deus Bento.

Basta recordar ao pio leitor os nobres e generosos pais de Santo Amaro e de São Plácido; a visita do rei Totila ao Santo Monte, como também o vínculo de uma amizade íntima que unia o santo bispo Germano da Cápua e São Bento.

A santa Regra contém prescrições minuciosas, inspiradas de caridade e viva fé, com o fim de assegurar aos de fora uma boa acolhida na casa de Deus, e aos monges a paz dos filhos da luz contra o mundo que têm fugido. Tais são os capítulos: Como se hão de receber hóspedes; – Dos sacerdotes que querem viver no mosteiro; – Dos meninos que nele se educam, etc. Indica as mais ternas considerações para com os doadores e benfeitores, para com os amigos do mosteiro, para com os cristãos vizinhos e para com os pobres. Esta mesma santa Regra nos mostra, pois, que o santo autor não reprova de modo algum que os cristãos que vivem no mundo se aproximem dos mosteiros; pelo contrário, é isto mesmo que São Bento tem em vista, que ele prevê, deseja e favorece; em seu grande coração de pai, dilatada por um imenso amor de Deus, há lugar para todos. Todos os negócios e necessidades da santa Igreja encontram nele um apoio e um auxílio, estando sempre pronto para secundar os desígnios de Deus, acolhendo a todos com coração paternal e uma vista iluminada pela divina luz.

(Fonte: opúsculo Manual do Devoto de São Bento, Compilado de diversas obras por um beneditino da Congregação Brasileira, Editoras Triregnum e Editora do Mosteiro da Santa Cruz, 2017, Segunda Parte, Relação dos Fiéis com a Ordem Monástica, Cap. I, pp. 64-67 – Texto atualizado e acrescentado o capítulo da Vida de S. Bento)

Sou Todo Teu Maria: “Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo.” (São Luis Maria de Montfort)