SÃO LUÍS (GONZAGA) E O SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Em abril de 1600, no convento de Santa Maria dos Anjos, em Florença, estava a extática (Santa) Magdalena de Pazzi a considerar, com dez de suas Irmãs, uma preciosa relíquia – um osso de um dedo de S. Luís. Enquanto consigo revolvia de que bela alma fora instrumento aquele osso que tinha na mão, arrebatada de improviso a contemplar à glória de São Luís, em alta voz, como por vezes costumava, de modo que as outras Irmãs puderam escrever suas palavras, exclamou: “Oh! quanta é a gloria de Luís, filho de Inácio! … Quando era mortal dispensava setas ao Coração do Verbo; e agora, no céu, essas setas repousam em seu coração; porque aquelas comunicações que ele merecia com os atos de amor e união que fazia, agora as entende e goza …”.
Serafim em carne humana, abrasado no divino amor, Luís ateou sempre na contemplação da cruz e da Humanidade sacratíssima de Cristo as chamas que nesta terra o consumiam e ao presente o beatificam no céu.
O incêndio de pura caridade para com seu estremecido Jesus, que lavrava nesse coração ilibado, com muita razão lhe mereceu que espontaneamente os fieis considerem a essa virtude como característica própria de S. Luís e nele vejam um dos mais notáveis precursores da virgem de Paray no culto do Coração dulcíssimo de nosso Redentor.
Poucos dias depois das revelações de Paray, o Pe. Croiset, em seu famoso livro sobre a devoção ao Coração de Jesus, entre outros meios para alcançar um terno amor ao Coração divino apontava o recurso especial ao “Beato Luís Gonzaga”.
Por isso escrevia-lhe Santa Margarida Maria, a 10 de agosto de 1689: “Visto como V. R. indica a devoção ao Beato Luís Gonzaga como meio eficaz para alcançar um grande amor ao Coração Santíssimo de Jesus, ser-lhe-íamos muito agradecidas, se nos quisesse mandar uma imagem dele, do mesmo tamanho que a do Pe. De la Colombière, para colocá-la em nossa capela do Sagrado Coração…
Esse mesmo livro traz uma gravura, em que vem representada a Virgem SS. em ato de apontar o Coração de Jesus a São Francisco de Sales e a S. Luís Gonzaga, como para indicar, na pessoa do primeiro a ordem da Visitação, a qual pertencia Santa Margarida Maria, e no segundo a Companhia de Jesus, que deu à Santa, como diretor, o Ven. Pe. De la Colombière.
Outro apostolo igualmente incansável do Coração divino, o Pe. de Gallifet, em seu livro não menos celebre, sobre as excelências do culto do Sagrado Coração, também concede a São Luís lugar de destaque entre as almas de modo especial consagradas a esse culto suavíssimo.
Se durante a vida foi S. Luiz um Serafim abrasado no amor do Coração de Jesus, mostrou-se, depois da sua morte, apóstolo de nossa devoção querida. Para comprová-lo, quero, aqui, em poucas linhas, referir um fato que teve grande fama. Deu-se o acontecimento três dias após o breve apostólico de Clemente XIII que, para toda a Igreja, instituía a festa do Sagrado Coração, designando para a mesma a primeira sexta-feira depois da oitava do Corpo de Deus.
Em 1675, jazia gravemente enfermo, no noviciado romano da Companhia de Jesus, o jovem Nicolau Celestini. Tudo sofria com admirável paciência o exemplar noviço, e com inteiríssima resignação à vontade de Deus. Tinha, porém, um ardente desejo de não passar desta vida sem confortar-se com o Viatico do Senhor. Mais se inflamou neste desejo santo, ao ouvir os discursos que faziam os circunstantes sobre o Sacratíssimo Coração de Jesus, de que fora devotíssimo, e cuja festa havia sido, poucos dias antes, a 7 de fevereiro, aprovada pela Santa Sé.
Acrescia a isto que, não podendo ele ver absolutamente nada, contudo, quando se lhe punha diante dos olhos uma devota imagem do Sagrado Coração, contemplava-a com atenção e claramente a distinguia, o que aumentou nele a confiança de que seus anseios seriam satisfeitos. Rogou, pois, que lhe dessem de beber água misturada com um pouco da farinha milagrosamente multiplicada por São Luís. Assim se fez, e a segunda vez a prova deu feliz resultado, por onde pôde receber o sagrado Viático, e ainda uma vez apertar ao peito o Coração do amoroso Jesus, antes de o ver, já sem véu, como esperava, no paraíso.
Desenganado do médico, aguardava sereno o fatal desenlace, quando, de um modo portentoso, interveio a prolongar-lhe a vida o nosso São Luís. O que se deu, narrou-o o próprio Celestini, e disse como naquela manhã, estando a ponto de ser novamente assaltado de convulsões, começara a ver a imagem de São Luís, que não pudera ainda ver em todo o tempo da doença, e que assim continuara a vê-la por toda a manhã. Ultimamente, tinha-o visto como inflamar-se de improviso, e resplandecer com luz brilhantíssima, do meio da qual, em certo modo, saíra, adiantando-se para ele, o amabilíssimo São Luís, não de perfil e só em busto, como no quadro, mas inteiro e com o rosto voltado para o enfermo. Estava vestido como o representa o relevo no altar do Colégio Romano; na mão esquerda trazia um crucifixo, ficando livre a direita. Com esta tinha-lhe o Santo feito sinal de se aproximar, e Nicolau se esforçara por achegar-se a ouvir o que queria seu celeste amigo; mas, recaindo logo de costas e tornando-se a deitar, continuara sempre a vê-lo, sem poder-se ter que não exclamasse: “Quanto sois belo, meu S. Luís!” A um novo aceno do Santo, levantara-se outra vez, e ouvira dele estas palavras: “Que queres, a saúde ou a morte?” Ao que respondendo Nicolau: “Seja feita a vontade de Deus”, prosseguiu o benigníssimo Santo: “Pois que na tua doença nada mais desejaste que o Sagrado Viático, e em tudo o mais te conformaste com a vontade de Deus, o Senhor, por minha intercessão, te conserva a vida, contanto que cuides em te aperfeiçoar, e procures em todo o tempo dela propagar o culto do Sagrado Coração de Jesus, que é sumamente agradável ao céu.”
Dito isto, lançou-lhe a bênção, e deixando-o completamente são, desapareceu.
ORAÇÃO A SÃO LUÍS GONZAGA
Ó Luís Santo, adornado de angélicos costumes, eu, indigníssimo devoto vosso, recomendo-vos singularmente a castidade da minha alma e do meu corpo. Rogo-vos, por vossa angélica pureza, que intercedais por mim ante o Cordeiro lmaculado, Cristo Jesus, e sua Mãe Santíssima, a Virgem das Virgens, e me preserveis de todo o pecado grave. Não permitais que eu seja manchado com nódoa alguma de impureza; mas, quando me virdes em tentação ou perigo de pecar, afastai de meu coração todos os pensamentos e afetos impuros, e, despertando em mim a lembrança da eternidade, e de Jesus crucificado, imprimi profundamente no meu coração o sentimento do santo temor de Deus; e inflamai-me no amor divino, para que, imitando-vos na terra, mereça gozar de Deus convosco no Céu. Amém.
Pai Nosso, Ave Maria. (100 dias de indulgencia, uma vez ao dia. Pio VII, 6 de março de 1806. Vid. Beringer-Steinen, t. I, 192 1, n . 512, p. 245-246).
☛ NOTA: São Luís Gonzaga foi festejado no último domingo, dia 21 de Junho.
(Fonte: in São Luiz Gonzaga Padroeiro da Juventude Catholica, Esboço Biographico e Devocionario, Casa Mayença, São Paulo/1926, Cap. XVII e Devocionário, pp. 64-69 e 79-80. Texto revisto e atualizado)