Artigos, Meditações, Textos Selecionados ...
SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR
SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR
ASCENSÃO – MISTÉRIO DO DIA
PREPARAÇÃO. Ele subiu, diz o apóstolo, ao alto dos céus, para presidir a todas as coisas (Ef 4, 10) Meditaremos: 1º quão glorioso é o mistério da ascensão para Jesus e para nós; 2º quais as preciosas lições que nos dá. Tomaremos depois a resolução de desapegar-nos da terra, olhando frequentemente para o céu, como os apóstolos, e recordando-nos das ricas recompensas que Jesus lá nos prepara segundo a sua promessa. Vado parare vobis locum (Jo 14, 2).
1º A ascensão, mistério glorioso para Jesus e para nós
Coisa alguma pode dar-nos de Jesus tão alta ideia, como o mistério da sua ascensão ao céu. Sobe por próprio poder e em virtude de seus próprios méritos infinitos, enquanto que os maiores santos, sem excetuar a divina Mãe, foram por ele elevados aos seus altos tronos.
Mas qual não foi o seu triunfo ao entrar na Jerusalém celeste! “Príncipes do céu, exclama o profeta-rei, levantai as vossas portas; portas eternas, abri-vos: Eis o Rei da glória!” – Quem nos dirá dos transportes, dos cânticos de alegria, e dos louvores, que acolheram então Jesus? Era a recompensa dos opróbrios sofridos no mundo.
“Sentai-vos à minha destra, diz-lhe o Pai celeste; farei de todos os vossos inimigos escabelo dos vossos pés” (Sl 23, 67-69). Sentar-se à destra de Jeová é ser o primeiro perto dele; que honra! Ver todos os seus adversários sob os seus pés é possuir o império do universo e reger o mundo inteiro; que inefável poder!
Mas, ao mesmo tempo, que glória para nós! Aviltados pelo pecado, jamais teríamos ousado, Senhor, que nossa fraca e vil natureza pudesse um dia, na vossa pessoa sagrada, ser elevada acima dos mais altos serafins e assentar-se no primeiro trono depois do de Deus! Ora, como membro do vosso corpo místico que é a Igreja, que parte não terei eu em vossa glória se me humilhar em união convosco! Da montanha onde, quarenta e três dias antes, havíeis sofrido vossa agonia cruel, subistes ao céu; aí nos mostrais o laço estreito que une o sofrimento à bem-aventurança e a humilhação à glória dos eleitos! Fazei que eu aproveite esse ensinamento precioso, que bem confirma vossa divina palavra: “Quem se humilhar será exaltado” (Lc 18, 14). Quem jamais se humilhou como vós? Por isso a vossa elevação no céu é acima de todo o louvor.
Após a ascensão do Salvador, dois anjos anunciaram aos apóstolos a sua segunda vinda como juiz dos vivos e dos mortos. Isso era: 1º uma nova prova da glória daquele que Pilatos ousou julgar e condenar injustamente; 2º uma advertência para velarmos sobre a nossa conduta, da qual devemos dar contas ao Senhor antes de participarmos do seu triunfo e beatitude. Jesus, fazei que eu ande sempre em vossa presença com o temor filial que abafa a presunção – aprimora a confiança – e fortalece o amor divino.
2º Lições que nos dá o mistério da ascensão
Desapego completo deveria produzir em nós o pensamento de Jesus, que deixou a terra para subir ao céu. Nosso amável Redentor, que deve ser sempre o objeto dos nossos pensamentos e aspirações, tomou o voo para a nossa pátria futura, e nós ainda ligaríamos os nossos afetos a este triste exílio, onde se encontram tantos perigos? – Senhor Jesus, não quero prender-me a coisa alguma neste mundo. Desejo aqui viver como um viajante, um estranho que anela unir-se aos seus. A exemplo do apóstolo, desde já considero como lama tudo o que é terreno, a fim de vos possuir para sempre. Mas não basta apenas possuir esses sentimentos; é necessário reduzi-los à prática e adquirir virtude sólida. Longe de nós, pois, a presunção de nos crermos fora de perigo pelo motivo de recitarmos cada dia algumas orações vocais, e levarmos vida edificante, meditando, comungando muitas vezes e frequentando as igrejas. Essas manifestações de piedade não devem dar-nos segurança completa. “Pelos frutos conhece-se a árvore”, diz o Salvador. Ex fructibus eorum cognoscetis eos (Mt 7, 20). Vede, pois, que frutos de abnegação, castidade, paciência, caridade produzem em nós as leituras, as meditações que fazeis diariamente. Por esse sinal podeis verificar se avançais de fato no caminho que conduz ao céu. Jesus lá subiu depois de nos haver dado o exemplo de todas as virtudes.
Ele garantiu que nos iria preparar um lugar; não o conseguireis se não o preparardes constantemente com ele. Seria porventura demasiado trabalhar sem descanso, durante esta vida tão breve, para merecer uma beatitude sem fim? Por que então perdeis em pensamentos, palavras e ocupações inúteis um tempo tão precioso do qual cada momento vale uma eternidade? De que vos servem esses hábitos de dissipação, essa vida toda natural e toda humana, que vos afasta de Deus em vez de a ele vos unir?
Jesus, desprendei-me da terra, lembrando-me sem cessar o céu para o qual fui criado. Estou resolvido: 1º a viver no mundo como num exílio, onde o meu corpo é a prisão da alma; 2º a fazer da minha santificação o objeto principal da minha solicitude e das minhas aspirações sob a proteção de vossa divina Mãe, que é também a minha.
(Fonte: in Meditações Para Todos os Dias do Ano, R. P. Bronchain, C.SS.R, traduzidas da 13ª edição francesa pelo R. P. Oscar Chagas, C. SS.R., Tomo Segundo, Editora Vozes, 1940, pp. 70-72, obra em formato PDF obtida do blog Alexandria Católica. Texto revisto, atualizado e com destaques acrescidos)