TERÇA-FEIRA SANTA

A Cruz de Jesus e a nossa cruz.

TERÇA-FEIRA SANTA – A CRUZ DE JESUS E A NOSSA CRUZ

PREPARAÇÃO. Como Jesus levou sua cruz no caminho do Calvário, nós também levamos a nossa no caminho da vida. – Consideremos: 1° os efeitos preciosos dessas cruzes; os motivos que temos de amá-las. – Tomaremos depois a resolução de unir cada uma das nossas penas às de Jesus e de lhe pedir a paciência no momento da dor. Ad Dominum, cum tribularer, clamavi et exaudivit me (SI 119, 1).

1º Preciosos efeitos da cruz de Jesus e da nossa

O gênero humano, ao ver o unigênito de Deus, oprimido sob a pesada cruz, palmilhar penosamente o caminho do Calvário, teria podido pressentir a hora da sua libertação: a iniquidade da terra ia ser apagada, a justiça divina, aplacada, o inferno, fechado, e a esperança da salvação, aberta às almas de boa vontade. – Da mesma forma, se o Senhor nos aflige é porque quer perdoar-nos, preservar-nos da condenação, restituir-nos ou aumentar-nos a graça com os dons e as virtudes que a acompanham.

Não é tudo isso de molde a inspirar-nos a estima ao sofrimento? Por que, pois, queixar-nos e murmurar das provações da vida?… Jesus, ao carregar a cruz, para nela ser pregado, dá-nos a prova mais evidente dum verdadeiro amor. – Não é ternura de sua parte, quando nos escolhe para partilharmos as suas penas e ignomínias? Quando sofremos conformados com o seu beneplácito, apresentamos, de certo modo, a nossa cabeça aos espinhos, o nosso corpo aos golpes e os nossos ombros à cruz; permanecemos com ele sob os mesmos golpes dos azorragues, sob os mesmos espinhos e sob a mesma cruz. Ó precioso peso da cruz! Tu nos unes ao nosso Deus salvador!… “Amo e castigo os que amo”, diz ele (Ap 3, 19), para associá-los aos meus opróbrios e dores. Feliz do discípulo fiel, que, como o Cireneu, carrega a cruz junto com Jesus, sem nunca desanimar!

O madeiro da cruz, que o Redentor carregou, para sobre ele expirar, é considerado por São João Crisóstomo como a chave da Jerusalém celestial. O mesmo se diga dos sofrimentos que Deus nos envia: merecem-nos a glória e a felicidade eterna. “Bem-aventurado o homem que sofre com paciência, diz o Espírito Santo, porque receberá a coroa da vida” (Tg 1, 2).

Para vos tornardes dignos dessa brilhante coroa, examinai qual é a vossa cruz mais habitual, e com que disposições a carregais. Fazeis isso de má vontade, mal humorado e com impaciência? Não é isso para vós uma fonte de pecados, uma ocasião de ruína, em vez de ser um meio de virtudes e méritos? Que dor sentireis na hora da morte, se não tiverdes sabido sofrer bem as contrariedades desta miserável vida! Jesus, carregastes já de antemão todas as minhas cruzes na vossa, aliviando-me o peso delas. Transformastes muitas vezes as minhas agruras em doçuras pela unção da vossa graça. Fazei que doravante ame os sofrimentos e os considere como um sinal do perdão, um penhor da vossa ternura e um meio poderoso de obter a eterna bem-aventurança.

2º Motivos de sofrer com amor

Jesus amou a cruz; desde a sua encarnação teve-a diante dos olhos. Amou as privações, os tormentos, os opróbrios que lhe estavam destinados. – A seu exemplo, contemplemos frequentemente a cruz pela qual fomos remidos: nela acharemos os motivos de amar as aflições, a pobreza, a abjeção. “Jesus sofreu em sua carne, diz o príncipe dos apóstolos; armai-vos desse pensamento (1Pd 4, 1); que manterá a vossa coragem nas provações da vida. Depois que a sabedoria incarnada tragou por vós o cálice da amargura, ousaríeis beber ainda da taça dos prazeres?

Imitadores fiéis de Jesus crucificado, os santos tudo fizeram para seguir as suas pegadas. Com que amor abraçaram a penitência, suportaram as afrontas e as dores! “Nada me compraz neste mundo, dizia Santa Margarida Maria, senão a cruz do meu divino Mestre, porém uma cruz toda semelhante à sua, pesada, ignominiosa, sem doçura, sem consolação, sem alívio. Todas as outras graças não se comparam com a de alguém carregar a cruz com Jesus”. – Assim fala essa amante do Sagrado Coração e do sofrimento. Animados dos mesmos sentimentos, todos os santos tomaram por norma da sua vida renunciar por amor de Deus às satisfações dos sentidos, aos desejos do amor próprio e suportar generosamente todas as tribulações deste mundo.

Quando nos sobrevêm provações, entramos, por assim dizer, em sua família, tendo a Jesus e Maria em nossa frente para nos encorajar com o seu exemplo. – Em vossas aflições representai-vos o Homem-Deus com a cruz às costas a caminhar diante de vós, como o fez a São Pedro, exortando-vos à resignação, ou mostrando-vos as suas chagas como a Santa Teresa e dizendo-vos como a ela: “As tuas dores nunca chegarão a ser como as minhas”.

Criatura culpada, jamais terás de suportar sobre a terra o que sofreu o teu Criador inocente. Compreende, pois, a injustiça das tuas queixas e descontentamentos em presença da cruz. Sejam quais forem as tuas repugnâncias, terás de sofrer ou nesta vida ou na outra; por que não fazes então da necessidade virtude? Por que não abraças com gosto o que te deve preservar dos males futuros e conduzir-te à bem- aventurança eterna?

Jesus e Maria, inspirai-me a resolução sincera: 1° de pensar muitas vezes em vossas dores; 2º de implorar o vosso socorro em todas as ocasiões que se me apresentarem de exercer a paciência e a resignação.

(Fonte: in Meditações Para Todos os Dias do Ano, R. P. Bronchain, C.SS.R, traduzidas da 13ª edição francesa pelo R. P. Oscar Chagas, C. SS.R., Tomo Primeiro, Editora Vozes, 1940, pp. 257-261, obra em formato PDF obtida do blog Alexandria Católica. Texto revisto, atualizado e com destaques acrescidos)

Sou Todo Teu Maria: “Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo.” (São Luis Maria de Montfort)