TRADIÇÃO DIVINA E ESCRITURA SAGRADA

Instruções de Frei Leonard Goffiné.

INSTRUÇÕES DE FREI LEONARD GOFFINÉ

(image: Apologetica Catolica)

TRADIÇÃO DIVINA E ESCRITURA SAGRADA

Na TRADIÇÃO e na ESCRITURA se acha tudo que se dignou Deus Senhor Nosso comunicar e revelar aos homens.

A Escritura Sagrada é a Palavra de Deus escrita com sua inspiração, e é sagrada ou santa, porque é obra do próprio Deus, que a ditou.

Divide-se em duas coleções de livros: os do Antigo Testamento ou antiga aliança, escritos antes da vinda do Senhor Jesus, e são quarenta e cinco; e os escritos depois da Ascensão, em número de vinte e sete , que formam o Novo Testamento.

É este o catálogo ou canon dos livros sagrados decretado pelo Concílio Tridentino (Sess. 4, C. I):

I – 1º Gênesis, 2º Êxodo, 3º Levítico, 4º Números, 5º Deuteronômio, 6º Josué, 7º Juizes, 8º Rute, 9º, 10º, 11º, 12º, Dos Reis, 13º, 14º Dos Paralipomenos, 15º, 16º Esdras, 17º Tobias¹, 18º Judite², 19º Ester (Ester), 20º Job, 21º Salmos, 22º Provérbios, 23º Eclesiastes, 24º Cântico dos Cânticos, 25º A Sapiciência¹ (Sabedoria), 26º Eclesiástico¹, 27º Isaías, 28º Jeremias, 29º Baruc, 30º Ezequiel, 31º Daniel². – Os doze profetas menores: 32º Oseas, 33º Joel, 34º Amós, 35º Abdias, 36º Jonas, 37º Miquéias, 38º Naum, 39º Habacuc, 40º Sofonias, 41º Ageu, 42º Zacarias, 43º Malaquias, 44º Macabeus¹.

¹ Rejeitados pelos protestantes.

² Os protestantes rejeitam os capítulos XIII e XIV.

II – Os 4 Evangelhos de S. Mateus, de S. Lucas, de S. Marcos e de S. João, os Atos dos Apóstolos, as 14 epístolas³ de S. Paulo (I aos Romanos; II aos Romanos; aos Gálatas; aos Efésios; aos Filipenses; aos Colossenses; I e II aos Tessalonicenses; I e II a Timóteo; a Tito; a Filemon; aos Hebreus); 2 epístolas de S. Pedro, 3 de S. João, 1 de S. Tiago, 1 de S. Judas e o Apocalipse.

³ Também chamadas de “cartas”.

Bíblia Católica (imagem: Apologetica Catolica)

DA BÍBLIA EM LÍNGUA VULGAR

Grande escarcéu levantam a tal respeito contra a Igreja Católica os protestantes, e não poucos ainda entre os católicos, ignorantes ou duvidosos: Não se lê a Escritura em língua vulgar na Missa e na liturgia; É proibido ao povo a leitura da Bíblia.

A esses queixumes muito fácil é a resposta, demo-la em resume e poucas palavras:

Quem veda aos fiéis acompanharem a liturgia, a Missa e mais ofícios em seu Missal em língua vernácula?

Será de pouca vantagem a unidade da língua sagrada para a imensa variedade de povos católicos, de idiomas diversos, unidos pela mesma fé?

No tempo de Nosso Senhor Jesus Cristo, já não era o hebraico a língua do povo Judeu; consta em algum lugar que o Divino Mestre e os Apóstolos fizessem questão do uso daquela língua nas leituras da sinagoga e funções do culto?

Será indiferente à majestade do culto, o tal ou qual mistério de uma linguagem reservada, e como consagrada, bem como as vestes sacerdotais, às comunicações do povo cristãos com seu Deus e Senhor, por intermédio de seus ministros?

Onde se encontra tal proibição ao povo católico de ler a Bíblia? – Antes, pelo contrário, a Igreja tem muito empenho em que seja a Sagrada Escritura a lição frequente e meditada dos fiéis, que lhe facilita em tantos Eucológios, Devocionários, etc., onde vêm os Evangelhos, Epístolas, etc., de cada dia santo. O que neste ponto enganou a petulância de alguns, e serve de pretexto à má-fé dos sectários heréticos, é o seguinte: Proíbe a Igreja a edição e leitura dos santos Livros em língua vernácula, sem a aprovação dos Prelados. Nisto como sempre brilha o zelo e a prudência dessa boa Mãe, a bem dos seus filhos: são muitas as alterações que a inúmeras seitas revoltadas cometem contra os sagrados textos*.

* Atualmente, as Sagradas Escrituras, e a grande maioria dos livros litúrgicos, estão traduzidos para o vernáculo.

Ademais, quem tenha algum conhecimento das sagradas letras, reconhece logo a inconveniência de entregá-las, sem mais nem mais à leitura de toda categoria de cristãos, jovens de ambos is sexos., inexperientes e ignorantes, facilmente presumidos.

As mais das vezes são de dificílima interpretação tais livros, como os declara S. Pedro das Epístolas de S. Paulo. Alguns a cuja leitura a sinagoga proibia aos que não tivessem idade madura. O católico discreto buscará conselho de seu diretor espiritual antes de atirar-se à leitura de todos os livros do Antigo e do Novo Testamento, para não se meter em escuridões e perplexidades penosas, quando não perigosas.

A Tradição divina é a palavra de Deus, não escrita, mas entregue por boca do Cristo Senhor Nosso aos Apóstolos, e por eles comunicada aos primeiros fiéis, que no-la transmitiram como de mão em mão. Dizemos não escrita, em oposição aos livros sagrados inspirados pelo Espírito Santo; consta, porém, seja das doutrinas orais, seja principalmente dos escritos dos S.S. Padres, e outros autores eclesiásticos, decretos dos Papas, etc.

É tão autêntico este repositório das divinas revelações como os sagrados Livros, e de igual importância e autoridade. Com efeito, só pela tradição garantida pela Igreja infalível nos chega a Sagrada Escritura; só por este meio sabemos quantos e quais são os livros santos, qual a sua autenticidade, sua integridade e sua origem divina.

Só a Bíblia! Só a Bíblia! dizem, em alta voz, os infelizes desvairados pelo apóstata Lutero … Então não teriam fé nem seriam cristãos os primeiros discípulos, pois não havia ainda Evangelhos nem Epístolas, nem duas palavras de Cristo escritas por ele ou por outros?

A Bíblia! … só a Bíblia!! Tal estribilho na boca dos partidários de Lutero em revolta contra a Igreja, significa simplesmente: “Da Bíblia, só o que nos agrada e quanto nos agrada!”, pois rejeitam sete livros e explicam o mais a seu bel prazer. Mais feliz, porém, o católico, seguindo a Igreja, está certo de que é verdade tudo quanto lhe ensina a S. Madre Igreja católica, apostólica, romana, e que ouvindo a Igreja, ouve a voz de Deus.

(Fonte: livro Manual do Christão – Goffiné, Frei Leonard Goffiné, Colégio da Imaculada Conceição, Botafogo/RJ, 10ª edição/1925, pp. 509-512 – Texto revisto e atualizado com alguns destaques acrescidos, assim como as duas últimas notas)

Sou Todo Teu Maria: “Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo.” (São Luis Maria de Montfort)
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