Catolicismo

UM SINGULAR TESTEMUNHO DE S. LUÍS DE GONZAGA DADO POR SÃO ROBERTO BELARMINO

UM SINGULAR TESTEMUNHO DE S. LUÍS DE GONZAGA DADO POR SÃO ROBERTO BELARMINO

São Luís de Gonzaga (imagem: Wikipédia)

Breve nota do autor da obra: As cartas das pessoas acima ditas, escritas imediatamente depois da morte de S. Luiz, sem nenhuma dúvida fazem fé da fama que corria de sua santidade. Acrescentarei agora o testemunho de suas virtudes interiores, tantas vezes alegado nesta história. É do Eminentíssimo Senhor Cardeal Belarmino, ao qual pedindo eu, que mandasse por escrito quanto lhe lembrava deste bem-aventurado mancebo, como quem por largo tempo no Colégio Romano lhe tinha dirigido a consciência, e sabia com quantos dons Deus tinha enriquecido aquela alma, fez o escrito seguinte, todo de sua mão; e dos paços do Vaticano, onde morava, mandou-me à Casa professa do Gesu, em Roma. A simples afirmação de um Cardeal, pela excelência de sua dignidade, faz bastante prova e fé na Corte Romana, como ensinam Panormitano e outros Doutores. A mim, pois, podia bastar este simples escrito, como de pessoa conhecida no mundo por sua singular doutrina e inteireza de vida; contudo, para maior satisfação de todos, e confirmação da verdade, fiz com que Sua Senhoria Ilustríssima reconhecesse e jurasse esta sua escritura, como o fez em presença de um notário da Gamara Apostólica. É a seguinte, sem mudar palavra:

« Meu Reverendíssimo Padre,

« De boa vontade satisfarei a quanto Vossa Reverência me pede, parecendo-me que pertence à glória de Deus Nosso Senhor, que se saibam os dons concedidos por Sua Divina Majestade aos seus servos.

« Confessei por largo tempo o nosso dulcíssimo e santíssimo Luiz de Gonzaga, e até uma vez lhe ouvi a confissão geral de toda a vida. Ajudava-me à Missa, e gostava de conversar comigo, tratando das coisas de Deus. Por estas confissões e conversações parece-me poder, com toda a verdade, fazer as seguintes afirmações; primeira: nunca cometeu pecado mortal, e isto tenho por certo, desde a idade de sete anos até sua morte. Quanto aos primeiros sete anos, nos quais não viveu com aquele conhecimento de Deus que teve depois, tenho-o por conjectura, pois não é verossímil que na infância pecasse mortalmente, principalmente tendo sido predestinado por Deus a tal ta pureza. Segunda: desde o sétimo ano de sua vida, em que, como me dizia, se converteu do mundo a Deus, levou vida perfeita. Terceira: nunca sentiu estimulo carnal. Quarta: na oração e contemplação, na qual se conservava quase sempre ajoelhado no chão, sem se encostar, de ordinário não sofria distração. Quinta: foi um espelho de obediência, de humildade, mortificação, abstinência, prudência, devoção e pureza.

« Nos últimos dias de sua vida, teve uma noite tão excessiva consolação representando-se-lhe a glória dos Bem-aventurados, que julgava ter durado menos de nm quarto de hora, quando durara toda a noite. Nesse mesmo tempo, tendo morrido o Padre Luir Corbinelli, e perguntando-lhe eu o que pensava acerca daquela alma, respondeu-me com grande segurança estas palavras: Passou somente pelo Purgatório. Ora considerando eu seu gênio, e como era sobremaneira prudente no falar, e reservado em afirmar coisas duvidosas, fiquei certo do que ele o soubera por divina revelação, mas não quis ir adiante, para não lhe dar ocasião de vanglória. Poderia dizer muitas outras coisas, que calo por não estar seguro de lembrar-me bem. Em suma, tenho para mim, que entrou imediatamente na glória dos Bem-aventurados; e sempre tive escrúpulo de rogar a Deus por sua alma, parecendo-me fazer com isso injúria à graça divina que nela conheci. Pelo contrário, nunca tive escrúpulo de recomendar-me às suas orações, nas quais muito confio.

Ore por mim Vossa Reverência.

17 de Outubro de 1601.

« De Vossa Reverência.

Irmão afetuosíssimo em Cristo

ROBERTO Cardeal BELLARMINO

 

 

 

(Fonte: livro Vida de S. Luiz de Gonzaga da Companhia de Jesus, escrito em língua italiana pelo Pe. Virgilio Cepara da Companhia de Jesus, traduzido para o português pelo Pe. Miguel Tavani, S.J., Terceira Parte, Cap. II, pp. 370-373, em formato PDF, obtido do blog Alexandria Católica – Texto revisto e atualizado e o título adaptado para a postagem)

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