VIRGEM DE NAZARÉ: “EXEMPLO DE VIRTUDE”
Ignoro quem, pela primeira vez, teve a feliz e fecunda ideia de dar à Virgem Imaculada, o bendito e sugestivo nome de Nossa Senhora de Nazaré. Pouco importa o autor. Sempre fica esta denominação que abre diante de nossos olhos um horizonte celestial, que o coração poetisa com amor, com coisas arrebatadoras. Este nome evoca as mais doces lembranças e as intimidades mais inefáveis entre Jesus e Maria.
Nazaré! É a vida oculta, a solidão: mas a solidão com Jesus.
Nazaré! É a oração, é o anelo pelo céu: mas sempre sob os olhos de Jesus!
Nazaré! É, sobretudo, o estudo de Jesus: o estudo destas maravilhas que se desenvolviam no Menino Deus, deixando entrever, pouco a pouco, o que de sobre-humano irradiava da alma de Jesus, através de sua humanidade.
Nesta escura ermida de Nazaré, onde penetraram os olhos do Pai Eterno e dos anjos, seus mensageiros: Jesus crescia em sabedoria, em idade, e em graça, diz o Evangelho, diante de Deus e dos homens (Lc. 2, 52).
Era o papel do futuro redentor: patentear exteriormente as inesgotáveis belezas de sua sabedoria, à medida que os anos sucediam aos anos e que o olhar dos homens se acostumava a ver, através do desenvolvimento da natureza, outro desenvolvimento, só aparente este, da inteligência e da vontade.
E a Santíssima Virgem estava lá, como ela estivera em Belém… como estará, mais tarde, no Calvário. Ela estava lá, nota ainda o Evangelista, conservando todas estas coisas e meditando-as em seu coração. (Lc. 2, 51).
O Espírito Santo não diz nada dos atos da Virgem Santa, nada de seu proceder, nada de seus progressos na virtude.
E com efeito, por que falar nisto? De que serve repetir o que todos sabem, o que todos podem adivinhar?
Antecedentemente o anjo saudara-a da parte de Deus, cheia de graça. Este mesmo Espírito, pela voz de Santa Isabel, proclamara-a bem-aventurada por ter acreditado na palavra de Deus… e servindo-se das palavras da própria Virgem Maria, Ele lançara até as extremidades da terra e dos séculos esta estupenda e divina profecia, que todas as gerações e todos os séculos haviam de chamá-la e de exaltá-la sobre todas as mulheres.
Depois de uma proclamação tal, é necessário ainda tecer outros louvores e minudências? Qualquer explicação ulterior não podia senão diminuir a primeira glória.
O Espírito Santo, então, cala-se. Disse tudo. Disse como Deus: com a concisão, a força e a precisão que são próprias da palavra divina. Maria estava com Jesus, em Nazaré: quer dizer que ela foi a testemunha de tudo o que fez e disse o Filho de Deus, durante os trinta anos de sua vida oculta. Ela recolheu tudo; conservou tudo no íntimo do coração, apropriando-se da doutrina celeste que, dos lábios do seu divino Filho, mandava qual raio do céu. Ela pôs em prática todo o ensino do Salvador, tão amorosamente que se fez uma digna Mãe de Deus.
Avaliais o que é uma digna Mãe de Deus?
É não deixar sem frutos a mínima parcela de graças que cintilavam em redor de Jesus. É não deixar escapar sem reproduzi-lo, um só dos exemplos, que tão abundantemente semeia o Salvador a cada passo. Sim, em Belém, Maria foi digna de dar à luz ao Verbo encarnado, porque era cheia de graça. Sim, mais tarde, ela devia ser uma digna Corredentora, porque cheia de dor, ela devia ser, em Nazaré, digna da vida e dos exemplos de Jesus, sendo cheia de virtudes.
Nota-se aqui a evolução natural da grandeza e da glória. A graça produz a virtude; e a virtude se aperfeiçoa, se aureola na dor, para ser coroada finalmente, na glória.
Ó admirável! ó divina invocação essa: Nossa Senhora de Nazaré, rogue por nós!
Chamá-la Maria Santíssima: Virgem de Nazaré, é evocar-lhe todas as virtudes. Ela é o exemplar da pureza, como em todos os méritos de mãe de família.
Vinde, então, ó virgens, vinde, piedosas filhas de Maria, olhai para Maria, e perto dela, aprendei a conservar intacto o lírio que Deus vos entregou nas mãos.
Vinde, esposas fiéis, vinde caros meninos; para vós a Virgem de Nazaré é também um exemplo.
Perto dela está São José, o homem-virgem, que o Espírito Santo chama “justo”. Ele é o modelo perfeito e acessível dos trabalhadores e dos pobres.
E o Menino Jesus! obediente, humilde, que protótipo mais perfeito se poderá imaginar para a infância!
Tudo isso nos mostra a Virgem na sua vida oculta de Nazaré.
Seria temeridade levantar um pouco o véu que recobre estes mistérios, para revelar ao mundo a mais santa das famílias, e nesta família, a mais doce, a mais amante, e mais formosa das Virgens, das mulheres e das mães?
Experimentemo-lo ao menos. Caso as nossas investigações não estejam à altura das belezas a delinear, supram as almas piedosas o que faltar pela oração e pela meditação. Que o seu amor para com a Mãe de Deus lhes descubra o que nossa fraqueza não pode indicar… que, sobretudo de seus corações se levante mais penetrante e mais acendrado este grito de amor: Ó Virgem de Nazaré, dai-nos a graça de imitar as vossas virtudes!
É o único anelo do autor.
(Fonte: in, A Virgem de Nazareth, Pe. Júlio Maria de Lombaerd, disponiblizado por Alexandria Católica, Introdução, pp. 5-7 – Texto revisto e atualizado)