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A VIRGEM MARIA ESPERA A RESSURREIÇÃO

Sábado Santo.

A VIRGEM MARIA ESPERA A RESSURREIÇÃO

No dia anterior a Virgem tinha deixado o horto com muita dificuldade, pois queria ficar. Provavelmente estava hospedada na casa do amigo, que emprestou a sala para a última ceia de Jesus.

Voltando em direção à cidade, junto de João, passou em frente do Calvário e o coração contraiu-se de dor pela recordação. Começava a anoitecer. Pelas ruas se encontrava nitidamente as marcas do Filho arrastando a cruz, João, percebendo, fez um caminho diferente.

Muitas pessoas a reconheciam como a mãe do crucificado, aquela que estava chorando ao pé da cruz. Pela cidade o comentário ainda circulava, uns concordavam com a sentença, outros defendiam Jesus. João escolheu um trajeto mais tranquilo, para que ela não sofresse escutando todo aquele falatório.

Alguns perguntavam quem era aquela mulher e ficavam com piedade, outros tentavam levar algum consolo. Ela agradecia emocionada e guardava todas estas coisas no seu coração (Lc 2, 51).

Chegando à casa, fora da vista de todos, rompeu-se a chorar, viu a mesa que Jesus tinha ceado com os discípulos. Nenhum deles estava mais ali, somente João.

Retirou-se para seu aposento, e ali chorou e rezou, colocou o coração em Deus, preparando-se para o novo dia.

As outras mulheres chegaram à residência e perguntaram por Maria, João avisou que estava repousando e pediu que não a incomodassem.

A Virgem com fé, rezava a Deus e aguardava. Parecia ver o Filho presente, onde na noite anterior tinha se despedido dela. Recordava todo aquele dia de dor: Jesus sendo levado e trazido dos tribunais; Pilatos apresentando-o ao povo, flagelado, coroado de espinhos e ensanguentado. Lembrava da troca de olhares no Calvário; das longas horas ao pé da cruz, vendo-o morrer. Tinha ficado admirada com o silêncio e a obediência do filho; pelo grande amor que demonstrou pelos homens. Vinha à memória cada detalhe e meditava tudo no fundo do coração, essa era sua riqueza. Ouvia os gemidos de dor; as palavras de Jesus na cruz ecoavam; as lágrimas e o sangue derramado pareciam que queimavam o coração. Como queria abraçar Jesus novamente. Breve! Muito em breve!

Como as horas demoravam a passar, rezava ao Pai Eterno que o ressuscitasse. Conhecia a confiança que o Filho tinha no Pai, uma vez escutou: Eu bem sei que sempre me ouves (Jo 11, 42). Como acreditava piamente que Jesus ressuscitaria, a dor da alma diminuía e aumentava a esperança de ver em breve seu Filho ressuscitado e poder abraçá-lo nova mente.

Começou a se preocupar com os discípulos, queria que eles estivessem presentes na ressurreição de Jesus.

No dia seguinte, sábado, decidiu acabar com a preocupação; com maternal diligência conversou com as amigas, seguidoras de Jesus.

Como sabemos algumas eram mães de discípulos: Salomé, mãe de Tiago e João; Maria de Cleófas, mãe de Tiago menor, José, Simão e Judas Tadeu. Sabendo da covardia deles, decidiram procurá-los. Onde estariam?

Talvez João soubesse, talvez a Virgem soubesse onde estava Pedro, pois ele tinha ido pedir perdão.

Todos voltaram para junto da Mãe Santíssima. Estavam felizes e agradecidos pela preocupação da Virgem Maria por eles. Sentiam-se envergonhados e todos pediram perdão pela covardia, pediram também que intercedesse por eles perante Jesus. A Mãe abraçou a todos como se fossem o próprio Filho.

Os apóstolos e discípulos não estavam crentes na Ressurreição de Jesus. A Virgem percebendo a fragilidade em que se encontravam, exortou a todos para que acreditassem. Estava surpresa pela covardia e falta de fé, pois tinham sido escolhidos para conquistar o mundo. Sabia que o Filho os amava; eles mesmos contaram que na noite de quinta-feira, Jesus ordenou para que os soldados os deixassem partir. Na cruz, Maria foi nomeada Mãe de todos eles. Ela também os amava, os amava muito.

Enquanto aguardava o Senhor ressuscitar, ela foi a guardiã desta família. Os protegeu com amor, deu a fé e a esperança para a Igreja nascente, que estava débil e assustada. Assim nasceu a Igreja: ao abrigo da nossa Mãe.

Todos passaram o sábado junto da Virgem Maria, observando o descanso. Queriam saber tudo o que tinha acontecido depois que abandonaram Jesus. Ela contou que Jesus foi muito maltratado, mas morreu por amor a eles, e que deveriam se animar e crer. Falou que muitos voltaram do Calvário arrependidos e batendo no peito; que o centurião declarou que Jesus era Filho de Deus; e tentou mais uma vez fazê-los crer que amanhã Jesus ressuscitaria.

Mas eles não estavam acreditando ainda, embora não falassem nada para não magoar a Virgem Maria. Ela que tinha se esquecido de si mesma, para acalentar os apóstolos, queria que eles vencessem a debilidade e que não tivessem medo, e insistia: Meu Filho disse que a o terceiro dia ressuscitaria!

Mesmo assim, eles não acreditavam. Ela era a única luz acesa sobre a terra, nossa esperança, em que tinha nascido a Sabedoria.

Mãe sem temor, Mãe amável, Mãe do bom conselho, Mãe prudentíssima, Virgem forte, Refúgio dos pecadores, Rogai pelos que não acreditam em Jesus Cristo!

A estrela da manhã, esplendorosa de alegria, via como aquelas mulheres caminhavam para o sepulcro, de manhã cedo, quando ainda estava escuro (Jo 20, 1).

(Fonte: in A Paixão do Senhor, Luis de la Palma, Editoras Formatto e Factash, tradução de Eduardo de Carvalho, 2ª edição/2011, pp. 238-241)

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