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O CORAÇÃO DE MARIA É CORAÇÃO DE MÃE AMANTE

22 de Agosto – Festa do Puríssimo Coração de Maria.

O CORAÇÃO DE MARIA É CORAÇÃO DE MÃE AMANTE

22 de Agosto – Festa do Puríssimo Coração de Maria

Desde os mais tenros anos, nós temos ouvido dizer que Maria foi dada como Mãe a S. João por Jesus moribundo na cruz, e que S. João representava todos os fiéis. Desde aquele momento a SS. Virgem nos considerou logo como seus filhos, com tantas dores novamente adquiridas.

É esta uma verdade muito consoladora, confirmada pela autoridade de todos os santos Padres, e tida como certa por todos os cristãos. Ora, designada Maria Santíssima para ser nossa Mãe, não só esparge sobre nós todos os seus benefícios, mas tem por nós um amor verdadeiro; e não um amor qualquer, mas um amor que tem a índole e a qualidade do verdadeiro amor materno. Sim, Maria SS. para obedecer e agradar a Jesus, ao receber este encargo, sente infundir-se n’Ela o amor materno pelos homens, e o Senhor ao mesmo tempo imprime no nosso coração amor filial para com Maria. Os efeitos do sentimento de tal amor, não só nós os experimentamos, mas os vemos também nos outros, ainda que sejam pouco piedosos. O amor por Maria é um sentimento de ternura não vulgar, de confiança bem diversa daquela que temos nos outros santos. É afeto de devoção não de servos, mas de filhos. Parece que nasce conosco e é o último a extinguir-se. Oh! feliz amor filial! De quantas consolações não é ele suave e doce portador a quem bem o considera! É ele um sinal bem indicativo de que Maria é nossa Mãe e que nós somos seus filhos.

Considerai também que o procedimento amoroso de Maria Santíssima para conosco, tira-nos toda a duvida de que Maria é Mãe amante e dedicada, e que, por consequência, o seu Coração corresponde a este amor. A constância e longanimidade do amor, são os caracteres do amor materno: são também os caracteres do amor de Maria por nós. Nunca se esquece de nós, ainda que nós a esqueçamos. Tem todo o cuidado de nós e das nossas coisas, ainda que a Ela não recorramos; Maria tem compaixão de todas as nossas desgraças; e mesmo quando caímos desastradamente em alguma culpa, é Ela quem se entrepõe entre Deus e nós, e assim aplaca a ira divina, suspende os castigos que merecíamos e nos reconcilia com o Senhor. Recordai agora os fatos da vossa vida passada. Todos os favores que recebestes do Céu, vieram por mão de Maria. Se não morrestes no pecado, foi Ela que vos livrou, intercedendo por vós. Se não caístes naquela tentação, foi Maria quem vos obteve força para lhe resistir; se fostes livre daquele perigo, Maria foi quem vos sustentou. Domaste aquelas paixões, vencestes aqueles obstáculos que vos pareciam invencíveis, tudo foi por meio de Maria. Vós sois uma prova viva da asserção de S. Bernardo: que nós recebemos tudo por Maria e que Ela tem para nós o coração da Mãe mais amante. Ó cara Mãe, vós continuais a mostrar-me sempre o vosso valioso afeto, mas fazei que eu possa corresponder-lhe com um sincero e filial amor.

Do que acabamos de dizer, deveis inferir que Maria nos ama com amor de Mãe das graças. É este um amor de mãe amante e dedicada, mas diverso do amor das mães comuns; é de uma espécie tal que jamais foi comunicada a nenhum coração humano. O amor, que na alma de Maria existia por nós, redundou com sensível influxo no seu Coração, e Ela sentiu nele, realmente, uma tal mudança de afetos e de ternura tão sensível de amor materno, que o seu Coração ficou propriamente cheio de amor por nós, de tal maneira que lhe foi este amor raiz e fonte de sumas dores.

Para o coração de uma mãe, a maior pena é ver-se esquecida ou desprezada por filhos desnaturados; e destas dores participou em sumo grau a Virgem Santíssima. Oh! quantas ingratidões, quantas injúrias, quantos maus tratos não tem Ela recebido de filhos seus! Com tudo, Maria tudo esquece e não pensa senão no nosso bem. Bem previu as nossas ingratidões e as ofensas que lhe faríamos, desde que aceitou o encargo de ser Mãe nossa; por isso, desde logo começou o martírio do seu Coração por nossa causa. Oh! que grande parte vós tendes em tal martírio, alma religiosa! Recorda-vos bem do esquecimento em que tendes deixado esta doce Mãe, as injúrias e ofensas que lhe tendes feito, e vede como Ela depois disto vos tem tratado. Quais foram os seus ressentimentos, quais as suas queixas, qual a sua vingança? Teve sempre para vós entranhas de caridade, sempre se empenhou junto do Senhor em obter-vos graça e perdão.

Além disso, Maria, aceitando-nos por seus filhos, previu a ruína e perda eterna de tantos e tantos cristãos que eram resgatados pelo preço do sangue que seu Filho estava derramando na cruz. Oh! pobre Coração! de que terrível angústia se possuiu então, que mágoa profunda lhe causou a condenação de tantos filhos que estremecia! E assim como o Coração SS. de Jesus, no jardim das oliveiras foi reduzido às agonias da morte, porque previu que ia derramar todo o seu sangue e dor, a sua vida na cruz pelo gênero humano, e que depois de tal excesso de amor tantas e tantas almas ainda se perderiam; assim Maria se entregou à maior e mais dolorosa angústia, vendo que todo o zelo e solicitude do seu Coração materno, seriam para tantos dos seus filhos como lançados ao vento. E conhecendo que não obteria a salvação de tantas almas que, por voluntárias recaídas na culpa e por uma obstinação absoluta, entregavam-se á impenitência final, a amargura do Coração de Maria chegou ao maior excesso. Daqui bem podemos apreciar: qual será o extremo do amor materno que Maria tem por nós. Oh! se Ela encontrasse nos seus filhos a devida correspondência ao seu amor, que faria Maria por eles? – Quantas graças não obteria do Altíssimo em seu favor! A que grau de santidade os elevaria, que coroa imortal lhes prepararia lá no Céu! Procurai entender bem o caráter do Coração desta tão amável Mãe, sondai a ternura e magnanimidade do seu amor, e persuadi-vos que a índole própria dele, é do Coração de Mãe a mais amante e dedicada.

(Fonte: in Meditações e Práticas Devotas em Preparação para a Festa do Sagrado Coração de Maria, Pe. José M. Manfredine, SJ, traduzido do italiano, Typographia Cunha & Comª., Porto/Portugal, 1900, Meditações e Práticas devotas para o Sagrado Coração de Maria, Meditação do Dia da Festa, pp. 98-104 – livro em formato PDF, obtido do blog Alexandria Católica. Texto revisto e atualizado)

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