Semana Santa

SEXTA-FEIRA SANTA

A Vitória de Jesus Crucificado (Meditação complementar).

SEXTA-FEIRA SANTA – VITÓRIA DE JESUS CRUCIFICADO

PREPARAÇAO. A fim de melhor compreendermos o imenso benefício da Redenção, meditemos: a grande vitória de Jesus crucificado sobre a morte e o pecado; 2º os efeitos preciosos que dela emanam para nós. – Pediremos, em seguida, a Jesus e Maria que nos deem a coragem de corresponder a tantas graças que nos mereceram, e das quais nenhuma nos falta. Ita ut nihil vobis desit in ulla gratia (1Cor 1, 7).

1° Jesus venceu a morte e o pecado

Como Davi pediu espontaneamente para combater a Golias e o provocou indo ao seu encontro, assim Jesus passou sua vida inteira num vivo desejo de forçar a morte para a grande luta que a sexta-feira santa comemora. “Devo ser batizado, dizia ele, por um batismo de sangue; e quanto desejo que ele se realize” (Lc 12, 50). Fez ainda mais: provocou de certo modo a morte para o combate, adiantando-se àqueles que o deveriam matar. Davi depôs as armas de que Saul o revestira, e avançou contra o adversário com a sua funda e cajado de pastor; Jesus, para vencer a morte, terrível inimiga do gênero humano, depôs por assim dizer a sua glória e poder, e não quis outra arma senão a cruz.

A morte, porém, não se atreveu a aproximar-se dele, para cortar-lhe o fio da vida. Que fez Jesus? exclamou: “Meu Pai, em vossas mãos encomendo o meu espírito”, depois inclinou a cabeça como para dar à morte o sinal que esta esperava com hesitação. Ela fez então o seu ofício, mas quebrou-se-lhe o aguilhão. O aguilhão da morte, diz o apóstolo, é o pecado, por cuja causa ela podia levar-nos desta vida miserável para a morte eterna. Ora, o triunfo de Jesus liberta-nos dessa morte. Morremos quanto ao corpo, mas as nossas almas estão ao abrigo a morte do pecado e da morte eterna, que é a sua consequência. Essa é a grande vitória conquistada por Jesus crucificado!

Passemos o dia de hoje a saborear esses mistérios; agradeçamos a bondade infinita de Deus que nos resgatou por tão alto preço; choremos as dores de Jesus; regozijemo-nos com sua vitória e com as graças que nos mereceu. Antes de expirar, ele nos dissera haver consumado a obra da nossa Redenção, ou de nossa salvação. Resta-nos apenas o trabalho de aplicar-nos os seus méritos, orando com frequência e seguindo as suas pegadas. – É assim que fazemos? Esperamos talvez morrer como o cabeça dos predestinados, sem termos vivido como ele?

Jesus, não me deixeis cair nessa funesta ilusão. Fazei-me compreender que, na última hora, o meu merecimento estará em proporção com o espírito de fé, obediência e sacrifício, que tiver dirigido o meu procedimento. Desprendei-me cada vez mais das ideias do mundo, tão contrárias às vossas máximas, e lembrai-me a obrigação que tenho de morrer a mim mesmo para imitar a vossa morte na cruz e participar como os Santos dos vossos méritos infinitos.

2º Frutos da vitória de Jesus

Jesus, que nada tinha que ver com a morte, dela Triunfou em proveito nosso; tornou-a doce, transformando-a em passagem para uma vida melhor. Antes da vinda do Redentor, era duro deixar a terra, até para os justos, pois que o céu lhes estava fechado. Por sua morte, diz o Apóstolo, o Cristo libertou os que a morte conservara presos durante toda a sua vida. A confissão, a eucaristia, a extrema-unção, as indulgências, frutos preciosos da morte do Salvador, desfazem todo o amargor de nossa última hora. “Ó morte, exclamava São Francisco de Assis, quem diria que fosses tão amarga?”

De fato, Jesus foi o primeiro a beber o cálice que nos amedrontava; e no-lo apresenta para que o bebamos também. Mas a nossa parte é bem mais doce do que a sua. Sobre a cruz em que agonizava, não tinha ele repouso. Todas as ondas da cólera divina pareciam descarregar-se sobre ele; expirou de dores, saturado de opróbrios por suas criaturas. Um tal espetáculo não é porventura capaz de adoçar a amargura da nossa última agonia e de tornar-nos consoladora a morte? – Habituemo-nos a meditar em Jesus crucificado, para que no momento supremo a vista do crucifixo nos anime e nos dê a paz com a esperança da salvação.

Recordemo-nos que a morte se nos tornou doce pela vitória de Jesus sobre o pecado. Participaremos dos frutos dessa vitória se triunfarmos do pecado e das inclinações que a ele conduzem. Reprimamos o orgulho, que resiste à autoridade legítima e recusa obedecer-lhe; a sensualidade, que só pensa no prazer dos sentidos e se quer satisfazer apesar dos gritos e remorsos da consciência; a avareza insaciável, que se apega aos bens passageiros sem cuidar das riquezas eternas.

Meu Deus, dai-me a força de triunfar das três concupiscências que Jesus e Maria venceram no Calvário. Para esse fim, fazei-me, doravante: menos inimigo do que me humilha aos olhos das criaturas; menos atento em fugir do que contraria os sentidos e o amor próprio; menos ocupado das minhas comodidades, bem estar, saúde e cuidado das coisas deste exílio terrestre, onde Jesus, meu Salvador, e Maria, minha Mãe, passaram sua vida na mais completa privação.

(Fonte: in Meditações Para Todos os Dias do Ano, R. P. Bronchain, C.SS.R, traduzidas da 13ª edição francesa pelo R. P. Oscar Chagas, C. SS.R., Tomo Primeiro, Editora Vozes, 1940, pp. 270-273, obra em formato PDF obtida do blog Alexandria Católica. Texto revisto, atualizado e com destaques acrescidos)

Mostrar mais

Artigos relacionados

Translate »
...