A PROFECIA DE SIMEÃO

A PROFECIA DE SIMEÃO

É uma das páginas mais enternecedoras do Evangelho que vamos meditar. É o terceiro mistério da Apresentação de Jesus no templo.

Terminada a cerimônia da purificação à porta do Templo, a Sagrada Família quis passar pela abertura, que conduzia ao vestíbulo dos Israelitas, para ali fazer a apresentação do primogênito.

Ali, de repente, aparece um nobre ancião, conhecido por todos e por todos venerado por suas raras virtudes. E’ o velho Simeão.

Desponta à porta, no mesmo momento que a Sagrada Família se ia retirando. Para de súbito, fita o Menino… olha para a Mãe, examina o pai, e um longo soluço de imensa alegria escapa da garganta do velho e venerando sacerdote. Reconheceu o Messias prometido, o Salvador do mundo!

Assistamos a esta cena:

I – Narrando simplesmente o fato

II – Contemplando o efeito no Coração de Maria

I – A NARRAÇÃO DO FATO

Escutemos bem a passagem comovente do Evangelho: Havia então em Jerusalém u m homem chamado Simeão, e este homem justo e temente a Deus, esperava a consolação de Israel e o Espírito Santo estava nele.

Havia-lhe sido revelado pelo Espírito Santo que não veria a morte, sem ver primeiro o Cristo do Senhor (Lucas 2. 25-26) .

Que retrato admirável o deste ancião vergado sob o peso dos anos, mas sustentado pelo ardor da virtude e dos nobres desejos. Sentimo-nos em presença de tudo o que a lei antiga havia formado de mais venerável. E que fazia este venerando ancião?

O Evangelho o diz: esperava a Consolação de Israel. O Messias.

Tal era a sua ocupação, a sua profissão de vida, sua razão de ser. Esperava em nome da humanidade inteira. Com uma timidez inspirada, o ancião coloca-se ao lado da jovem Mãe.

O seu coração palpita com veemência. Suplicante, docemente comovido, ele pede à Mãe que deposite, em seus braços, este menino sorridente, no qual reconhece o seu Salvador.

Maria cede-lhe o seu tesouro, pois o Espírito Santo lhe comunica secretamente, que este venerando ancião, de barbas brancas e de voz trêmula, vem mandado por Deus, para fazer qualquer coisa de excepcional. O ancião aperta o Menino contra o peito ofegante, cobre-o de beijos e de lágrimas, e adora-o como ao Santo de Israel. Cena comovente, que Santo Agostinho resume nesta frase deliciosa: O ancião carregava a criança; e a criança dirigia o ancião.

Simeão canta depois o seu “Nunc dimittis”, o seu êxtase de gratidão:

Agora, Senhor, deixa morrer em paz o teu servo, segundo a tua palavra, porque os meus olhos contemplaram o teu Salvador, que suscitaste ante a face de todos os povos, como uma luz, para ser revelada às nações!

O santo ancião pede a morte, porque viu o Salvador! Ver o Salvador: tal é o termo, o fim de sua vida. Agora não tem mais nada a desejar: Seu nome de Simeão está plenamente realizado ; Simeão significa: Que foi atendido. O santo ancião foi atendido.

Ele havia esperado tantos anos o que agora contempla:

O Salvador do mundo;

Suscitado à face de todos os povos;

Como uma luz resplandecente;

Que vai ser revelado a todas as nações.

Quadrupla esperança de Simeão!

E tudo isto está ali diante dele, nos braços duma Virgem Mãe!

Oh, Deus! É o bastante para morrer de alegria!

E Simeão deseja a morte.

II – O GLÁDIO DO CORAÇÃO

O profeta Simeão radiante, entregou, aos braços de sua Mãe, esta criança mais radiante ainda!

Maria e José estavam admirados das coisas, que o santo ancião dizia de Jesus (Lucas 2. 33 ) mas eis que, de repente, a cena toma outro aspecto. Simeão olha para Maria. bela e resplandecente da glória da maternidade divina, e de súbito, no meio de um prolongado soluço, lentas como as pancadas da morte, caem de seus lábios trêmulos, palavras aterradoras .

A jovem Mãe, de 16 anos apenas de idade, escuta, pálida, calma com o heroísmo da mãe dos Macabeus, de cabeça inclinada sobre o cordeirinho divino, que ela aperta contra o peito, como se quisesse escondê-lo dentro do coração.

Eis que este menino está posto para a ruína e para a ressurreição de muitos em Israel e para ser o alvo da contradição. E uma espada trespassará a tua alma, afim de se descobrirem os pensamentos escondidos nos corações de muitos. ( Lucas 2. 34-35).

Maria escutou esta terrível profecia. Parecia-lhe que Simeão era para ela : o profeta do gládio.

O fúnebre futuro aparecia-lhe luminoso. O Cristo, o seu Jesus, o seu Filho, o seu tesouro, o seu amor, será o cordeiro divino, que deverá ser imolado pela salvação do mundo.

Ela deixará o templo, levando o gládio a trespassar-lhe o coração.

– Nobre filha de Abraão, és digna de teu antepassado, ao imolar no Moriah, o seu filho Isaac.

O gládio passou, apenas, nas mãos de Abraão; o teu permanece em teu coração.

A via dolorosa do santo Patriarca foi, apenas, de três dias, antes do sacrifício; mas a tua é uma vida inteira, pelo conhecimento, que tens dos sofrimentos futuros.

Só as mães são capazes de adivinhar a tua lenta, lacerante e angustiada agonia, que tem um caráter especial, pois é composta da ternura maternal e da timidez da Virgem.

Ternura maternal que te faz apertar o teu tesouro sobre o coração para poupar-lhe qualquer sofrimento. Timidez virginal, que uma simples sombra sobressalta…

Esta ternura e esta timidez eram os dois gumes do gládio, que trespassava, incessantemente, o coração daquela que era a pureza perfeita, inclinada sobre um berço.

E lá está ela, esta Mãe radiante e Virgem dolorosa, no esplendor da sua maternidade virginal e na alvura da sua virgindade maternal. Lá está ela, heroica em sua resignação, sublime em seu amor, divina em seu ofício. Ela ali está, como estará mais tarde ao pé da cruz, com o olhar fixo sobre o seu Jesus, que, doce e sorridente, vendo as lágrimas de sua querida Mãe, e sentindo as pulsações aceleradas de seu coração, aproxima a sua loura cabecinha e a reclina sobre o peito maternal. Simeão olha, compreende, e um longo soluço levanta o seu peito, enquanto as lágrimas embargam-lhe a voz trêmula. Nenhuma frase cai de seus lábios. Ele disse tudo o que lhe havia inspirado o Espírito Santo. Não deve ajuntar mais nada, pois o humano não deve misturar-se com o divino.

O nobre ancião beija uma última vez o Salvador e desaparece, esperando a morte.

Ele tinha visto o Messias! Faltava, apenas, possuí-lo.

III – CONCLUSÃO

Cena tocante esta da Purificação de Maria, da apresentação de Jesus, e sobretudo da profecia de Simeão. Maria, a Mãe gloriosa e Virgem dolorosa ao mesmo tempo, deixou o templo, deixou o profeta do gládio, mas levou o gládio cravado no coração. Jesus devia ser, como o acabava de vaticinar Simeão, o alvo da contradição, e ela: a Rainha dos mártires.

Através do nevoeiro do futuro, ao longe, num céu escuro e ameaçador, aclarado pelas centelhas dos relâmpagos, ela vê um jovem açoitado, coroado de espinhos, carregando uma cruz; vê uma cruz, um corpo morto, um peito trespassado e seu coração murmura: É o teu Jesus! Oh! compadeçamo-nos das dores da Virgem Mártir! Consolemo-la pela nossa generosidade e o nosso amor. Não fiquemos indiferentes diante das lágrimas de nossa Mãe querida, que quer salvar-nos e entregar-nos a seu Jesus.

(Fonte: in, O Evangelho das Festas Litúrgicas e Dos Santos Mais Populares, Pe. Júlio Maria Lombaerd, Editora O Lutador, 2ª edição/1952 21ª Instrução, pp. 100-104 – Texto revisto e atualizado)

Sou Todo Teu Maria: “Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo.” (São Luis Maria de Montfort)