A SAGRADA MEDALHA OU CRUZ DE SÃO BENTO
PARTE FINAL
(Por Dom Próspero Guéranger, OSB)
OS CARACTERES QUE SE LEEM NA MEDALHA
Além da imagem da Cruz e a de São Bento, a medalha traz ainda certo número de letras, cada uma das quais representa uma palavra latina. As diversas palavras, reunidas, formam um sentido que manifesta a intenção da medalha: exprimir as relações que existem entre o santo Patriarca dos Monges do Ocidente e o sinal sagrado da redenção do gênero humano; e ao mesmo tempo pôr ao alcance dos fieis um meio eficaz de empregar a virtude da Santa Cruz contra os espíritos malignos.
Essas letras misteriosas acham-se dispostas na face da medalha em que está representada a Santa Cruz. Examinemos, em primeiro lugar, as quatro que vêm colocadas entre as hastes da referida Cruz.
C S P B
Significam: Crux Sancti Patris Benedicti; em português, Cruz do Santo Padre Bento. Essas palavras já explicam o fim da medalha.
Na linha vertical da Cruz, lê-se:
C
S
S
M
L
o que quer dizer: Crux sacra sit mihi lux; em português, A Cruz sagrada seja minha luz.
Na linha horizontal da mesma Cruz, lê-se:
N. D. S. M. D.
O que significa: Non draco diti mihi dux; em português, Não seja o dragão meu chefe.
Reunindo-se essas duas linhas, forma-se um verso pentâmetro, pelo qual o cristão exprime sua confiança na santa Cruz e sua resistência ao jugo que o demônio lhe quereria impor.
Em redor da medalha existe uma inscrição mais extensa, a qual em primeiro lugar apresenta o santíssimo Nome de Jesus, expresso pelo monograma bem conhecido: I. H.S. A fé e a experiência nos certificam a onipotência desse Nome divino. Vêm depois, da direita para esquerda, as seguintes letras:
V. R. S. N. S. M. V. S. M. Q. L. I. V. B.
Essas iniciais representam os dois versos que seguem:
Vade reto satana: nunquam suade mihi vana:
Sunt mala quae libas; Ipse venena bibas.
Em português: Afasta-te, satanás; nunca me aconselhes tuas vaidades, a bebida que ofereces é o mal: bebe tu mesmo teus venenos.
Tais palavras supõem-se terem sido ditas por São Bento: as do primeiro verso, por ocasião da tentação que sentiu e da qual triunfou fazendo o sinal da Cruz; as do segundo verso, no momento em que seus inimigos lhe apresentaram uma bebida mortífera, que ele descobriu benzendo com o sinal da vida o cálice que a continha.
O cristão pode utilizar essas palavras todas as vezes que for assaltado por tentações e insultos do inimigo invisível de nossa salvação. O próprio Jesus Cristo Nosso Senhor santificou as palavras Vade retro, satana – Afasta-te, satanás – e seu valor é certo, uma vez que nos é assegurado pelo próprio Evangelho. As vaidades que o demônio nos aconselha são as desobediências à lei de Deus, as pombas e as falsas máximas do mundo. A bebida que o anjo das trevas nos apresenta é o pecado, que dá morte à alma. Em vez de aceitá-la, devolvamos a ele tão funesto presente, já que ele mesmo o escolheu como sua herança.
Não há necessidade de explicar mais longamente ao leitor cristão a força dessa conjuração, que opõe aos artifícios violências de satanás tudo quanto ele mais teme: a Cruz, o santo Nome de Jesus, as próprias palavras do Salvador quando tentado, e, por fim, a recordação das vitórias que o grande Patriarca São Bento alcançou sobre o dragão infernal. Basta alguém pronunciar com fé tais palavras, e imediatamente se sentirá com forças para arrostar todas as investidas do inferno. Mesmo que não conhecêssemos os fatos que demonstram até que ponto teme essa medalha, a simples apreciação do que ela representa e do que ela exprime já bastaria para que a considerássemos uma das mais poderosas armas que a bondade de Deus nos pôs ao alcance contra a malícia diabólica.
(Fonte: opúsculo A Medalha de São Bento, Dom Próspero Guéranger, OSB, Abade de Solesmes, Editora Artpress, 8ª edição, São Paulo/2017, Cap. III, pp. 23-25. O título da postagem é nosso)