BATISMO DO SENHOR
(Sermão de São Gregório Nazianzeno – Serm., XXXIX, in sancta Lumina, 14-17)
Já foi celebrado com digna solenidade o Natal de Cristo. Com a estrela acorremos; adoramos com os anjos; com os pastores, fomos envolvidos em luz; com os anjos, publicamos a glória divina. Agora, porém, dá-se outra ação de Cristo, outro mistério. Cristo se ilumina. Iluminemo-nos, ao mesmo tempo, com ele, para subirmos também.
Jesus é batizado. Porventura, só se espera por isso? Não nos apraz, acaso, observar cuidadosamente outras circunstâncias? E, particularmente, quem, por quem, e quando?
Sem dúvida, puro; e por João, e quando dava início aos milagres que devia fazer. Que coisa daí aprendemos, que nos é ensinada? A não ser que nos devemos aplicar primeiramente à purificação do espírito, e que não devemos tomar o cargo de discorrer, enquanto não tivermos adquirido a perfeição da idade tanto do espírito quando do corpo. Jesus é purificado, e tu desprezas a purificação? Por João, e tu te rebelas contra teu pregador? Tinha trinta anos; e tu, jovem, ensinas a anciãos, ou julgas poder ensinar-lhes, não tendo a autoridade da idade nem, talvez, a dos bons costumes?
João batiza Jesus e se aproxima, talvez, até impressione pela santidade aquele por quem é batizado, sem dúvida alguma; para que, porém, sepulte nas águas todo o velho Adão, santificando o Jordão antes destes e por causa deles, a fim de que, como era espírito e carne, iniciasse sua carreira pelo Espírito e pela água.
O Batista recusa-se, Jesus insiste. Então: Devo ser batizado por ti, (Mt. 3, 14) diz a lamparina ao Sol, a voz ao Verbo, o amigo ao Esposo, o maior entre os nascidos de mulheres ao Primogênito de toda criatura.
Jesus, porém, já sai das águas; leva, realmente, o mundo consigo, para o alto, e vê abrirem-se e rasgarem-se os céus que Adão para si e seus descendentes fechara com a espada de fogo. E o Espírito atesta a divindade, especialmente acorrendo, como a seu igual, a sai a voz do alto, pois de lá era aquele a quem dava testemunho. Era para lhe honrar o corpo, visto ser Deus que se deixa ver sob a forma de pomba.
Celebremos, então, com honra, o batismo de Cristo e celebremos a festa como convém, não nos entregando às delícias, mas espiritualmente, regozijando-nos. Como nos haveríamos de entregar-nos às delícias? Lavai-vos, sede puros. (Is. 1, 16) Se, pelo pecado, estais vermelhos ou um tanto menos, cor de sangue, tornai-vos brancos como a neve; se, porém, estais cor carmesim, quais homens de sangue, chegai igualmente à brancura da lã. Se não vos achais purificados, purificai-vos. E, realmente, Deus não se deleita em nenhuma coisa tanto quanto na emenda e salvação do homem para quem existem as palavras e os mistérios da Escritura.
(Fonte: livro Ofício Marial Lecionário, Editora FTD S/A, 1965, Tempo do Natal, pp. 101-102 – Texto revisto e atualizado)