MARIA NOS DÁ SEU FILHO
Quem dá, nunca se despoja.
A riqueza, que talvez diminui na bolsa, cresce sempre no erário do coração.
Porque quando damos, nós ganhamos. E sacrificando o que apenas ambicionam os nossos olhos, recebemos em troca os corações de que se alimenta o nosso amor.
Quem dá Deus, soberanamente se enriquece. O Senhor, num divino paradoxo, aumenta sua Presença em nós, na medida em que, parece, d’Ele nos despojamos para enriquecer os outros.
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Quem mais se despojou de Deus foi Maria.
O Menino viera para Ela, primeiro. Para quem era a Plena de Graça, Morada de Deus, Bendita entre as mulheres.
Nela, gostosamente, se repousara. Longos e saborosos meses, numa intimidade de união, que mais estreita não é possível realizar.
Unira-se à sua alma, ao seu sangue, à sua carne, ao seu coração, à sua vida.
Fora d’Ela, numa posse íntima de Jardim Fechado, num idílio múrmuro de Fonte Selada …
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Mas a Virgem sabia que entrara na Economia da Redenção como o Elo necessário, no Corpo Místico, como o Colo Formoso.
Jesus vinha. para a salvação dos homens.
E Maria não fechou avaramente o Escrínio do Tesouro.
Não ocultou sua Joia. Não consumiu seu Bem.
Dispôs-se a dá-Lo. Com efusão, com ternura, com generosa misericórdia.
Sua prece, antes do Natal, acompanhava-a aspiração oceânica dos séculos.
Desejava Aquele que viria, o Prometido, o Esperado, para a salvação universal.
E quando teve Jesus, Ela O ofertou, como uma Fonte vivaz, como um Altar acolhedor.
A José e aos anjos cantores, aos ovelhunos pastorinhos e aos oirados magos.
E a todos os nossos corações.
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Se o gesto natalício de Maria é oferecer-nos Jesus, a orientação preferencial de nossa piedade cristã deve ser abrir os braços ansiosos para receber o Menino.
Recebê-Lo com o anelo da união afetuosa, de preciosa salvação.
Ele é o nosso tesouro de amor e nosso Redentor único.
Recebê-Lo, de Maria, de sua Pureza castíssima e de sua recolhida Intimidade.
Para a pobreza desejosa de nossa alma, em perene preparação para essa Comunhão de Natal, enguirlandada de anjos, iluminada de estrelas, no altar dos Braços Imaculados.
E abraçá-Lo, sempre, numa Ação de Graças que O guarde eternamente em nosso coração, à luz humilde de nossos afetos, ao calor extasiante do amor de Maria.
(Fonte: in Livro de Maria, Dom Antonio Maria Alves Siqueira, São Paulo/1963, Cap. I, XIV, pp. 43-44)