O TEMPO DO NATAL

A liturgia neste período festivo.

O TEMPO DO NATAL

1. Significação deste Tempo. O Tempo do Natal é o período de quarenta dias, entre 25 de dezembro e 2 de fevereiro. Comparando o Advento à subida de uma montanha, chegamos agora a seu cume — Natal — o ponto mais elevado da primeira parte do Ano eclesiástico.

Durante doze dias permanecemos nesta altura, com a celebração das duas festas principais deste Tempo: Natal e Epifania. Esta última solenidade é seguida de 6 domingos, número este por vezes diminuído pelo tempo da Setuagésima, que varia conforme a celebração da Páscoa, mais cedo ou mais tarde. Termina o Tempo do Natal com a festa da Purificação de Nossa Senhora, que é o oferecimento de Jesus no templo, pelos pecados do mundo e assim esta festa já prepara o Mistério da Redenção, conteúdo do ciclo pascal.

Voltemos à festa do Natal. Seu fim é lembrarmos o nascimento do Salvador e comunicar-nos as graças particulares deste Mistério.

«Por nossa causa e por nossa salvação desceu do céu» (Credo). Sendo e permanecendo verdadeiro Deus, tornou-se verdadeiro homem. Não hesitou em se revestir da forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens e sendo reconhecido como homem. E sendo homem, atrai todo o gênero humano a Si, e o faz seu Corpo místico e desdobramento. Comunica-lhe a filiação Divina, tornando-se Irmão de todos e dando aos homens a sua vida que é o Espírito Santificador.

«Deus factus est homo ut homo fíeret Deus». Deus se fez homem para que o homem se tornasse Deus, diz admiravelmente Santo Agostinho.

Enquanto a festa de Natal se ocupa muito mais com o Menino-Deus, no berço, a segunda grande solenidade deste Tempo, a Epifania, descortina novos horizontes. Este Menino é o grande Rei, o Soberano que vem à terra fundar o seu reino na humanidade, na Igreja, no coração humano. Reis desta terra vêm adorar a Criancinha em seu presépio e, neste fato, a humanidade Lhe reconhece a Realeza suprema. Este Menino dominará as nações, pois no fim dos tempos reunirá os seus fiéis num reino celestial, reino de Deus, reino de eterna bem-aventurança. A Igreja procura intensificar estes mesmos sentimentos ainda depois da festa, nos domingos seguintes. Adoramos nos Cânticos de Entrada (Introito), o poder de Cristo-Rei sobre as criaturas animadas e inanimadas.

2. Quais devem ser as nossas disposições neste Tempo? Para as almas que se unem à vida da Igreja, que jubilosa quarentena! Isaías, que durante todo o tempo do Advento, foi o nosso guia, entoa este cântico de alegria no Ofício do Natal: «Levanta-te, ó Sião, reveste-te de tua força; compõe-te com os vestidos de tua glória, Jerusalém, cidade do Santo; sacode-te do pó, levanta-te, desata a cadeia do teu pescoço, cativa filha de Sião» (Isaías, 52). E S. Leão, explicando estes brados do profeta, exclama: «Meus caríssimos filhos, nasceu-nos hoje o Salvador; rejubilemo-nos. Para longe todo sentimento de tristeza: eis a aurora da vida. Exulte o Justo, porque a recompensa está perto; o pecador se alegre, eis o perdão; o pagão espere, eis a vida.»

Esta alegria fará nascer em nossos corações profundos sentimentos de gratidão para com Deus pela Encarnação de seu Filho Unigênito, gratidão que se manifestará pelo sincero desejo de desenvolver em nós, pela prática das obras evangélicas, a vida nova que Jesus trouxe ao mundo. Esperemos que ela sempre cresça e também cresça o Cristo em nós. Eis a obra do santo Sacrifício da Missa, pois o que aconteceu há quase (mais de) dois mil anos, repete-se ainda hoje: a Encarnação do Verbo divino, seu Nascimento no presépio de Belém. Na santa Missa, na santa Comunhão, une-se Jesus às nossas pessoas, escondido sob os véus das espécies eucarísticas, como outrora ocultou o esplendor de sua Divindade sob o humilde manto de sua humanidade. Nossa Belém é a Igreja! Nosso presépio é o Altar! Em nosso coração, que contempla e comunga, longe do tumulto mundano, Ele quer «tomar nova forma», quer ocupá-lo, imprimir-lhe o selo da adoção divina, transformá-lo em seu próprio coração. Pois Deus nos predestinou «conformar-nos com a imagem do Filho». E se somos filhos de Deus, também seremos seus herdeiros e coerdeiros de Jesus Cristo. É assim que não somente comemoramos e celebramos o Natal, como participamos do Nascimento de Jesus Cristo e dos frutos da Redenção da santa Missa, ao pé da Cruz.

3. Particularidades deste Tempo. A alegria deste Tempo manifesta-se por vários modos: a cor violácea dos tempos de penitência é substituída pelos ornamentos brancos; os órgãos, mudos no Advento, executam as suas mais jubilosas modulações e o Glória a Deus, ressoa de novo, trazendo-nos os ecos pacíficos do presépio. As melodias estão impregnadas de uma doce e comunicativa alegria, que se prolonga em toda a liturgia deste Tempo. As multidões, numa satisfação expansiva, reúnem-se nos templos, recordando por sua assistência às Matinas de Natal, a sincera piedade de antanho.

O Sacerdote celebra três Missas, em memória da tríplice geração do Verbo, que Santo Tomás assim explica: eterna no seio do Pai, temporal no da Virgem Santíssima e mística em cada um de nós.

(Fonte: livro Missal Quotidiano, D. Beda Keckeisen, OSB, Editora Beneditina Ltda, Salvador/BA, 1967, pp. 62-63 – Texto revisto e atualizado e alguns destaques acrescidos)

Sou Todo Teu Maria: “Foi pela Santíssima Virgem Maria que Jesus Cristo veio ao mundo, e é também por Ela que deve reinar no mundo.” (São Luis Maria de Montfort)