Devoção Mariana

15 DE SETEMBRO – COMEMORAÇÃO DAS SETE DORES DE MARIA OU COMEMORAÇÃO DE NOSSA SENHORA DAS DORES

15 DE SETEMBRO – COMEMORAÇÃO DAS SETE DORES DE MARIA OU COMEMORAÇÃO DE NOSSA SENHORA DAS DORES

Ó Maria, acolhei-me junto à Cruz e fazei-me participar convosco da Paixão de Jesus.

1 – A primeira declaração explícita da parte que Maria Santíssima havia de ter na Paixão de Jesus, encontramo-la na profecia do velho Simeão: «Uma espada trespassará a tua alma» (Lc. 2, 35); profecia que teve a sua plena realização no Calvário. «Sim, ó Mãe bem-aventurada, comenta S. Bernardo – verdadeiramente uma espada trespassou a vossa alma. Porque só passando por ela pôde penetrar na carne do vosso Filho. Depois que o vosso Jesus entregou o espírito, a lança cruel, abrindo-Lhe o lado, não chegou à Sua alma, mas trespassou a vossa. Com efeito, a Sua alma já lá não estava, mas a vossa não podia desprender-se dali» (BR.). Bela interpretação que nos faz compreender como Maria, enquanto Mãe, esteve intimamente associada à Paixão do Filho.

O Evangelho não nos diz que Maria tivesse estado presente nos momentos gloriosos da vida de Jesus, mas diz-nos que esteve presente no Calvário: «estavam de pé junto à cruz de Jesus Sua Mãe e … Maria, mulher de Cléofas e Maria Madalena» (Jo. 19, 25). Ninguém a tinha podido impedir de correr ao lugar onde o seu Filho havia de ser justiçado; o seu amor dá-lhe coragem para «estar» ali, direita, de pé, junto à cruz, para assistir à dolorosíssima agonia e morte d’Aquele a quem amava sobre todas as coisas, pois era ao mesmo tempo seu Filho e seu Deus. Do me$mo modo que um dia aceitou ser sua Mãe, agora aceita vê-lO martirizado dos pés à cabeça, aceita ver que lhe arrancam por uma morte cruel.

E não só aceita, mas oferece. Jesus tinha ido espontaneamente para a Paixão, e Maria oferece voluntariamente o seu Filho dileto para glória da Santíssima Trindade e salvação dos homens. O sacrifício de Jesus torna-se por isso o sacrifício de Maria, não só porque Maria oferece juntamente com Ele e n’Ele o Filho que lhe pertence, mas porque, com este oferecimento, a Virgem realiza o holocausto mais completo de si mesma, pois Jesus é o centro de todos os seus afetos, de toda a sua vida. Deus que lhe dera este Filho divino, pede-lhO agora no Calvário e Maria oferece-lhO com todo o amor do seu coração, com a mais inteira conformidade com a vontade divina.

2 – A liturgia de hoje põe nos lábios da Virgem dolorosa estas comovedoras palavras: «Ó vós que passais no caminho, parai e vede se há dor semelhante à minha dou (MR.). Sim, a sua dor é incomensurável, mas o seu amor é muito maior, tão grande que pode conter todo aquele mar de dor; de nenhuma criatura, como de Maria, se pode dizer que o seu amor é mais forte que a morte, pois, de fato, tornou-a capaz de suportar a dolorosíssima morte de Jesus. «Quem poderá ficar impassível ao contemplar a Mãe de Cristo sofrendo com o Filho?», canta o Stabat Mater, e prossegue: «Ó Mãe … fazei-me sentir a veemência da vossa dor, a fim de que chore convosco. Fazei que eu leve no meu coração as chagas de Cristo, fazei-me participante da Sua Paixão, fazei que eu seja inebriado pela cruz e pelo Sangue do vosso Filho». Respondendo ao convite da Igreja, contemplemos e compadeçamo-nos das dores de Maria, peçamos-lhe a grande graça de com Ela tomarmos parte na Paixão de Jesus. Lembremo-nos de que esta participação não deve ficar no campo do sentimento – embora sejam sentimentos bons e santos – mas deve conduzir-nos à verdadeira compaixão, isto é, a sofrer juntamente com Jesus e Maria. Para esse fim nos são dados os sofrimentos que encontramos na nossa vida.

A visão da Senhora ao pé da cruz torna-nos menos dura e amarga a lição da cruz; o seu exemplo maternal dá-nos coragem para sofrer, torna mais sua, e o caminho do Calvário. Vamos pois com Maria ao encontro de Jesus Cristo no Calvário, saiamos com Ela ao encontro da cruz e, amparados por Ela, abracemos voluntariamente essa cruz para a oferecermos ao Pai com a do seu Filho.

Colóquio «Ó Maria, santa Mãe de Jesus crucificado, dizei-me alguma coisa da Sua Paixão, porque entre todos os que estiveram presentes e mais que todos eles, a sentistes e vistes, pois a contemplastes com os olhos do corpo e da mente e a considerastes com toda a atenção, já que tanto O amáveis» (B. Ângela de Foligno).

«Ó Maria, deixai-me estar convosco junto à cruz; deixai-me contemplar convosco a Paixão do vosso Jesus; deixai-me participar da vossa dor e do vosso pranto. Ó Mãe Santa, gravai profundamente no meu coração as chagas do Crucificado, deixai-me sofrer com Ele e associai-me ao Seu e ao vosso padecimento.» (cfr. Stabat Mater).

«Ó Rainha das virgens, vós sois também Rainha dos mártires; foi o vosso coração que a espada trespassou, já que em vós tudo se passa no interior …

«Oh! como vos vejo bela, quando, durante o vosso longo martírio, vos contemplo tão serena, envolvida numa espécie de majestade que irradia ao mesmo tempo força e doçura! Vós tínheis aprendido do próprio Verbo como devem sofrer aqueles a quem o Pai escolheu como vítimas, a quem quis associar à grande obra da redenção, aqueles que ‘Ele conheceu e predestinou para serem semelhantes ao Seu Cristo’, crucificado por nosso amor.

«Vós estais aí, ó Maria, ao pé da cruz, de pé, forte e corajosa; e o Mestre diz-me: ‘Eis a tua Mãe’. Dá-vos a mim por Mãe! Agora que Ele voltou para o Pai, que me deixou em Seu lugar sobre a cruz, para que eu sofra em mim ‘aquilo que falta à Sua Paixão pelo Seu Corpo que é a Igreja, vós, ó Virgem, permaneceis aí para me ensinardes a sofrer como Ele, para me repetirdes, para me fazerdes ouvir os últimos cânticos da Sua alma que só vós, Sua Mãe, pudestes entender» (I.T. 11, 15).

Ó Mãe dulcíssima, para que o meu desejo de sofrer não seja vão, ajudai-me a reconhecer, em todos os sofrimentos quotidianos, a cruz do vosso Jesus e a abraçá-la com amor.

Abreviaturas:

(BR.)= Breviário Romano

(MR.)= Missal Romano

(I.T.)= Irmã Isabel da Trindade

(Fonte: livro Intimidade Divina Meditações Sobre a Vida Interior para Todos os Dias do Ano, Pe. Gabriel de Sta. Maria Madalena, OCD, Edições Carmelitanas, Porto-Portugal, 2ª edição/1967, pp. 508-511 – Texto revisto e atualizado e alguns destaques acrescidos)

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