Santo do Dia

17 DE SETEMBRO – SÃO ROBERTO BELARMINO, BISPO E DOUTOR DA IGREJA

São Roberto Belarmino, grande polemista e Doutor da Igreja

17 DE SETEMBRO – SÃO ROBERTO BELARMINO, BISPO E DOUTOR DA IGREJA

 

SÃO ROBERTO BELARMINO, GRANDE POLEMISTA E DOUTOR DA IGREJA

Um santo que estarreceu os protestantes pelo vigor polêmico com que lhes rebateu todos os erros

Diante das investidas dos protestantes, a Igreja Católica nunca permaneceu indiferente, nem resignada. Ela não se encerrou no bastião dos dogmas e dos cânones disciplinares do Concilio de Trento. A Igreja se nos afigura, nesse contexto histórico, como uma praça sitiada.

Teólogos e exegetas se esmeram em refutar os erros protestantes. No plano das ideias, como no das armas, a contraofensiva da ortodoxia católica foi vigorosamente conduzida.

Os protestantes começavam a utilizar a imprensa: múltiplas edições de suas obras ajudavam-nos a difundir bastante os seus erros. Seus panfletos e tratados circulavam por toda parte, causando grande prejuízo às almas.

No momento em que o Concílio de Trento encerrava seus trabalhos, dispunham eles de uma espécie de suma anticatólica monumental, chamada As Centúrias de Magdeburgo, cujo autor, Flacius Illyricus, expondo o conjunto das doutrinas luteranas, pretendia explicar a história do mundo pelo jogo infernal do Anticristo, isto é, o Papa!

Essa péssima literatura encontrou imitadores. No Catálogo dos Testemunhos da Verdade, por exemplo, lia-se que em certos conventos de freiras tinha-se encontrado seis mil cabeças de crianças imoladas! Na obra Stupenda Jesuítica, os membros da Companhia de Jesus eram todos apresentados como assassinos profissionais entregues a uma vida debochada.

Não era possível deixar sem resposta todas essas obras.

Defensor da Fé

Dentre os numerosos santos suscitados pela Providência, no século XVI, para promoverem a verdadeira reforma religiosa na Europa e combaterem a pseudo-reforma protestante, São Roberto Belarmino, cuja festa a Igreja celebra a 17 de setembro, surge como um prodígio da natureza e da graça.

Escritor fecundo, convincente, polemista invicto, o grande jesuíta foi o mais terrível adversário que, no campo doutrinário, os hereges de sua época tiveram de enfrentar.

De tal maneira suas obras de apologética eram eficazes e obtinham incontáveis conversões, que Isabel I, rainha protestante da Inglaterra, proibiu que as estudassem todos os que não fossem doutores em Teologia.

Mestre das controvérsias

Nascido em Montepulciano, na Toscana (Itália), a 4 de outubro de 1542, ingressou São Roberto Belarmino na Companhia de Jesus aos 18 anos. Pregador emérito aos 21 e aos 27 anos, foi professor de Teologia na Universidade de Louvain, na Bélgica, para onde o enviara o Geral da Companhia, São Francisco de Borgia, em 1569, como Pregador contra o protestantismo nos Países Baixos. O futuro Doutor da Igreja foi logo depois e durante doze anos, encarregado de reger, no Colégio Romano, a recém-criada cátedra de Controvérsias.

Obrigado pelo seu superior a escrever suas aulas, o fruto de seu magistério nesse período resultou nas famosas “Controvérsias”, obra na qual o combativo jesuíta ofereceu à Santa Igreja um arsenal contra todas as heresias nascentes.

Esse enorme Tratado latino, logo traduzido em diversas línguas, com uma objetividade excepcional expunha, ponto por ponto, as doutrinas de Lutem, Calvino e outros heresiarcas, opondo­-lhes a verdadeira doutrina católica. Consistia ele em um autêntico arsenal doutrinário, depositado nas mãos dos pregadores e professores, a fim de que eles pudessem servir-se dos melhores argumentos para refutar as asserções e as teses dos adversários da Fé

As Três Controvérsias

1606-1607 –– A controvérsia veneziana resultava do ódio anti-romano de Paulo Sarpi. Seus erros, bem como o dos hereges venezianos seus sequazes, foram rebatidos por São Roberto Belarmino.

1607-1609 –– A controvérsia anglicana foi suscitada pelo juramento anti-papal imposto em 5 de julho de 1606 pelo rei Jaime 1, da Inglaterra, aos seus súditos católicos. No dia 22 de setembro, o Papa declarou ilícito tal ato. Mas o arcipreste Blackwell recusou-se a publicar o breve pontifício.

O monarca voltou a intervir polemicamente no assunto. Em 1608 fez ele circular uma obra anônima à qual São Roberto Belarmino respondeu sob o pseudônimo de Matteo Torti. Ao que Jaime I treplicou, fazendo uma apologia do direito divino do rei. O Santo e mais dois cardeais romanos rebateram-na, encerrando definitivamente a polêmica.

1610-1613 –– A controvérsia galicana originou-se com a publicação póstuma e anônima da obra do jurista católico

Guilherme Barclay: De potestate papae (O poder do Papa , Londres, 1609), na qual o autor propugnava a absoluta independência do poder civil em relação ao eclesiástico, negando qualquer poder, mesmo indireto, do Romano Pontífice em assuntos temporais.

Na sua tirada anti-papal, Barclay atacava particularmente a obra De Romano pontífice, de São Roberto Belarmino.

O Cardeal refutou magistralmente a obra do extinto jurista, fornecendo novos esclarecimentos sobre a doutrina do poder indireto, considerados a melhor expressão do pensamento católico sobre a matéria.

A obra de São Roberto Belarmino, apresentada no Parlamento de Paris, foi proibida em 10 de novembro de 1610. A oportuna e enérgica intervenção do Papa Paulo V e uma carta do Santo à regente Maria de Medicis lograram fazer suspender a proibição.
Insigne pastor de almas

Insigne pastor de almas

Diretor espiritual do Colégio Romano, do qual veio a ser Reitor, orientou um célebre noviço: o futuro São Luiz Gonzaga. Manteve também regular correspondência com o famoso Bispo de Genebra, São Francisco de Sales, que se tomaria mais tarde também insigne Doutor da Igreja.

São Roberto foi encarregado pelos Papas de empreender diversas missões diplomáticas delicadas, nas quais sempre defendeu, de modo exímio, a ortodoxia e o Primado de Pedro.

Cardeal em 1599 e Arcebispo de Cápua em 1602, ingressou depois o já famoso Purpurado na Corte Pontifícia, onde participou de diversas Congregações, como a do Santo Ofício, a da Propagação da Fé – que juntamente com Jean de Vendeville, teve a ideia de sugerir a criação -, a do Index, a dos Ritos etc.

Em Cápua, o Santo deu provas de excelentes qualidades pastorais, na pregação, no ensino do Catecismo, nas relações com o seu Clero, para o qual escreveu, em 1604, uma esplêndida “Explicação do Credo”.

Suas obras, especialmente as “Controvérsias”, alcançaram repercussão universal e ocasionaram inúmeras conversões. Escreveu também um catecismo para tonar acessível ao povo o conhecimento das verdades essenciais de nossa Fé. Essa obra, somente durante a vida do Santo, foi traduzida para 40 idiomas.

São Roberto Belarmino (suas relíquias na igreja de Santo Inácio, Roma)

Ardente defensor dos direitos da Santa Sé

Polemista combativo e incansável, suas obras apologéticas ultrapassam os limites da natureza humana e não se explicam sem um grande e contínuo auxílio sobrenatural. Para falar só de uma – as já citadas Controvérsias -, diziam muitos protestantes não constituir ela trabalho de um só homem mas de todos os jesuítas, sob o pseudônimo de “Belarmino”.

Os sermões e as aulas do santo eram avidamente anotados pelos estudantes, que os faziam publicar, sendo depois esta produção intelectual disputada até em países protestantes, como a Inglaterra, Alemanha e Holanda.

Defensor zeloso da Santa Sé, São Roberto Belarmiino sustentou polêmica com a República de Veneza [ver “As três Controvérsias”], em defesa do Papa. Refutou também um livro de Jaime I, no qual o monarca inglês procurava justificar um juramento de fidelidade de seus súditos, contrário à autoridade pontifícia [ver quadro “As três Controvérsias”].

Estando a Universidade da Sorbonne, na França, eivada de galicanos, isto é de pessoas que sobrepunham os interesses da França aos da Igreja e da Santa Sé, publicou aquela instituição de ensino uma obra de Guilherme Baclay, repleta de idéias propugnando autonomias religiosas em relação a Roma. A pedido do Papa, São Roberto Belarmino refutou tal livro com tanta erudição e lógica, que o trabalho do santo foi considerado seu mais valioso escrito, após as Controvérsias [ver box ‘As três Controvérsias”].

São Roberto Belarmino faleceu em 1621, aos 79 anos de idade. Entretanto, por razões várias (*), só foi beatificado em 1923 e canonizado em 1930, sendo um ano depois, declarado Doutor da Igreja.

Breve cronologia

4 de outubro de 1542 –– nascimento em Montepulciano, na Toscana (Itália).

1558 –– Pede ao Pe. Laínez, superior dos jesuítas, para ingressar na Companhia de Jesus.

21 de setembro de 1560 –– ingresso na Companhia de Jesus. 1569 – O geral da Companhia, São Francisco de Borgia, envia-o para a Universidade de Louvain, na Bélgica, como pregador contra os erros protestantes nos Países Baixos.

25 de março de 1570 –– Ordenação sacerdotal.

1575 a 1588 –– Catedrático da Cátedra das Controvérsias, no Colégio Romano.

1589 –– Enviado a Paris como teólogo do legado pontifício, Cardeal Galeano.

1590 –– É nomeado diretor espiritual do Colégio Romano.

21 de junho de 1591 –– Como diretor espiritual, assiste no leito de morte a São Luiz Gonzaga.

1592 – Na qualidade de Reitor do Colégio Romano assiste à V Congregação Geral da Companhia, onde propõe, com aceitação unânime, a adoção em seus cursos da Teologia de Santo Tomás de Aquino.

1595 –– É nomeado Provincial da Companhia, em Nápoles. 1597 – Por indicação do Cardeal Baronio, discípulo de São Felipe Neri, é nomeado teólogo do Papa Clemente VIII; consultor do Santo Ofício e examinador dos Bispos.

3 de março de 1599 –– Clemente VIII cria-o Cardeal de Santa Praxedes.

21 de abril de 1602 –– O Papa Clemente VIII sagra~ Bispo e o nomeia Arcebispo de Cápua.

17 de setembro de 1621 –– falecimento em Roma. 29 de junho de 1930 – Canonizado por Pio XI.

17 de setembro de 1931 –– Declarado Doutor da Igreja.

(*) Tido como santo já em vida, a causa de beatificação de São Roberto Belarmino teve início no ano seguinte à sua morte, mas não se concluiu senão em 1923. O enorme atraso se deveu a uma série de circunstâncias históricas, entre as quais a animosidade da corte galicana e o não breve período da supressão da Companhia de Jesus. A heroicidade das suas virtudes foi proclamada por Bento XV em julho de 1920.

 

 

(Fonte: revista Catolicismo, nº 513, Setembro/1993, Vida dos Santos)

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