Catolicismo

2 DE NOVEMBRO – COMEMORAÇÃO DOS FIÉIS DEFUNTOS

O mês de Novembro também é dedicado às Almas do Purgatório.

2 DE NOVEMBRO – COMEMORAÇÃO DOS FIÉIS DEFUNTOS

Ontem vimos que a Igreja triunfante do céu*, a Igreja militante da terra e a Igreja sofredora do purgatório, paciente, nada mais são que uma só e a mesma Igreja; que a caridade, mais forte que a morte, as uniu do céu à terra, e da terra ao purgatório. São como as três partes de uma só e mesma procissão de santos, procissão que avança da terra ao céu.

* A solenidade de Todos os Santos é celebrada pela Igreja no dia 1º de Novembro, porém, no Brasil, essa solenidade ocorre no domingo subsequente, ou seja, será no próximo domingo, dia 7.

As almas do purgatório participarão daquela procissão um dia. Sim, porque ainda não têm, bem brancas, as vestimentas de festa, a roupa nupcial ainda guarda nódoas, aquelas nódoas que somente o sofrimento limpa.

Vimos, então, como os contemporâneos de Noé, aqueles que não fizeram penitência senão no momento do dilúvio, foram encerrados em prisões subterrâneas, até que Jesus Cristo lhes aparecesse, anunciando-lhes a libertação, quando de sua descida aos infernos.

Como os fiéis da Igreja triunfante, os fiéis da Igreja militante e os fiéis da Igreja sofredora e paciente, são membros de um mesmo corpo – que é Jesus e tanto uns como outros participam, interessam-se, condoem-se da glória, dos perigos, dos sofrimentos de uns e de outros, tal qual os membros do corpo humano. Vejamos um exemplo: o pé está em perigo de saúde ou sofre dores: todos os membros do corpo jazem em comoção. Os olhos olham-nos as mãos protegem-no, a voz chama por socorro, para afastar o mal ou o perigo. Uma vez afastado o mal, regozijam-se todos os membros do corpo.

É o que acontece com o corpo vivo da Igreja universal. E vemos os heróis da Igreja militante, os ilustres Macabeus, assistidos pelos anjos de Deus e pelos santos de Deus, especialmente pelo grande sacerdote Onias e pelo profeta Jeremias, rogar e oferecer sacrifícios por esses irmãos que estavam mortos pela causa de Deus, mas culpados desta ou daquela falta.

No dia seguinte, depois duma vitória, Judas Macabeu e os seus surgiram para retirar os mortos e depositá-los no sepulcro dos antepassados, e encontraram sobre as túnicas dos que estavam mortos coisas que haviam sido consagradas aos ídolos de Jamnia, que a lei proibia aos judeus tocar. Foi, pois, manifesto a todos que era por isso que haviam sido mortos. E todos louvaram o justo julgamento do Eterno, que descobre o que está escondido, e suplicaram-lhe que fosse esquecido o pecado cometido.

Judas exortou o povo a que se preservasse do pecado, tendo diante dos olhos o que viera pelo pecado dos que haviam sucumbido. E, depois de ter feito a coleta, enviou a Jerusalém duas mil dracmas de prata, para que fosse oferecido um sacrifício pelo pecado dos mortos, agindo muito bem, pensando que estava na ressurreição. Porque se não tivesse esperança de que os que vinham de sucumbir ressuscitassem um dia, seria supérfluo e tolo rogar pelos mortos.

Judas, porém, considerava que uma grande misericórdia estava reservada aos que estão adormecidos na piedade. Santo e piedoso pensamento! Foi por isso que ofereceu um sacrifício de expiação pelos defuntos, para que fossem livres dos pecados.

Santa Francisca Romana (imagem: blog Catholic Restoration).

Tais são as palavras e reflexões da Escritura santa, segundo o texto grego, e as mesmas, mais ou menos, no latino. Nosso Senhor mesmo adverte, bastante claramente, que há um purgatório, quando nos recomenda em São Mateus e São Lucas: “Conciliai-vos com vossos inimigos (a lei de Deus e a consciência ) enquanto estais em caminho para irdes ao príncipe, não seja que este inimigo vos entregue ao juiz, o juiz ao executor, e que sejais metido numa prisão. Em verdade vos digo, dela não saireis, enquanto não pagardes o último óbolo”.

Segundo essas palavras, está bem claro que há uma prisão de Deus, onde se é arrojado por dívidas para com sua justiça, e de onde não se sai senão quando tudo estiver pago.

Nosso Senhor, em São Mateus, disse-nos, ainda: “Todo pecado e blasfêmia será perdoado aos homens, porém, a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada, nem neste século nem no futuro”. Onde se vê que os outros pecados podem ser perdoados neste século e no futuro, como o livro dos Macabeus diz expressamente dos pecados daqueles que estavam mortos pela causa de Deus.

Do mesmo modo, no sacrifício da missa, a santa Igreja de Deus lembra os santos que com Ele reinam no céu, a fim de lhes agradecer pela glória e nos recomendar à sua intercessão. Doutro lado, suplica a Deus que se lembre dos servidores e servidoras que nos precederam no outro mundo com a chancela da fé, dignando-se conceder-lhes a estadia no refrigério, na luz e na paz.

A crença do purgatório e a oração pelos mortos acham-se em todos os doutores da Igreja, bem como nos atos dos mártires, notadamente nos atos de São Perpétuo, escritos por ele mesmo.

Todos os santos rogaram pelos mortos. Santo Odilon, abade de Cluny, no século XI, tinha um zelo particular pelo que dizia respeito ao refrigério das almas do purgatório. Foi movido pela compaixão, pensando no sofrimento das almas do purgatório que, adiantando-se à Igreja, ordenou se rogasse pelas almas, tendo destinado para isso um dia especial. Eis como Santo Odilon animou tal instituição, começando pelas terras que lhes estavam afetas ao sacerdócio.

Um peregrino do território de Rodèz, vindo de Jerusalém, foi obrigado, por uma tempestade a desembarcar numa ilha das costas da Sicilia. Foi, então, visitar um santo ermitão, que lhe perguntou se conhecia o mosteiro de Cluny e o abade Odilon.

“- Sim, respondeu ao santo ermitão, o peregrino, eu o conheço”.

E, por sua vez, intrigado com a pergunta, inquiriu:

“- Por que desejas saber?”

E o ermitão respondeu:

“- É que, próximo do mosteiro, há um lugar que vomita fogo, onde os demônios atormentam, em determinado tempo, as almas dos pecadores.

E, olhando as lonjuras, continuou:

“- Penso que, com esmolas e orações poderemos livrar essas almas dos tormentos. As esmolas e as orações espantam os espíritos malignos, principalmente as esmolas e as orações de Odilon e seus religiosos”.

E pediu:

“- Quando por lá passares de volta de teu país, rogo-te, em nome de Deus, que exortes o abade e os monges de Cluny para que redobrem as orações e as esmolas, Só assim, nós, aqui na terra, conseguiremos livrar as pobres almas atormentadas”.

O peregrino, ao voltar, desobrigou-se da missão que lhe confiara o santo ermitão.

Desde então surgiu, ordenado por Santo Odilon, a comemoração, em todos os mosteiros de Cluny, do dia dos mortos, todos os dias dois de novembro. Ordenava que, como a Igreja lembra numa festa todos os santos, assim se lembrasse também, num dia especial, e esse seria o dia seguinte ao dos santos, dos fiéis finados.

Segundo a ordem, que se desse pão aos pobres, e vinho. O deão e o despenseiro estavam assim autorizados. E, após as segundas vésperas de Todos os Santos, soassem todos os sinos, seguindo-se a cerimônia. Missas, então, eram celebradas pelos finados fiéis. Daí o uso de soarem os sinos pelos mortos.

Quanto ao purgatório, nada de certo se sabe. Eis, porém, o que se lê nas revelações de Santa Francisca de Roma, revelações que a Igreja autoriza a crer, sem, entretanto, a elas nos obrigar.

Numa visão, a santa foi conduzida do inferno ao purgatório, que, igualmente, está dividido em três zonas ou esferas, uma sobre a outra.

Ao entrar, Santa Francisca leu esta inscrição:

Aqui é o Purgatório, lugar de esperança, onde se faz um intervalo“.

A zona inferior é toda de fogo claro, diferente da do inferno, que é negro e tenebroso. Este do purgatório têm chamas grandes, muito grandes e vermelhas. E as almas ali são iluminadas, interiormente, pela graça. Porque conhecem a verdade, assim como a determinação do tempo.

Aqueles que têm pecado grave são enviados a este fogo pelos anjos, e aí ficam conforme a qualidade dos pecados que cometeram.

A Santa dizia que, por cada pecado mortal não expiado, naquele fogo, ficaria a alma por sete anos.

Embora nessa zona ou esfera inferior as chamas do fogo envolvam todas as almas, atormentam, todavia, umas mais que as outras, segundo sejam mais graves ou mais leves os pecados.

Fora desse lugar do purgatório, à esquerda, ficam os demônios que fizeram com que aquelas almas cometessem os pecados que agora expiam. Censuram-nas, mas não lhes infligem quaisquer outros tormentos.

Pobres almas! Fá-las sofrer mais, muito mais, a visão desses demônios do que o próprio fogo que as envolve. E, com tal sofrimento, gritam e choram, sem que, neste mundo, consiga alguém fazer uma ideia. Fazem-no, contudo, humildemente, porque sabem que o merecem, que a justiça divina está com a razão, São gritos como que afetuosos, e que lhes trazem certa consolação. Não que sejam afastadas do fogo. Não, a misericórdia de Deus, tocada por aquela resignação das almas sofredoras, lança-lhes um olhar favorável, olhar que lhes alivia o sofrimento e lhes deixa entrever a glória da bem-aventurança, para onde passarão.

Santa Francisca Romana viu um anjo glorioso conduzir àquele lugar a alma que lhe havia sido confiada à guarda, e esperar do lado de fora, à direita. É que os sufrágios e as boas obras que os parentes, os amigos, ou quem quer que seja, lhes fazem especialmente por intenção da alma, movidos pela caridade, são apresentados, pelos anjos da guarda, à divina Majestade. E os anjos, comunicando às almas o que por elas nós fazemos, aliviam-nas, alegram e confortam. Os sufrágios e as boas obras que fazem os amigos, por caridade, especialmente pelos amigos do purgatório, aproveita principalmente a quem os faz, por causa da caridade. E ganham as almas e ganhamos nós.

As orações, os sufrágios e as esmolas feitos caridosamente pelas almas que já estão na glória, e que já não necessitam, revertem às almas ainda necessitadas, aproveitando a nós também.

E os sufrágios que se fazem às almas que jazem no inferno? Não os aproveita nem uma nem outra – nem as do inferno, nem as do purgatório, mas unicamente a quem os faz.

A zona ou região média do purgatório está dividida em três partes: a primeira, cheia de uma neve excessivamente fria; a segunda, de pés fundido, misturado a azeite em ebulição; a terceira, de certos metais fundidos, como ouro e prata, transparentes. Trinta e oito anjos aí recebem as almas que não cometeram pecados tão graves que mereçam a região inferior. Recebem-nas e transportam-nas dum lugar a outro com grande caridade: não lhes são os anjos da guarda, mas outros que, para tal, foram obrigados pela divina misericórdia.

Santa Francisca nada disse, ou não a autorizou a dizê-lo o superior, sobre a mais elevada região do purgatório.

Nos céus, os anjos fiéis têm sua hierarquia: três ordens e nove coros. As almas santas, que sobem da terra, ficam nos coros e nas ordens que Deus lhes indica, segundo os méritos. E uma festa para toda a milícia celeste, mais particularmente para o coro onde a alma santa deverá regozijar-se eternamente em Deus.

O que Santa Francisca viu na bondade de Deus a deixou profundamente impressionada, sem que pudesse falar da alegria que lhe ia no coração. Frequentemente, nos dias de festa, sobretudo depois da comunhão, quando meditava sobre o mistério do dia, o espírito, arrebatado ao céu, via o mesmo mistério celebrado pelos anjos e pelos santos.

Todas as visões que tinha, submetia-as Santa Francisca de Roma à mãe, a Santa Igreja. E pela mesma mãe, a Igreja, foi Francisca canonizada, sem que nada de repreensível se achasse nas visões que tivera.

Nós, pois, vos saudamos, ó almas santas que vos purificais nas chamas do purgatório. Compartilhamos as vossas dores, os sofrimentos, principalmente daquela dor imensa e torturante de não poderdes ver a Deus.

Ai de nós! Sem dúvida que há entre vós parentes nossos e amigos: sofrerão, talvez, por nossa culpa. Quem dirá que não lhes demos, nesta ou naquela ocasião, motivos de pecar? Falta-lhes pouco tempo para que se tornem inteiramente puras. Que nos acontecerá, a nós que tão pouco velamos por nós mesmos? Almas santas e sofredoras, que Deus nos livre de vos esquecer jamais! Todos os dias, à missa e às orações, lembrar-nos-emos de vós todas. Lembrai-vos, pois, também de nós. Lembrai-vos, principalmente, quando estiverdes no céu. Como Iá vos desejamos ver! Como no céu desejamos ver-nos convosco! Assim seja.

☞ NOTA: Orações pelos fiéis defuntos, acesse este link: https://soutodoteumaria.com.br/oracoes-pelos-fieis-defuntos/

(Fonte: in Vida dos Santos, Editora das Américas, Vol. XIX, Padre Rohrbacher, 1959, pp. 129-137 – Texto revisto e atualizado e destaques acrescidos)

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